Rio: Depoimento de Witzel a tribunal que julga impeachment é adiado
O depoimento do governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), ao Tribunal Misto que julga o processo de impeachment contra ele foi adiado. Witzel seria ouvido na tarde de hoje por deputados estaduais e desembargadores do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). No entanto, a sessão foi suspensa devido ao fato de algumas das testemunhas arroladas ainda não terem sido localizadas pela Justiça.
As defesas dessas testemunhas solicitaram um prazo de cinco dias úteis para fornecer novos endereços —o que foi aceito pelos membros do Tribunal Misto e acabou acarretando o adiamento do depoimento de Witzel, já que no entender de todos os membros é fundamental o governador afastado seja ouvidos depois de todas as testemunhas de acusação e defesa.
O tribunal começou a ouvir as testemunhas na tarde de ontem. Em um dos momentos mais marcantes, o ex-presidente nacional do PSC Pastor Everaldo pediu "clemência e misericórdia", enquanto depunha.
Everaldo chorou e disse que não tinha condições de depor por meio de videoconferência, já que está preso desde 28 de agosto sob acusação de participar de fraudes em compras na área da saúde durante a pandemia do novo coronavírus.
O político alegou já ser alvo de um inquérito no STJ (Superior Tribunal de Justiça) que julga os mesmos fatos.
Não estou em condições de prestar depoimento neste processo. Isso se deve ao fato de eu ser réu perante o STJ pelos mesmos fatos que são apurados no processo de impeachment, e meu foco é me defender naquela Corte. Estou preso há precisamente 112 dias, a meu ver indevidamente. Mais uma vez peço misericórdia, perdão, clemência, eu não tenho como falar.
Pastor Everaldo, ex-presidente do PSC
Ele também alegou motivos pessoais para recorrer ao silêncio. "Eu estou com o filho com covid no hospital, internado, pode morrer a qualquer hora. Meu pai completou 88 anos e não pude abraçá-lo", afirmou.
As falas geraram revolta nos membros do Tribunal Misto. O presidente do TJ-RJ, Cláudio de Mello Tavares, exigiu respostas às perguntas feitas.
O deputado Carlos Macedo (Republicanos), que também é líder evangélico, apelou para a fé do Pastor Everaldo. "Eu me senti constrangido como evangélico e como pastor também. Por isso, faço um apelo por uma resposta por parte do senhor", disse.
O ex-presidente do PSC, no entanto, só respondeu a uma pergunta feita pelo parlamentar. Quando perguntado se confirmava a informação que consta na delação pelo ex-secretário de Saúde Edmar Santos, de que ele teria recebido R$ 15 mil das mãos de Witzel, ele negou de forma lacônica.
"Nunca recebi R$ 15 mil ou qualquer dinheiro do governador Witzel."
Relatório aponta práticas criminosas de Witzel
O relatório de impeachment, produzido pela Comissão da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) que investigou a conduta do governador, apontou que a revogação por Witzel da desqualificação do contrato do Instituto Unir Saúde —que teria como sócio oculto o empresário Mário Peixoto, preso em maio— teria sido criminosa.
Witzel também teria tido participação em supostos superfaturamentos em compras para combate à pandemia do coronavírus.
O documento também afirma que o governador afastado "agiu em defesa de interesses privados".
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