Apoio de Bolsonaro a Arthur Lira mostra que presidente jogou a toalha
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Arthur Lira é o homem que o presidente Jair Bolsonaro quer que presida a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro de 2021.
Arthur Lira tem uma ficha criminal do tamanho de uma avenida.
O deputado do PP é acusado pelo Ministério Público Federal de ter liderado um esquema milionário de "rachadinha" quando ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa de Alagoas. Só pelo seu bolso, diz o MPF, passaram R$ 9,5 milhões entre 2001 e 2007. A notícia foi revelada ontem pelo Estadão, mas não chegou a espantar ninguém.
Lira, velho freguês da Justiça, é duas vezes réu no Supremo Tribunal Federal.
Numa das ações, conhecida como a do "quadrilhão do PP", ele é acusado de ter desviado dinheiro da Petrobras junto com a sua turma.
Na outra, é apontado como destinatário dos R$ 106 mil que a polícia encontrou escondidos no meio das roupas de um seu assessor parlamentar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2012. O dinheiro teria sido a paga do deputado pelo apoio à manutenção no cargo do então presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos.
Assim como seu assessor flagrado no aeroporto, o deputado também teria o hábito de esconder dinheiro vivo — não nas roupas, mas "no apartamento, nas fazendas, em todo canto", como disse em dezembro do ano passado à revista Veja sua ex-mulher, Jullyene Cristine Lins Rocha. Segundo ela, o dinheiro chegava ao apartamento do casal em remessas mensais de R$ 500 mil a R$ 1 milhão. Ela ajudava o marido a conferir e lacrar as cédulas.
Jair Bolsonaro elegeu-se ao criar no imaginário coletivo a ideia de que combateria tudo o que Lira é acusado de fazer.
Bolsonaro seria intolerante com os ladrões do Congresso.
Bolsonaro iria eviscerar a corrupção do país.
Bolsonaro seria impiedoso com o "establishment".
Aí veio a rachadinha. Mas tratava-se de roubalheira no diminutivo, e a saída para os eleitores fiéis ao presidente foi colocar um preço na honestidade. Rachadinha era coisa pouca, quem roubou mesmo foi o PT. Com o avanço das investigações, a rachadinha virou rachadão, e lá se foi o argumento da sua insignificância.
Restou aos constrangidos apoiadores do presidente a tese do "todo mundo faz" — e se todo mundo faz, Bolsonaro não pode governar sem aliar-se ao establishment.
O triste é que quando um presidente — e seus apoiadores— demonstram compartilhar da crença de que a corrupção é a forma normal de fazer as coisas, significa que a corrupção ganhou sinal verde para vicejar no país.
Bolsonaro agora apoia a quintessência de tudo o que esconjurou em público.
Bolsonaro e os bolsonaristas jogaram a toalha.
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