Haddad diz que esquerda precisa mudar e defende 'ousadia intelectual'
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República em 2018, afirmou hoje que a esquerda brasileira precisa de mais "ambição intelectual" e que deve se dedicar de forma mais "ousada" a encontrar um modelo de ideias em que possa se firmar.
"Está faltando ambição intelectual na esquerda. É óbvio que tem que ir pra rua, organizar as pessoas, isso é óbvio, mas a esquerda está devendo um projeto mais ousado, do ponto de vista doutrinário. Não abdicar de uma coisa nem de outra", defendeu.
Haddad deu entrevista ao linguista e professor Gustavo Conde, no canal do YouTube Live do Conde, que foi transmitida por coletivos e veículos alternativos de comunicação que se apresentam como progressistas.
O petista critica um certo "saudosismo" entre aqueles que lamentam o enfraquecimento de teorias socialistas que ele define como "já superadas".
"Tem uma ambição teórica de que os velhos socialistas não abdicaram. Isso não é problema, livro é nossa praia. Se a gente não se modernizar, as crises vão se suceder, mas não teremos o que dizer", ele afirma.
"Qual o problema de encarar a crise teórica que estamos vivendo para superá-la? Não é pra ficar em casa se lamentando. Temos que estar preparados e não esperar a crise da direita acontecer", ele diz.
Haddad acredita que a direita brasileira usa a raiva e o ódio porque está "insegura" e que esse é um sinal de que está na hora de a esquerda no país reagir.
"A direita está insegura, e nós temos que ir para a ofensiva, mas com lastro. Precisamos estar atualizados em tudo. Desde o século 19, sempre estivemos na vanguarda", ele diz.
"Política tem surpresas que não podemos desprezar"
Durante a entrevista, foram exibidos vídeos de pensadores, políticos e jornalistas com elogios, comentários e perguntas para o ex-prefeito e ex-ministro da Educação. Sobre uma possível reeleição em 2022 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Haddad respondeu: "A política tem surpresas que você não pode desprezar".
"Dar como resolvida a parada de 2022, até a véspera, quem está na vida pública não pode sair do ringue."
Haddad cita a atual situação política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está perdendo na corrida eleitoral para o democrata Joe Biden. A eleição presidencial nos EUA está marcada para novembro de 2020.
"Veja o que acontece com Trump neste momento. Está dado que ele vai perder, mas ele vai lutar. Imaginávamos que o caminho dele para a reeleição estava pavimentado, e hoje não tenho essa certeza", ele afirma.
"Regressão pior que na ditadura"
Fernando Haddad fez algumas críticas à gestão Bolsonaro e avalia o mandato até aqui como uma "regressão".
"Sou otimista com o Brasil, apesar da regressão que estamos vivendo com o Bolsonaro. Nem na ditadura o projeto era tão regressivo como o de Bolsonaro", ele critica.
Para ele, o número de pessoas, de todas as classes sociais, estudando e acessando posições como nas universidades federais, entre outros exemplos, é o que lhe dá "esperança de que o Brasil vai mudar".
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