'Temos que nos preparar para o pior: o bolsonarismo revitalizado', diz Ciro
O ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) disse hoje, no UOL Entrevista, que é necessário "se preparar para o pior" nas eleições presidenciais de 2022, referindo-se a uma possível revitalização do que chamou de "bolsonarismo boçal".
Em entrevista ao colunista do UOL Kennedy Alencar, questionado sobre a chance de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegar a um eventual segundo turno como o candidato mais forte do pleito, Ciro disse que "tudo num sistema de dois turnos é possível".
Acho que hoje temos que nos preparar para o pior, que é o bolsonarismo boçal ser revitalizado num processo eleitoral. Nós, que temos uma certa formação humanista, que temos um certo respeito aos ritos e às instituições e valores da democracia, estamos indignados, enojados. Eu não aguento mais. Eu transformo a minha tristeza imensa em ferramenta de luta, em levantar a voz, em espernear, se não eu morro. Ciro Gomes
O ex-ministro, que concorreu às eleições presidenciais de 2018, disse acreditar que é preciso lutar "em nome de tirar o Bolsonaro" e que sua tarefa é tentar organizar o eleitorado, em sua avaliação disperso, que não quer nem o bolsonarismo nem a volta do lulo-petismo.
"O Brasil tem 25% de gente que é identificada com o bolsonarismo boçal. O imoral, o novo rico, uma série de coisas, esse tem 25%. E o petismo doentio, fanático, tem 20%. O que é que está acontecendo? Você tem 55% do eleitoral que não quer nem o bolsonarismo boçal, nem a volta ao passado, contraditório, para muitos, corrupto, do lulo-petismo. Isso é o que eu vejo. O que acontece? 55% estão procurando esse caminho. E aí está disperso, entre a centro direita, a centra esquerda, a minha tarefa é tentar organizar isso", analisou.
"Não contem comigo"
O ex-ministro também criticou o debate em torno da elegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições de 2022. Ele foi enfático: "Não contem comigo para esse circo".
Lula diz estar "à disposição" para ser o candidato petista nas próximas eleições presidenciais, mas suas condenações o impedem de competir no pleito, já que o ex-presidente se enquadraria na Lei da Ficha Limpa.
"Nós vamos ficar discutindo: o Lula é elegível? O Lula é inelegível? Olha, esse filme eu já vi. Não contem comigo. Não contem comigo para esse circo mambembe porque a tragédia brasileira não permite mais contemporização", indagou.
Na visão de Ciro, a oposição ao governo Bolsonaro deveria estar "sentada na mesa" debatendo uma articulação contra o presidente. "Nós não tínhamos nada que ficar brigando entre nós. Nós tínhamos que estar todos sentados ao redor de uma mesa, discutindo basicamente o que aconteceu pro povo nos abandonar. Se a gente não entender isso, não é punir ninguém, é para gente ter humildade e pedir reconciliação com nosso sofrido povo, que afinal de contas é vítima de tudo isso".
Mansão de Flávio Bolsonaro
Ciro disse que o presidente corrompeu os filhos, citando a compra de uma casa em Brasília de R$ 6 milhões pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"O Bolsonaro só é valente até a hora que a gente encara ele, eu conheço o Bolsonaro, isso é um frouxo de longa data. Picareta, frouxo, bandido, ele que corrompeu os filhos, as mulheres. Esse filho dele comprou a mansão de R$ 6 milhões uma hora dessas. Significa sabe o quê? Na cabeça dele, eles compraram as instituições. E está funcionando para eles", disse.
Ciro relembrou decisão da Quinta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que, em fevereiro, por 4 votos a 1, aceitou o pedido da defesa do senador para anular as quebras de sigilo bancário e fiscal do parlamentar e de outros 94 investigados no caso das "rachadinhas" no então gabinete do político na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
"Qual a explicação para a Quinta Turma do STJ anular evidências flagrantes, documentadas, de que o Flávio Bolsonaro é um ladrão que desviou mais de R$ 100 milhões de dinheiro público na Assembleia do Rio de Janeiro? Fica nossa mídia brincando, chamando de rachadinha, o nome disso é peculato", afirmou.
Política de Guedes é uma tragédia
Ciro Gomes também criticou a política econômica guiada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ele disse que a 'tragédia' do plano econômico pode ser explicada por dois argumentos. "Uma pergunta simples: qual é o lugar no planeta Terra, historicamente, ou na atual geografia do mundo, que pratica esse ideário? Eu respondo: nenhum. Não existe nenhum lugar do planeta terra que pratique o ideário que o Paulo Guedes defende no Brasil, nem na atual geografia economia".
"O Brasil tem quatro motores de atividade econômica estrangulados", disse Ciro. "O primeiro motor da economia é o consumo das famílias. Obviamente, ninguém precisa ser economista para entender. Se o camarada consome, o comércio vende mais, contrata mais gente, encomenda mais da indústria, encomenda mais da matéria-prima, e todo mundo contrata mais gente, e o país arrecada mais. E o Bolsonaro, quando a pandemia toma a maior gravidade da história dela, desde março passado, suspendeu [o Auxílio Emergencial] e agora o Paulo Guedes quer voltar com um negócio ridículo, criminoso, de R$ 150 para uns e R$ 375 para outros por apenas 3 meses", afirmou.
Ciro disse que o "segundo motor" econômico é o investimento privado que, na sua opinião, está fugindo e evitando Brasil, dando como exemplo a saída das empresas Ford e Sony.
O terceiro motor, diz o ex-ministro, é o investimento público, que estaria precarizado. Por último, o quarto motor, seria o comércio exterior. "Aqui, nós estamos com o câmbio em uma posição que favorece a exportação brasileira, mas olha o que aconteceu com o Brasil: no momento de câmbio favorável, o Brasil teve o pior volume de exportação do setor industrial desde 1974. Paulo Guedes, pensa que eu não estou acompanhando os números? Faz 47 anos que o Brasil pede o número e é o pior ano. Os quatro motores de atividade econômica estão colapsados".
"Se privatizar, vou nacionalizar de volta"
Ciro ainda disse que, caso Bolsonaro privatize indústrias nacionais, principalmente as ligadas ao regime de águas do país, ele irá nacionalizar a empresa novamente, caso seja eleito em 2022.
"Nenhum país do mundo, sério, privatiza seu regime de águas. Eu quero anunciar solenemente que, se o Bolsonaro cometer o crime de entregar o regime de águas do Brasil ao capital estrangeiro e privado, eu vou nacionalizar de volta. Tudo o que for indústria de petróleo, e tudo o que for energia, permanecerão no meu governo nacionais e estatais, e isso é solene compromisso que eu assumo com o povo brasileiro", prometeu.
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