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Boulos diz que Bolsonaro é genocida, mas não cai porque "comprou" Centrão

Do UOL, em São Paulo

21/07/2020 16h57

Pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos avaliou o cenário da política nacional em sua participação no UOL Entrevista. Para Boulos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um "genocida", mas se mantém no poder porque "comprou uma parcela do Centrão", em referência a um conjunto de parlamentares conhecido por aderir a governos de diferentes ideologias na história recente.

"Bolsonaro cometeu crimes eleitorais —processo que nós entramos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela cassação da chapa e que está sendo julgado agora—, cometeu crimes de responsabilidade e tem inúmeros processos de impeachment. Existem razões jurídicas e políticas mais do que suficientes para poder tirá-lo. Nós estamos com 80 mil mortos (por covid-19), e o cara vai fazer um culto à cloroquina, contaminado por coronavírus", disse Boulos em entrevista à colunista Maria Carolina Trevisan.

Esse cara [Bolsonaro] é um genocida, não tem outra palavra para dizer isso.

Para o político do PSOL, derrotado na campanha presidencial de 2018, "o custo" da presidência de Bolsonaro "é imenso para o Brasil" e "se mede por vidas e empregos".

O Bolsonaro tem que sair. E por que não saiu até agora? Porque ele, o cara que 'iria mudar tudo o que está aí', comprou uma parcela do Centrão e conseguiu ter a fidelidade de uma parte dos partidos na Câmara que impedem a aprovação de um processo de impeachment.

"Bolsonaro está se encostando no Centrão para continuar fazendo o governo mais desastroso da história brasileira. Mas passando a pandemia, em um cenário que possa ter mobilizações sociais junto com tudo o que a gente já construiu, eu tenho dúvida se ele termina o mandato", acrescentou.

Cracolândia

Citando os problemas da cidade de São Paulo, Boulos afirmou que a chamada 'Cracolândia', região que foi apelidada por conta da concentração de dependentes químicos, é um problema de saúde pública, não de polícia. A gestão da chapa de João Doria (PSDB) e Bruno Covas (PSDB) foi muito criticada pelas ações na região, que envolviam policiais da Tropa de Choque e o uso de bombas de gás lacrimogêneo.

Ele afirmou que vê com bons olhos o programa "De Braços Abertos", criado pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), com foco em redução de danos e assistência social aos dependentes. O programa não foi levado adiante pela chapa que venceu o pleito em 2016.

"Historicamente, a Cracolândia foi tratada como um problema de segurança pública. (...) Temos que tirar dessa lógica e colocar inteiramente na lógica de saúde pública e assistência social. É dessa maneira que eu vejo a forma de tratar a dependência química", disse Boulos.

Ele afirmou ainda que a política para moradores em situação de rua tem de "dar dignidade" às pessoas. "Muitas vezes a situação no albergue é pior [do que na rua]", disse.

Críticas à esquerda

Boulos disse ter "respeito" aos governos do PT, incluindo na prefeitura, mas citou limites estruturais nas mudanças que o partido tentou encampar. Ele afirmou que um dos erros foi não ter feito um enfrentamento mais severo dos privilégios históricos na sociedade, citando o sistema tributário regressivo (onde os pobres pagam mais impostos e os ricos, menos).

"Um dos erros é aquele que Pepe Mujica [ex-presidente uruguaio] reconheceu em relação aos governos progressistas da América Latina como um todo. (...) Nós formamos consumidores, e não cidadãos. Ou seja, melhorou a condição econômica dos mais pobres, o que é importante e essencial, mas não houve um processo de politização, uma mudança de valores da sociedade", disse Boulos.

Estamos pagando o preço de não ter feito uma disputa de valores na sociedade. [Apostamos em] Uma lógica de consumo desenfreado, reforçando a meritocracia individual, como se as pessoas pudessem ascender por si próprias. Esse foi um dos erros.

Pobre morando no centro

Na entrevista, Boulos defendeu que uma política que deixe a capital paulista "democrática" e permita moradia nas regiões centrais à população mais pobre. O psolista defendeu uma "revolução solidária" na cidade, propondo uma mudança no modelo de funcionamento da capital. "Precisamos colocar a solidariedade como princípio organizador da cidade", disse.

A vida das pessoas precisa estar acima do lucro, a cidade não é pra dar lucro.

Ele também afirmou que é preciso combinar uma ação imediata de acolhimento e uma política de desapropriação de imóveis abandonados na região central de São Paulo.

Nós temos 25 mil moradores de rua em São Paulo e 40 mil imóveis abandonados só no centro expandido da cidade, em situação ilegal há 20, 30 anos que ajudam, inclusive, a criar uma situação de deterioração no centro.

O pré-candidato disse que quer apostar na valorização da economia na periferia da cidade, mas citou que reduzir as distâncias entre os trabalhadores e seus empregos é fundamental para eliminar problemas com transporte em São Paulo.

"Nós queremos pobre morando no Centro e vamos construir uma cidade democrática. A lógica 'pobre mora na periferia e emprego está concentrado no Centro' é que produz essas grandes distâncias, essas grandes viagens. Se a pessoa puder morar perto do trabalho, você não vai ter 2h num ônibus superlotado", disse Boulos.