Artigo relata ataques de governo Bolsonaro a cientistas: 'ambiente hostil'
A revista Science —uma das principais publicações científicas do mundo— divulgou artigo em que relata o clima tenso entre o governo de Jair Bolsonaro e a comunidade científica local.
Com título "Um ambiente hostil: cientistas brasileiros enfrentam crescentes ataques do regime de Bolsonaro", a publicação enumera episódios recentes que deixaram pesquisadores temerosos com represálias, perda de emprego e até mesmo com sua segurança.
A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) informou que prepara um dossiê para denunciar ataques e ameaças sofridos pela categoria.
"Nós vamos encaminhá-lo ao STF (Supremo Tribunal Federal), nós vamos encaminhá-lo ao Congresso Nacional e a outras autoridades. E certamente vamos divulgar junto à sociedade brasileira a importância da preservação da liberdade da pesquisa para que as autoridades tomem conhecimento, e para uma eventual atuação em defesa desses princípios", disse Ildeu de Castro Moreira, presidente da entidade, em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo.
No artigo, a Science lembra da demissão de Ricardo Galvão, diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), principal órgão federal responsável por monitorar o desmatamento na Amazônia.
Na época, Bolsonaro acusou o Inpe de "mentir" após divulgar que houve um aumento de 88% nos índices de desmatamento da Amazônia em 2019, comparando-se com o mesmo mês de 2018. O embate ocorreu em um período em que o governo enfrentava crescentes questionamentos dentro e fora do Brasil sobre sua política ambiental.
"Desde então, Bolsonaro tem entrado em confronto com pesquisadores por questões que incluem sua rejeição persistente de estratégias baseadas na ciência para combater a pandemia da covid-19, que matou pelo menos 330 mil brasileiros. Mas o relacionamento parece ter entrado em uma fase ainda mais tensa nos últimos meses", diz a Science.
A publicação cita ainda o caso envolvendo um epidemiologista da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) Pedro Rodrigues Curi Hallal, que teve de assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC) por criticar a gestão de Jair Bolsonaro durante uma live transmitida pelas redes sociais da universidade, em janeiro.
Segundo a Science, um grupo de pesquisadores brasileiros deixou de assinar nesta semana estudos relacionados à proteção da Amazônia com receio de represálias, como o corte de verbas vindos do governo federal. No estudo, os cientistas descrevem os esforços de Bolsonaro para desmantelar as proteções ambientais.
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