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Pressionado a demitir Pazuello, Bolsonaro tenta resgatar moral do ministro

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante live - Reprodução/Facebook
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante live Imagem: Reprodução/Facebook

Hanrrikson de Andrade e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

28/01/2021 12h37

Pressionado a demitir o general Eduardo Pazuello do comando do Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu não só segurá-lo à frente da pasta, mas também se mostrou disposto a tentar resgatar o moral do subordinado.

Pazuello vem sendo duramente criticado pelo processo de aquisição de vacinas e pelas falhas de logística que atrasaram o início da imunização contra a covid-19. Na semana passada, o UOL revelou que havia internamente uma crescente pressão pela saída do ministro.

Auxiliares do governo afirmam que, além de rechaçar a hipótese de demissão, Bolsonaro passou a conversar mais com Pazuello e deu pessoalmente aval para que ele fosse a Manaus "sem voo de volta".

A capital amazonense enfrenta um colapso na rede de saúde pública em virtude das consequências da pandemia no estado.

Além disso, o presidente incluiu Pazuello em sua "lista de divulgação" e tem tentado expor para seguidores do governo as ações que contam em favor do chefe do Ministério da Saúde.

Na quarta-feira (26), por exemplo, Bolsonaro disparou uma mensagem com a transmissão da emissora estatal que mostrava a presença de Pazuello na entrega de uma obra de ampliação do Hospital Nilton Lins e da inauguração de uma enfermaria no Hospital Delphina Aziz, em Manaus.

Telegram - Reprodução - Reprodução
Bolsonaro envia mensagem com vídeo que mostra Pazuello em inaguração
Imagem: Reprodução

O presidente não tem o hábito de usar os canais pessoais, onde ele possui diálogo direto com uma ampla massa de apoiadores, para celebrar ou simplesmente divulgar o trabalho de todos os ministros do governo.

Apenas os favoritos têm esse respaldo do chefe, a exemplo do que ocorre com Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Tereza Cristina (Agricultura), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), entre outros.

Auxiliares consideram que, ao suportar de forma solitária as críticas das últimas semanas, Pazuello "deu prova de lealdade" a Bolsonaro. Ele também foi um dos poucos quadros do entorno do presidente que não buscou convencê-lo a desembarcar do "tratamento precoce" —linguagem que ele tem utilizado para se referir ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.

'Divisão de culpa'

Apesar de membros do governo defenderem que o presidente poderia "rifar" Pazuello caso a crise tomasse proporções ainda maiores, Bolsonaro deixou claro que não deixaria o ministro isolado e, segundo interlocutores, decidiu que seria preciso dividir a responsabilidade pelas falhas na pasta da Saúde.

Houve pressão para que pelo menos dois ministros organizassem melhor os trabalhos: Fábio Faria (das Comunicações) e Ernesto Araújo. A avaliação feita era de que Pazuello precisava de auxílio para divulgar as ações positivas da pasta e que também seria necessário um trabalho diplomático mais assertivo da equipe de Ernesto.

Foi justamente para dividir a responsabilidade da crise que Faria e Ernesto foram com Pazuello receber as doses de vacina que chegaram da Índia. Além disso, o ministério das comunicações passou a publicar longas notas com explicações sobre as tratativas do governo.

Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) chegou a dizer publicamente que o chanceler poderia perder o cargo em um rearranjo ministerial que pode ocorrer após as eleições no Congresso. Apesar disso, no governo, Bolsonaro tem dito que "só ele" demite ou convida ministro e que não há decisão para substituir Ernesto.

Pressão pela queda

O esforço de Bolsonaro ocorre após semanas de pressão para que Pazuello fosse retirado do cargo. O entorno do presidente da República reconhece que houve uma derrota política na queda de braço com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em relação ao início da vacinação no país.

Isso se dá porque, enquanto o governo federal se via em dificuldades para garantir a chegada das duas milhões de doses da vacina AstraZeneca compradas da Índia, Doria se antecipava ao planejamento do Ministério da Saúde e dava a largada da imunização no país com a CoronaVac —vacina produzida pelo Instituto Butantan (SP).

A cena ocorreu em 17 de janeiro, no mesmo dia em que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deu o aval para uso emergencial das vacinas parceria entre a Fiocruz (RJ) e a Universidade de Oxford (desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca) e a do Butantan (a CoronaVac, concebida em cooperação com a farmacêutica chinesa Sinovac).