Eleições no Congresso expõem caminhos antagônicos e rachas na esquerda
As eleições para as presidências e as Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado expuseram caminhos antagônicos e rachas em partidos da esquerda. Além de discussões quanto a quem apoiar e reclamações públicas quanto às escolhas, houve até mesmo bate-boca nas redes sociais.
Sob reserva, deputados citaram uma dificuldade grande de unificar a esquerda no Congresso por interesses diferentes visando as eleições de 2022 e disputas intrapartidárias, além da falta de uma nova liderança representativa.
PT apoia candidato de Bolsonaro no Senado, e não na Câmara
O PT, principal partido de oposição do país com algumas das maiores bancadas no Congresso Nacional, optou por apoiar o candidato tido como anti Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP), e o candidato preferido do presidente da República no Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Interesses políticos, como mais cargos importantes no Senado e não abrir espaço ao grupo pró-Lava-Jato, estão por trás da escolha de apoiar Pacheco no Senado. A Rede no Senado, que tem seu senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como líder da Minoria, também optou pelo candidato de Bolsonaro.
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que a decisão se deu com base na trajetória de Pacheco e nas conversas com o candidato. Ele tem compromisso em defender a Constituição, a independência do Legislativo e com a retomada de uma forma de ajuda emergencial à população mais pobre durante a pandemia do coronavírus, disse.
Costa defende que Pacheco é um candidato "indireto" de Bolsonaro, pois o presidente da República ficou "sem alternativa" ao ver os senadores líderes do governo não deslancharem nas pré-candidaturas.
Se não apoiasse Pacheco, o PT conseguiria o comando de somente uma comissão. Se Pacheco ganhar, vão conseguir duas: meio ambiente e direitos humanos. "Duas áreas críticas da atuação do governo no país", ressalta Costa. O PT também deve voltar a liderar a oposição na Casa.
"Do que adianta o PT lançar um nome para disputar a Presidência do Senado, ter seis votos e não ter espaço importante para fazer oposição institucional ao governo de Bolsonaro? E aquilo, no dia seguinte da eleição, acabou", argumentou o senador petista.
Na Câmara, a decisão do PT de apoiar Baleia foi por um placar apertado (27 a 23) e não foi bem recebida por todos. Assim como em outros partidos, como PSOL e PCdoB, havia integrantes do PT que preferiam lançar um candidato próprio da oposição para se juntar ao emedebista num eventual segundo turno. Uma minoria também não queria ficar ao lado dele pelo fato de Baleia ser do MDB - um dos fiadores do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O líder da Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), busca minimizar o racha e defende que o PT será um dos partidos a dar mais votos a Baleia - que vem sofrendo com dissidências em siglas que, em tese, seriam as principais a apoiá-lo, como o DEM. Ele calcula que o PT entregará ao candidato 48 votos de seus 53 deputados.
"[As divergências internas] são águas do passado. Estamos firmes e fortes para derrotar o Bolsonaro na segunda", afirmou.
PSB pode não dar maioria de apoio a Baleia Rossi
Os deputados federais do PSB também estão divididos, pois, apesar de o líder da bancada, Alessandro Molon (PSB-RJ), e a Executiva Nacional preferirem Baleia, parte quer ficar ao lado de Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Bolsonaro. Entre eles, Felipe Carreras (PE) e Júlio Delgado (MG). Há dúvida se haverá maioria para oficializar o apoio ao Baleia.
O racha interno se desenrola desde dezembro do ano passado. Na época, a direção nacional do PSB recomendou à bancada que "sequer aprecie a hipótese da candidatura de Lira ou de qualquer candidato que tenha apoio do candidato do Palácio do Planalto".
Baleia visitou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), no Recife, em busca de ajuda para conter traições no partido. O governador é ainda 1º vice-presidente do PSB.
PSOL ficou rachado ao meio
Uma das grandes discussões dentro da oposição na eleição para a Câmara ao longo do último mês foi se o grupo não deveria lançar um candidato próprio que represente seus ideais. No final das contas, somente o PSOL tomou esse rumo após muita discussão interna ao decidir lançar Luiza Erundina (PSOL-SP).
A bancada do PSOL ficou rachada ao meio - cinco defendiam candidatura da esquerda e cinco já queriam apoiar Baleia. A decisão por Erundina foi consolidada pela direção nacional do partido.
A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) disse que, apesar de não concordar com a ideia inicialmente, votará em Erundina, assim como os demais da ala pró-Baleia logo nesse primeiro turno. Ela afirma não ter "ilusões" ao apoiar Baleia e que, mesmo que ele vença, o partido será oposição ao deputado.
"Nunca tivemos dúvida de que o candidato do Bolsonaro [Arthur Lira] é o nosso inimigo. Nossa diferença era tática. [...] Na votação, o partido vai estar unido com a decisão tomada pela Executiva Nacional", ressaltou.
Melchionna chegou a rebater publicamente Erundina no Twitter em resposta à declaração dela de que "é lamentável que o PSOL negocie suas convicções e compromissos políticos históricos ao aderir ao fisiologismo e à barganha por cargos na Mesa da Câmara".
A reportagem apurou que também houve divergências quanto a uma candidatura própria da esquerda ou apoiar logo Baleia Rossi na bancada do PCdoB - que optou pela última alternativa.
"Quando nós aprofundamos o debate, a maioria da esquerda compreendeu que essa é uma luta muito importante para o Parlamento e a sociedade. Portanto, deixar Bolsonaro ganhar a eleição e transformar a Câmara num puxadinho seria muito ruim para o país", falou a líder da bancada do partido na Câmara, Perpétua Almeida (PCdoB-AC).
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