Wassef tentou impedir depoimento de ex-assessora de Flávio, diz jornal
Luiza Sousa Paes, ex-assessora do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) que teria admitido a existência do esquema de 'rachadinha', fez revelações sobre o advogado Frederick Wassef, de acordo com o jornal O Globo. Os dois teriam se encontrado um dia antes dela prestar depoimento sobre as investigações. O objetivo seria impedir que ela falasse ao MP (Ministério Público) sobre o caso. O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nega que esteja envolvido em qualquer esquema ilegal.
Segundo o depoimento revelado pelo jornal, o encontro de Luiza com Wassef aconteceu em um hotel na Barra da Tijuca, em dezembro de 2018. O advogado Luiz Gustavo Botto Maia, que já atuou para Flávio Bolsonaro, teria mediado a reunião. A ex-assessora teria cedido localizações de GPS que podem comprovar esse encontro. Luiza disse que foi orientada a não atender a convocação dos promotores. A defesa de Flávio teria argumentado que nenhum outro ex-assessor faria isso.
Wassef era advogado de Flávio Bolsonaro no procedimento e também atuava em outras causas da família. Mas segundo o suposto depoimento de Luiza, ele não se apresentou como advogado de Flávio. Teria dito que era "poderoso", cobrava milhões nas causas em que atuava, mas estava fazendo a defesa de graça dessa vez, porque considerava tudo uma "covardia".
Em junho deste ano, Queiroz foi preso na casa de Wassef, em Atibaia, no interior de São Paulo. Ele ficou escondido por cerca de um ano e meio. Após a prisão, Wassef deixou o caso.
A confissão sobre a 'rachadinha'
O depoimento de Luiza pode ter sido fundamental para o MP (Ministério Público) denunciar o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O jornal O Globo divulgou que ela admitiu que havia um esquema ilegal, comandado por Fabrício Queiroz, no gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O senador nega participação em qualquer esquema ilícito.
De acordo com O Globo, Luiza disse no depoimento que nunca atuou como funcionária de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual, mas era registrada na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), recebia salário e repassava mais de 90% do valor para Queiroz.
Além do depoimento, Luiza teria apresentado extratos bancários para comprovar o esquema ilegal, segundo o jornal. Os comprovantes teriam mostrado depósitos e transferências que somariam um desvio total de R$ 160 mil.
Luiza virou assessora de Flávio em agosto de 2011. Ficou no cargo até abril de 2012 e depois teve outros cargos na Alerj. Segundo O Globo, a aproximação com o senador aconteceu por causa da amizade do pai dela com Queiroz. Ela teria pedido um estágio e conseguido a oportunidade. Mas desde o começo teria sido informada que não havia tarefas para ela. Por isso, foi instruída a devolver parte do salário.
Luiza teria dito no depoimento que ficava com apenas R$ 700 por mês. O salário dela, no registro, variou entre R$ 4.966,45 e R$ 5.264,44. Segundo o jornal, ela afirmou também que era obrigada a devolver valores relativos a 13º salário, férias, vale-alimentação e até o valor recebido pela Receita Federal como restituição do imposto de renda.
A devolução desses valores também teria sido explicada no depoimento. Luiza disse, segundo o jornal, que abriu uma conta na agência da Alerj e foi orientada a fazer os saques na boca do caixa, já que no caixa eletrônico há um limite para a retirada. Depois de pegar o dinheiro, ela pedia um depósito para a conta de Queiroz.
O que as defesas falaram
Wassef foi procurado pelo jornal O Globo, mas não retornou. Luiza disse ao jornal O Globo que não podia se manifestar devido ao sigilo do processo. O advogado dela, Caio Padilha, informou por nota que "não é possível tecer qualquer tipo de comentário extra-autos sobre as fases da investigação".
A defesa do senador Flávio Bolsonaro não quis falar com o jornal sobre Luiza. Mas já se manifestou sobre a denúncia do MP.
"Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o Senador Bolsonaro se mostra inviável, porque desprovida de qualquer indício de prova. Não passa de uma crônica macabra e mal engendrada. Acreditamos que sequer será recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprio, a ser protocolizado tão logo a defesa seja notificada para tanto", informou a defesa de Flávio.
A defesa de Queiroz também afirmou que provará a inocência do ex-policial e comentou sobre Luiza.
"É importante esclarecer que Luiza também é investigada - e agora acusada - sendo certo que o ordenamento legal lhe assegura o direito de apresentar qualquer versão que entenda como favorável à sua defesa, inclusive versão que não condiga com a realidade. É ainda mais importante lembrar que sua versão não tem valor probatório", disse a defesa do ex-assessor.
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