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Bolsonaro diz que ministros Salles e Pazuello seguem no governo

Do UOL, em São Paulo

16/07/2020 20h04Atualizada em 17/07/2020 00h57

Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, e Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, seguirão no governo. O presidente da República defendeu a frase dita por Salles na reunião ministerial de 22 de abril, na qual o ministro falou sobre aproveitar o foco no noticiário do coronavírus para "passar a boiada".

"Salles fica, Pazuello fica, sem problema nenhum. São dois excepcionais ministros. A gente lamenta a reunião reservada, onde não se mede palavras, e o Salles falou em 'passar a boiada'. Ele quer desregulamentar muita coisa, não é permitir ninguém cometer crime. (...) São os homens do campo que garantem a economia, com 4 meses seguidos de recorde de exportação no porto de Santos com produtos que vêm do campo", comentou Bolsonaro.

A declaração do presidente sobre Pazuello contradiz o que foi afirmado por Hamilton Mourão ontem, ao UOL Entrevista: o vice-presidente disse acreditar que o interino deixaria a Saúde em agosto. "Pazuello assumiu interinamente e está há dois meses na função. Acredito que em mais um mês, em agosto, Bolsonaro vai retornar da quarentena e analisar outros nomes", afirmou Mourão ao colunista do UOL, Tales Faria, e ao repórter Antonio Temóteo.

Na live realizada hoje no Facebook e no YouTube, Bolsonaro foi além nos elogios a Ricardo Salles e disse que o ministro só deixará o comando do Meio Ambiente se desejar.

"Ricardo Salles fica a não ser que queira sair. Está fazendo um excepcional trabalho. Sem ministro, [fiscal] acha que mostra trabalho com aplicação de multa. Multa é o último caso. Primeiro, orienta. Falam que ele desmontou a máquina de fiscalização. Desmontou nada, mas está fazendo a coisa certa. Não pode um produtor rural ter pavor de receber fiscal. Foi o que fizemos no Brasil, que é seguir a lei", declarou o presidente.

Elogios a Pazuello e críticas a Mandetta

Além de elogiar o trabalho do general Pazuello à frente da Saúde, Bolsonaro criticou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido em abril, em decorrência das medidas que defendeu no combate à pandemia da covid-19.

"Ele [Pazuello] está indo muito bem lá. Prefeitos e governadores estão sendo prontamente atendidos. Eles pedem cloroquina, e o Pazuello faz uma análise. (...) Se fizer enquete, é positivo. Sei que ele não é médico. Agora, o que está pesando muito mais é que ele é um gestor. Seria excelente ter um médico e gestor, mas é difícil coordenar essa duas funções."

Já em relação ao seu primeiro ministro da Saúde — Nelson Teich foi o segundo e pediu demissão) —, o presidente disse que ele semeava pânico. "Lembra do Mandetta dizendo: 'vamos achatar curva [de contaminação por covid-19]', 'teremos caminhão do Exército pegando corpos na rua'... Semeava pânico."

E também criticou a posição do médico em relação à cloroquina. "Tem que tomar [a cloroquina] no início. Tinha o protocolo anterior do 'seu' Mandetta que só podia usar cloroquina em paciente grave. Em caso grave não funciona", disse o presidente.

Bolsonaro é alvo de uma representação que pede apuração de ato de improbidade administrativa, por incentivar e determinar o aumento de produção de uma substância cuja eficácia é rejeitada por cientistas. A representação apresentada pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) contra Bolsonaro foi feita à Procuradoria-Geral da República.

Na semana passada, a OMS (Organização Mundial da Saúde) reafirmou que a substância é ineficaz no tratamento da covid-19. Soumya Swaminathan, cientista-chefe do órgão, explicou o motivo de os ensaios com a hidroxicloroquina terem sido suspensos. "Todo nosso trabalho faz parte de um processo bem estabelecido, claro que estamos melhorando este processo. Fazemos uma revisão sistemática das evidências e isso demora, pois temos um grande número de estudos. Interrompemos o ensaio da hidroxicloroquina pela segurança, já que não podemos colocar a vida das pessoas em risco. Temos evidências suficientes para saber que não há nenhum impacto para pacientes hospitalizados com covid-19", disse ela.

No mês passado, o Hospital Israelita Albert Einstein, um dos mais respeitados no país, informou que "não recomenda" que médicos tratem pacientes da instituição com cloroquina.

O documento, assinado pela direção do hospital, afirma que não há evidências de que o medicamento reduz a mortalidade e o tempo de internação ou evite o uso de ventilação mecânica em pacientes graves. Também argumenta que possíveis benefícios da cloroquina não superam seus riscos.

"Passar a boiada", disse Salles

Em entrevista concedida ao UOL em 25 de maio, Salles explicou o que queria dizer com "passar a boiada" e mudar normas e reforçou que o momento da pandemia permitiria mudanças de forma mais "serena".

"Neste momento, o que eu disse na reunião, quando há menos tensão e mais atenção à covid-19, você pode fazer essas mudanças de forma serena, mais equilibrada", afirmou.

Em determinado momento, o ministro justificou que não quis dizer que a pandemia seria uma "oportunidade" para modificar normas, mas que o foco da imprensa na covid-19 poderia evitar o que ele chama de "polêmicas".

"Eu não disse que pandemia é uma oportunidade. O que eu disse é que a forma como a imprensa tem feito a cobertura... Não tenho problema nenhuma sobre a cobertura da imprensa. Mas o volume de crítica, o nível de manipulação, isso atrapalha enormemente. Não é cobertura justa. É militância. E isso atrapalha muito", criticou.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.