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STF, apoio da esquerda e baixa no bloco de Maia embolam disputa pela Câmara

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

04/12/2020 13h34Atualizada em 04/12/2020 16h37

A eleição interna para o comando da Câmara dos Deputados acontece em fevereiro de 2021, mas a disputa entre os parlamentares já está embolada com a espera por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre possibilidade de reeleição, a oposição cobiçada e uma baixa no bloco em formação pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O Supremo julga se tanto Maia quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), poderão concorrer novamente aos cargos. Quatro ministros já votaram a favor da possibilidade de ambos até a publicação desta reportagem. Nunes Marques, somente a favor de Alcolumbre. O prazo para os ministros votarem é o dia 14.

Maia nega estar na disputa, mas a maioria não está convencida disso no Parlamento e ele, inclusive, reclamou reservadamente de deputados que se posicionaram de forma pública contra a possibilidade de sua reeleição. Enquanto isso, tem articulado um bloco — composto no momento por DEM, PSDB, MDB e Cidadania para enfrentar o líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL), nome favorito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Nos bastidores, porém, já há um sentimento de que a tática de Maia é deixar os interessados do bloco se digladiarem para então se apresentar como o melhor nome para seguir no cargo — se o STF permitir. Enquanto isso, ele pede que seus pré-candidatos cheguem a um consenso sobre o nome que disputará a sucessão. São eles Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi (MDB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Luciano Bivar (PSL-PE).

Até o momento, não há consenso nenhum. Por isso, partidos estão em compasso de espera de olho em um posicionamento do Supremo para ver se Maia poderá se candidatar. Depois, se ele vai ou não realmente entrar no pleito. Somente após essas confirmações é que as siglas devem confirmar quem apoiarão.

Desistência

O bloco de Maia teve a primeira baixa com a desistência de Marcelo Ramos (PL-AM) de tentar se lançar pelo grupo.

Ele disputava a preferência do bloco, mas, na falta de definição, decidiu que seguirá a orientação do próprio partido. O deputado vai esperar o posicionamento oficial do PL, mas a tendência é que a sigla fique ao lado de Lira, rival de Maia, assim como PP, PSD, Solidariedade, Avante e Patriota.

Ramos tem apoio de parcela de deputados mais independentes ou em partidos governistas, mas que não se alinham de forma automática a Bolsonaro. Dessa forma, poderia ter alguma chance se tivesse por trás a máquina de Maia e a esquerda.

A expectativa de Ramos agora é buscar uma vaga na Mesa Diretora ou em comissões relevantes na Casa com o apoio do partido. Caso seguisse na busca incerta pela Presidência da Câmara ao lado de Maia, poderia ficar isolado no futuro.

Aguinaldo e Baleia foram apontados como preferências de Maia. Porém, o primeiro não tem suporte do próprio partido — o mesmo do Lira — e, o segundo não é visto com amplo apoio. Nascimento é tido como um nome mais fraco na disputa, sem projeção. Quanto a Bivar, parlamentares relatam que ninguém o "leva a sério". Não há certeza se ele controla nem mesmo a metade da própria bancada.

1.ago.2018 - O deputado Marcos Pereira - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
1.ago.2018 - O deputado Marcos Pereira
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

No meio do imbróglio, Marcos Pereira (Republicanos-SP) emerge como pré-candidato com boa aceitação de partidos que Maia quer atrair para si por se posicionar no "centro independente". Ele é visto como um nome mais palatável por ser habilidoso politicamente e ter se mostrado mais independente do governo nos últimos meses.

Ainda assim, há resistência pelo fato de o partido dele abrigar filhos do presidente da República — o senador Flávio Bolsonaro e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro.

Oposição é cobiçada por rivais

A oposição não deve lançar candidato próprio e passou a ser cobiçada pelos pretendentes ao comando da Câmara. A contabilidade é que um blocão com a oposição pode chegar a cerca de 300 dos 513 deputados. Ao mesmo tempo, a própria esquerda sabe que, para ter cargos importantes na Casa, não pode se isolar.

Embora seja do centrão governista, até Arthur Lira conversa com a oposição. Com mais trânsito na oposição e diante da ofensiva rival, Maia reagiu e fez uma série de propostas ao PT se o partido se juntar a ele, por exemplo.

Entre as propostas estão discutir em conjunto o melhor candidato com concurso a nomes no campo da oposição; respeitar proporcionalidades das bancadas na distribuição de cargos na Mesa Diretora e comissões importantes; defender a independência legislativa do governo com roteiro básico de projetos a serem votados em conjunto.