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A relação da rachadinha com loja de chocolate de F. Bolsonaro segundo o MP

Flávio e Jair Bolsonaro na inauguração da franquia da Kopenhagen - Reprodução/internet
Flávio e Jair Bolsonaro na inauguração da franquia da Kopenhagen Imagem: Reprodução/internet

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

14/08/2020 21h19

A loja da rede de chocolates Kopenhagen comprada pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que já foi alvo de mandados de busca e apreensão e quebras de sigilo, está no cerne das investigações do esquema de rachadinha de seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). O estabelecimento volta à berlinda após revelação da TV Globo de que o antigo dono foi ameaçado após denunciar que os produtos estavam sendo vendidos com valores abaixo da tabela.

Flávio justifica sua evolução financeira e patrimonial —na mira do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro)— com os lucros dessa empresa. Para a Promotoria, a loja localizada em um shopping da Barra da Tijuca (zona oeste do Rio) lavou R$ 1,6 milhão —parte dessa quantia teria sido depositada na conta bancária da empresa entre 2015 e 2018 após supostamente ser recolhida pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, preso no Rio, a partir do esquema de rachadinha.

Segundo as investigações, o dinheiro saía da loja para Flávio sob a forma de uma fictícia divisão de lucros, que desrespeitava a participação societária do senador e do sócio Alexandre Santini —o MP suspeita que Santini seja um laranja.

Para o MP, o estabelecimento funcionava como "conta de passagem". "Créditos espúrios retornaram a Flávio Bolsonaro travestidos sob a forma de distribuições de lucros fictícios", afirmaram os promotores no pedido de buscas feito à Justiça no ano passado.

Em janeiro de 2019, Flávio citou suas atividades empresariais como fonte de seu patrimônio em entrevista à RedeTV!.

"Sou empresário. Eu movimento no ano, recebo no ano, do lucro desta minha empresa, muito mais do que eu recebo como deputado. No comércio, você pega dinheiro", afirmou, em referência a movimentações com valores em espécie.

"A origem [dos recursos investigados] é a minha empresa e o imóvel que eu vendi, no valor de R$ 2,4 milhões. Você acha que, se fosse um dinheiro ilícito, eu ia depositar na minha conta?", questionou.

Porém, relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) divulgado pela revista Veja contradiz a versão do senador para explicar seus ganhos financeiros. O documento apontou R$ 632 mil de movimentação atípica de Flávio entre agosto de 2017 e janeiro de 2018. Segundo o RIF (Relatório de Inteligência Financeira), o hoje senador recebeu no período R$ 120 mil como lucro da loja.

O valor é menor do que sua remuneração à época como deputado estadual, que somou R$ 131 mil no mesmo período. O órgão não conseguiu identificar a origem de outros R$ 90 mil recebidos pelo filho mais velho do presidente.

Loja foi visitada por políticos e celebridades

Inaugurada em março de 2015, a franquia foi celebrada pelo hoje senador em suas redes sociais. O evento que marcou o início dos serviços contou com a presença do seu pai, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), do ex-técnico de futebol Carlos Alberto Parreira e do deputado estadual e ex-jogador Bebeto (Podemos).

O nome escolhido para a razão social "Bolsotini" é uma mistura do sobrenome da família presidencial com o do sócio Alexandre Santini. A região do shopping é considerada estratégica pela família Bolsonaro.

Em um prédio anexo ao Via Parque, onde a loja está instalada, Flávio mantém o seu escritório pessoal, onde recebe aliados políticos e costumava realizar as reuniões com a bancada do PSL, enquanto ocupou a presidência do diretório fluminense do partido. Depois da desfiliação da legenda, o local voltou a ser ponto de encontro entre o senador e os deputados estaduais que permaneceram fiéis ao filho primogênito de Jair Bolsonaro.

Antigo dono da loja diz ter sido ameaçado

De acordo com a TV Globo, o antigo dono da loja de chocolates afirmou ter sido ameaçado ao tentar denunciar um esquema de notas frias no estabelecimento. A declaração foi dada em depoimento ao MP-RJ.

Em seu depoimento, Cristiano Correia Souza e Silva, que vendeu a loja para Flávio em 2015, afirma ter sido informado por clientes de que o estabelecimento estaria vendendo produtos abaixo da tabela e reportou a prática à sede da Kopenhagen.

A empresa confirmou que a denúncia era verídica e multou a loja por isso. Após a denúncia ser noticiada na época, Silva relatou que ele e a mulher começaram a sofrer ameaças por parte do sócio do senador na loja. Procurado, Santini afirmou que não se pronunciaria sobre o caso.

Por meio de nota de sua assessoria de imprensa, Flávio reiterou que sofre perseguição por parte de promotores do Rio que investigam o Caso Queiroz. O comunicado diz que eles buscam "atacar sua imagem pública".

Flávio contudo não comentou as denúncias feita ao MP sobre a ameaça supostamente feita pelo sócio dele na loja tampouco sobre o subfaturamento dos produtos. "O senador Flávio Bolsonaro esclarece que a alucinação de alguns promotores do Rio em persegui-lo é tão vergonhosa que até perderam prazo para apresentar recursos ao STF e ao STJ de decisão que retirou a investigação da competência deles."

No ano passado, na mesma ocasião em que a empresa teve os sigilos fiscal e bancário quebrados pelo juiz Flávio Itabaiana, 27ª Vara Criminal do Rio, Flávio Bolsonaro e sua mulher, a dentista Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, também foram alvos das medidas cautelares.