Covas diz que sancionou aumento de salário para não perder servidores
O prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), justificou o aumento de 46% de seu próprio salário para não deixar o teto do funcionalismo público defasado e, assim, perder servidores. A declaração ocorreu na noite de hoje durante entrevista à GloboNews.
A lei que autoriza o aumento salarial do executivo municipal foi aprovada pela Câmara com placar de 34 votos a favor, 17 contrários e uma abstenção. O último reajuste ocorreu em 2012 e o congelamento era entrave para a elite do funcionalismo público receber aumento, uma vez que o salário do prefeito é o teto dos servidores municipais. A lei foi assinada na véspera de Natal e aumenta o salário de R$ 24 mil para R$ 35 mil.
"Durante este período de 8 anos, a inflação foi de 60 a 100%, dependendo do valor que é considerado. O salário mínimo aumentou, neste período, 68%. O valor do salário dos professores na rede municipal aumentou 80%. Então, hoje o teto está defasado. É um teto de R$ 24 mil", argumentou o prefeito.
"E por que é ruim para a cidade de São Paulo ficar com teto defasado? Porque algumas carreiras que recebem pelo teto, como é o caso dos auditores fiscais, começam a se preparar para concursos para ir trabalhar no governo federal e outros governos municipais e ou estaduais. E nós vamos perdendo esses servidores que recebem pelo teto", prosseguiu.
"Então, volto a falar: aquilo não se trata do salário do prefeito. Só será reajustado caso a gente passe pela pandemia em 2022. E isso se trata da coleção de teto, que está congelado nesses últimos 8 anos. Se a Câmara não aprovasse isso agora, só poderia aprovar depois de mais 4 anos. Então estaríamos com 12 anos de salário defasado. E a cidade começa a perder servidores, porque o teto não foi corrigido", concluiu.
Durante a entrevista, no entanto, Covas evitou responder se o aumento de 46% do salário, assinado em meio à pandemia de covid-19, e com tanta gente desempregada, não lhe causaria constrangimento.
Além do prefeito, os salários do vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB), e dos secretários municipais também tiveram aumentos de 47% e 53%, respectivamente, passando dos atuais R$ 21,7 mil para R$ 31,9 mil no primeiro caso e R$ 19,3 mil para R$ 30,1 mil no segundo.
Aos vereadores, Covas apresentou estudo afirmando que o dispositivo trará, em 2022, um impacto de R$ 78 milhões ao orçamento da cidade. Um estudo paralelo, elaborado pelo gabinete do vereador José Police Neto (PSD), estimou que o valor seria de quase R$ 500 milhões.
Vereadores do PSOL em mandato e eleitos para a legislatura que começa no ano que vem decidiram entrar na Justiça contra o reajuste salarial.
Assinam a peça a vereadora eleita Erika Hilton e a Bancada Feminista, bloco de mandato coletivo formado por Silvia Ferraro, Paula Nunes, Carolina Iara, Dafne Sena e Natália Chaves. O vereador Toninho Vespoli e o vereador em exercício Celso Luis Giannasi também assinam a peça. O objetivo é suspender a lei que autorizou o reajuste.
"Diante da realidade de uma crise sanitária dada pela pandemia do covid-19, que também resultou numa crise econômica, não parece razoável e moral aumentar o salário do prefeito, vice-prefeito e secretário em 46%, 47% e 53%. Mesmo que o reajuste esteja previsto para 1° de janeiro de 2022, a Câmara Municipal de São Paulo ignora o fato de estarmos na segunda onda do covid-19, de uma incerteza após as festas de fim de ano, além das incertezas e gastos com a imunização que a cidade deveria dar prioridade, e não a esse tipo de aumento fora da realidade social e econômica e financeira da própria administração pública", afirmam.
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