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Bispo critica visita de Bolsonaro ao Pará e rejeita novo programa social

Presidente Jair Bolsonaro foi ao Pará para apresentar o programa Abrace o Marajó - Willian Meira/Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos/Divulgação
Presidente Jair Bolsonaro foi ao Pará para apresentar o programa Abrace o Marajó Imagem: Willian Meira/Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos/Divulgação

Colaboração para o UOL

09/10/2020 15h10

O Bispo Evaristo Pascoal Spengler emitiu uma nota para criticar a visita de Jair Bolsonaro (sem partido) ao Pará. Líder da Prelazia do Marajó (uma circunscrição da Igreja Católica no Brasil), ele já criticou o presidente outras vezes. Agora reclamou do novo programa do governo, o "Abrace o Marajó", e falou sobre a falta de cuidados sanitários em eventos presidenciais.

"A solenidade, em pleno período eleitoral, integra um espetáculo midiático com questionáveis efeitos concretos. Soa estranho, também, em plena pandemia, em uma região com um sistema de saúde precário, a realização de atividades que favoreçam a aglomeração social, sem respeito às normas sanitárias, onde as taxas de contágio e óbitos em decorrência da covid-19 são preocupantes", escreveu o bispo.

O programa "Abrace o Marajó" busca parcerias com empresas para melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de Marajó. Atualmente a região concentra 8 dos 10 municípios com os mais baixos indicadores do país. Cerca de 500 mil pessoas vivem na ilha do Pará. Mas o Bispo Evaristo acredita que o programa não será eficiente, por falta de diálogo com autoridades lociais.

"O Programa Abrace o Marajó poderia ser uma iniciativa governamental com vistas a oferecer respostas públicas às demandas da região. Para isso, seria indispensável um diálogo com o governo do Estado, com os poderes municipais e, principalmente, com as lideranças da sociedade civil", reclamou o bispo.

Veja a nota do bispo na íntegra:

O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado de uma comitiva governamental, chega à cidade de Breves, no Arquipélago do Marajó, para o anúncio de medidas do Programa Abrace o Marajó. A solenidade, em pleno período eleitoral, integra um espetáculo midiático com questionáveis efeitos concretos. Soa estranho, também, em plena pandemia, em uma região com um sistema de saúde precário, a realização de atividades que favoreçam a aglomeração social, sem respeito às normas sanitárias, onde as taxas de contágio e óbitos em decorrência da Covid-19 são preocupantes. A Prelazia do Marajó se associa às iniciativas democraticamente construídas, com vistas à promoção do desenvolvimento socioeconômico e do bem estar da população marajoara. Sobretudo, aquelas medidas destinadas a superar dívidas históricas com o povo da região, com a proteção do meio ambiente e com a valorização da cultura regional. "A Amazônia (inclua-se o Marajó) hoje é uma beleza ferida e deformada, um lugar de dor e violência. Os ataques à natureza têm consequências negativas na vida dos povos" (DF 10). O Programa Abrace o Marajó poderia ser uma iniciativa governamental com vistas a oferecer respostas públicas às demandas da região. Para isso, seria indispensável um diálogo com o governo do Estado, com os poderes municipais e, principalmente, com as lideranças da sociedade civil. Um diálogo sincero, franco, responsável, envolvendo a pluralidade do tecido social da região: as lideranças religiosas das diferentes denominações, as lideranças dos variados setores da atividade econômica, formal e informal, as lideranças dos trabalhadores, das populações tradicionais, dos artistas, das juventudes, das mulheres, bem como lideranças de movimentos sociais e ambientais. Para se constituir em um programa de governo, com efetivos resultados econômicos e sociais, com responsabilidade ambiental, demandaria o envolvimento daqueles que trabalham em defesa da cidadania, da convivência democrática, do respeito à pluralidade e da justiça social e do cuidado com a "Casa Comum". Como ensina o Sínodo para a Amazônia: "Para os cristãos, o interesse e a preocupação com a promoção e o respeito dos direitos humanos, tanto individuais quanto coletivos, não são opcionais. O ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus