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Nas redes, tropa bolsonarista age para blindar governo de culpa por vírus

Bolsonaro caminha ao lado de ministros e deputados aliados, com Carla Zambelli (PSL-SP) em destaque na imagem, após café da manhã no Palácio da Alvorada -  Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro caminha ao lado de ministros e deputados aliados, com Carla Zambelli (PSL-SP) em destaque na imagem, após café da manhã no Palácio da Alvorada Imagem: Marcos Corrêa/PR

Hanrrikson de Andrade e Guilherme Mazieiro

Do UOL, em Brasília

14/08/2020 11h53

Resumo da notícia

  • Tropa de choque bolsonarista faz defesa do governo no combate ao novo coronavírus
  • Parlamentares e líderes religiosos tentam afastar Jair Bolsonaro (sem partido) das mais de cem mil mortes pela covid-19
  • Parlamentares entendem que não é defesa, e sim "manifestação espontânea"

Formada por parlamentares aliados e outros personagens atuantes do bolsonarismo, a tropa de choque que cerca o presidente nas mídias digitais resolveu blindá-lo da atribuição de culpa pelas falhas na contenção da covid-19.

Com a flexibilização gradual da quarentena em estados, os números da pandemia foram impactados, e alguns estados e municípios voltaram a bater recordes diários de casos confirmados. No último sábado (8), o país atingiu a marca de cem mil mortes decorrentes do coronavírus.

Fato que tem sido comum durante toda a pandemia, a guerra de narrativas entre Jair Bolsonaro (sem partido) e governadores, em especial os que se colocam como opositores do presidente no xadrez político nacional, vem acirrando os ânimos nas redes sociais. Adeptos do "bolsonarismo raiz" partiram para a linha de frente na defesa do governo.

O argumento mais utilizado pela tropa é o de que os adversários do presidente, como o governador de SP, João Doria (PSDB), tentam politizar a pandemia em busca de uma projeção eleitoral para 2022, ano em que Bolsonaro tentará se reeleger.

O vice-líder do governo no Congresso, Marco Feliciano (Republicanos-SP), disse que o que parece defesa do governo, na verdade são manifestações espontâneas.

"Faço eco ao que o povo sente, ou seja, uma imensa vontade de divulgar as medidas acertadas do governo que são omitidas pela grande imprensa. Tenho milhões de seguidores nas mídias sociais que aguardam minhas manifestações, sabedores que, como cristão, defendo um governo afinado com esses princípios", declarou ao UOL.

O deputado considerou que o governo movimentou bilhões e todo efetivo do Ministério da Saúde e logística das Forças Armadas para combater a pandemia.

"Quando notícias tendenciosas e fake News tentam desestabilizar um governo eleito pela maioria, nem se faz necessário rebater, elas se esvaziam por si só", disse.

10.jul.2019 - Jair Bolsonaro ao lado do deputado pastor Marco Feliciano (Pode-SP); o presidente participou de eventos com deputados evangélicos na Câmara horas antes da votação da reforma da Previdência - Evaristo Sá/AFP - Evaristo Sá/AFP
Bolsonaro posa ao lado de Feliciano e outros deputados evangélicos
Imagem: Evaristo Sá/AFP

Deputada pelo PSL de SP, a bolsonarista Carla Zambelli escreveu no Facebook que os oponentes do presidente "ousam usar as mortes dos nossos irmãos para tentar responsabilizar" Bolsonaro.

"Fingem não ver tanto trabalho. Fingem não ver fatos. Eles acham mesmo que o povo é tão ingênuo?", questionou ela em postagem na qual elenca ações do governo federal durante a pandemia.

Um pastor evangélico prega ao lado de Bolsonaro, o presidente do senado, Davi Alcolumbre, o pastor Silas Malafaia e o presidente do STF, Dias Toffoli - Mauro Pimentel/AFP - Mauro Pimentel/AFP
Malafaia (à dir. de Bolsonaro) é um dos aliados do presidente com maior liderança dentro do segmento evangélico
Imagem: Mauro Pimentel/AFP

Já o pastor Silas Malafaia, antigo aliado de Bolsonaro, também usou a sua influência e alcance nas redes sociais para defender o governante depois que o país bateu os cem mil mortos pela covid-19. O líder religioso fez ataques à imprensa e insinuou que o presidente seria uma vítima dos meios de comunicação.

Na visão de Malafaia, a lógica seria inversa: o governo federal teria tomado todas as ações necessárias, mas emissoras de TV é que seriam, na verdade, as responsáveis pelo descontrole em relação ao alastramento do vírus.

Choramos por cada vida perdida. Quando perdemos a primeira vida, todos já havíamos perdido muito. Ao contrário do que a...

Publicado por Damares Alves em Segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, endossou a narrativa de que o governo brasileiro teria feito tudo ao seu alcance para enfrentar a covid-19. Em contraponto, também usou a mesma tática argumentativa: transferir a responsabilidade para a imprensa.

"O que muitos canais não tem noticiado é que somos o país que mais repatriou pessoas e, estamos entre os que mais tem investido em auxílios (R$ 600,00), cestas básicas em grande parte do país sendo distribuídas a nossa população, além de diversos Medidas Provisórias (iniciativa do Presidente da República) para impedir cobranças em tempos de pandemia", escreveu ela no Facebook.

Relatório

Depois de o Brasil ultrapassar as cem mil mortes decorrentes do coronavírus, o governo enviou a parlamantares um relatório no qual cita governadores e prefeitos de locais com o maior número de novos óbitos e casos recentes da doença. A informação foi publicada em reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo", na terça (11).

No documento, Bolsonaro busca se eximir das críticas pela condução da política de enfrentamento à pandemia.

Assinado por uma subpasta da Secretaria de Governo, ou seja, um órgão diretamente ligado à estrutura do Palácio do Planalto, o relatório cita os cinco governadores de Estados com mais mortes e novos casos. A lista de prefeitos é feita com base apenas no número de diagnósticos da doença.

Doria aparece no topo das listas de números de casos e de óbitos. São Paulo ultrapassou 600 mil infectados e 25 mil mortes. Outros quatro governadores são mencionados: Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Rui Costa (PT), da Bahia; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina.