Manifestantes fazem carreatas contra Bolsonaro em SP: "Não é a mesma coisa"
Sara Baptista e Gabriel Toueg
Do UOL, em São Paulo, e Colaboração para o UOL, em São Paulo
20/02/2021 15h16Atualizada em 20/02/2021 21h55
"Não dá mais! O país chegou ao limite", disse a aposentada Marlene Dutra, 56 anos, que aguardava o início de uma carreata contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em seu carro adesivado diante do estádio do Pacaembu. "Algo precisa ser feito em nome da sobrevivência civilizatória do país", continuou. Estacionada ao lado de quase cem veículos, Marlene disse que sempre participa de manifestações, mas que essa é sua primeira carreata: "Não é a mesma coisa".
O grupo da aposentada é parte das cerca de 15 carreatas e grupos em bicicletas partiram na manhã de hoje de diferentes regiões de São Paulo em direção à Avenida Paulista em um protesto marcado para a tarde de hoje. No Brasil, ao menos 65 cidades tinham atos semelhantes marcados.
Uma vez que os carros seguiram em direção à avenida Paulista, houve aplausos e alguns xingamentos por parte de outros motoristas e pedestres. O trânsito não chegou a ser interrompido. Por conta da dispersão em meio ao tráfego, os cem carros contados pela reportagem no início da concentração eram em torno de 40 diante do Masp em determinado momento. Não houve concentração de manifestantes na avenida.
Participando de sua terceira carreata contra Bolsonaro, a enfermeira aposentada Edva Moreno Aguiar, 63, se diz indignada "pela incompetência do governo no manejo da pandemia e pela política privatista desde o impeachment de Dilma [Rousseff]".
Edva era a motorista de um dos primeiros veículos da carreata quando a fila começou a se formar para a saída do Pacaembú. Com megafone e os dizeres "Fora, genocida" e "Fora Bolsonaro" pintados nas janelas, ela parecia otimista. "Essas manifestações estão crescendo em volume e entusiasmo", disse. "É uma questão sanitária a queda de Bolsonaro e Mourão".
O produtor cultural Cidélio Vieira Santos, 50, reclamou da falta de política na área da cultura. "Se houvesse uma política, mesmo que de direita, estaria melhor. Mas esse governo não tem política nenhuma", lamenta. Santos, que está em sua segunda carreata, disse ter participado de várias manifestações ao longo da pandemia. "Mesmo sabendo que corria riscos, fui porque não conseguia ficar em casa".
"Eu rodo muito e sei o que o povo está passando sem o auxílio emergencial", disse o produtor.
Presente na concentração, o ex-presidenciável e ex-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos disse ao UOL que esses protestos em carros são um "ensaio" para manifestações maiores que devem acontecer quando os grupos de risco forem vacinados e a curva de contaminação cair. Boulos é coordenador da Frente Povo Sem Medo, que convocou o movimento.
"A carreata é a forma que a gente encontrou para ter algum tipo de reação, mas evidentemente o que a gente espera é que se criem as condições o mais rápido possível para que a gente possa convocar manifestações de rua, contra o Bolsonaro, contra essa política econômica destrutiva ", afirmou.
Na praça Charles Miller, no bairro do Pacaembu, zona Oeste da capital, cerca de cem carros com bandeiras e faixas de partidos de esquerda e adesivos contrários ao presidente se preparavam para sair em caminhada rumo à avenida Paulista no início da tarde. Os manifestantes pedem maior velocidade na vacinação contra a covid-19, o retorno do auxílio emergencial de 600 reais e o impeachment do presidente.
Na zona leste, a concentração se deu em frente à Neo Química Arena, em Itaquera. Na zona sul, no Largo do Socorro. Um outro grupo partiu de Brasilândia, na zona noroeste da cidade. As carreatas foram convocadas pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo.
Diversas cidades no interior de São Paulo também registraram carreatas e bicicletadas pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro na manhã e início da tarde de hoje. Boa parte tem o mesmo destino: a avenida Paulista, em São Paulo.
De acordo com registros da CUT (Central Única dos Trabalhadores), manifestantes se reuniram em Campinas, Piracicaba, São José dos Campos, Guarulhos, Santo André, São Bernardo, Sorocaba, Suzano, Itaquaquecetuba e Poá.
Segundo a tenente Beatriz Hernandes, que comanda a operação da PM (Polícia Militar) no local, cerca de 15 policiais farão o acompanhamento da manifestação até a avenida Paulista, onde os manifestantes não devem parar, segundo a policial. O trânsito não será interrompido no trajeto, mas é esperado que ocorra lentidão.
Moisés Ribeiro, representante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), uma das organizações sociais que participam das carreatas, trata-se de um protesto contra um conjunto de problemas. "Esse é um governo de morte, que negou o isolamento social, que demora a aprovar (a volta do) auxílio emergencial, que nega a vacina".
"Estamos aproveitando que há uma queda de popularidade de Bolsonaro e uma compreensão da população em relação à necessidade de pressionar o Congresso para colocar um dos pedidos de impeachment em votação", afirmou Ribeiro. Ele revelou o desejo de realizar manifestações de rua, mas afirmou que o momento não permite. "Temos responsabilidade com a vida", declarou.