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Arthur Lira seguiu "cartilha do Renan" e hoje ameaça clã Calheiros em AL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

02/02/2021 15h29

Eleito ontem à noite como presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) repetiu a trajetória de um outro político alagoano que fez história no comando do Senado com apoio presidencial: Renan Calheiros (MDB-AL).

A ascensão de Lira no cenário nacional também deve dar mais força a seu grupo político local, que ganha terreno e já rivaliza em poder com a família Calheiros. A tendência é que as duas correntes disputem os maiores cargos em 2022 no estado.

Cientistas políticos de Alagoas ouvidos pelo UOL afirmam que os dois grupos dividem hoje a hegemonia da política alagoana. "Arthur já coordena um grupo político parecido com o do Renan Calheiros no estado. Ele tem um arco de aliança com 40 a 50 prefeitos", afirma o cientista político Ranulfo Paranhos, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).

Hoje, PP e MDB governam dois em cada três municípios de Alagoas. Entretanto, o PP é o partido que mais cresceu: em 2020 elegeu 29 dos 102 prefeitos, atrás apenas dos 38 eleitos pelo MDB.

A cartilha política de Lira é a mesma de Renan: hábeis negociadores em Brasília, ambos se tornaram políticos confiáveis por acordos cumpridos com prefeitos e, graças ao apoio do Palácio do Planalto, ajudaram a resolver a liberação de recursos e realização de obras.

Todos os cenários agora passam por 2022. A disputa para o governo do estado ainda não tem nomes definidos em nenhum dos grupos —o único nome dado como certo é o do senador Rodrigo Cunha (PSDB), que se posiciona como independente dos grupos de Lira e Calheiros.

O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB) - Marcio Ferreira/Governo de Alagoas - Marcio Ferreira/Governo de Alagoas
O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB)
Imagem: Marcio Ferreira/Governo de Alagoas
Uma encruzilhada se aproxima

Luciana Santana, cientista política da Ufal e integrante do Observatório das Eleições, prevê que a escolha de Lira pela Câmara deve alçá-lo a uma condição ainda maior para 2022.

"Não diria que tirou o espaço dos Calheiros porque Renan Filho tem governo —e ele ainda é um nome importante em Alagoas, tem boas articulações. Mas essa ascensão de Arthur Lira pode, sim, ofuscar um pouco a família Calheiros, o que não significa inviabilizar politicamente. São vários cargos que estarão à disposição na disputa em 2022."

Uma das dúvidas a ser respondida pelo tempo é se Lira deixaria a presidência da Câmara no próximo ano para se lançar na disputa ao governo do estado em 2022. Pesa a favor dele o fato de Renan Filho já ser reeleito e não ter —pelo menos por ora— um nome forte para sucessão.

"Para mim está claro que esse é um dos seus objetivos [se lançar ao governo], e que o governador Renan Filho saia para disputa ao Senado. Por ora, diria que os dois são os principais nomes dentro da política alagoana e com chances de ocuparem esses novos cargos em disputa em 2022. Mas é preciso ver como vai ser a atuação do Arthur Lira no âmbito da Câmara e como vai intermediar demandas de Alagoas", pontua Luciana.

Paranhos diz que lançar-se ao governo seria uma aposta alta e perigosa para Lira. "É bastante arriscado. Essa avaliação ele vai fazer ao longo desse um ano de presidência. A reeleição para deputado federal dele daria como certa com os apoios que têm aqui. Mas para candidato ao governo do estado, talvez essas prefeituras não sejam suficientes do ponto de vista de volume. Seria uma incerteza muito alta."

O cientista lembra ainda que Lira tem como vantagem o apoio de políticos de mesmo sobrenome, e que o ajudaram a crescer politicamente em Alagoas. "Além do grupo político forte, o grupo político de Lira ascende também pelo componente familiar: o pai [Benedito de Lira] foi deputado federal, senador e é atual prefeito de uma cidade próxima à capital [Barra de São Miguel]. E ele não era do baixo clero no Senado. E no estado de Alagoas tem primos na Assembleia, em prefeituras."