Mandetta diz que Bolsonaro tinha 'aconselhamento paralelo' dos filhos
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tomou decisões sobre a contenção da pandemia "aconselhado" pelos filhos, afirmou nesta terça-feira (4) o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante depoimento à CPI da Covid do Senado.
As perguntas iniciais da sessão foram feitas pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é o relator da comissão parlamentar de inquérito. Uma delas versava sobre uma entrevista concedida por Mandetta na qual alegava que o presidente recebia aconselhamentos sobre a contenção da pandemia por pessoas fora do Ministério da Saúde. Nesse momento, o ex-ministro citou o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos).
Várias vezes na reunião do Ministério, o filho do presidente, que é vereador no Rio de Janeiro, estava sentado atrás, tomando as notas na reunião. Eles tinham constantemente reuniões com esses grupos dentro da presidência"
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde
De acordo com a versão do ex-ministro, os aconselhamentos de grupos paralelos eram constantes na gestão de Bolsonaro. Mandetta chegou a narrar um momento em que foi informado que a reunião aconteceria no terceiro andar do ministério, junto com médicos e vários ministros.
Esse teria sido o dia em que o ex-ministro teria ouvido falar sobre a "cloroquina", medicamento sem eficácia comprovada recomendado pelo presidente para combater a covid-19.
Fui informado, após uma reunião, que era para subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos. Vinha propor esse negócio de cloroquina que nunca eu havia conhecido, porque ele [Bolsonaro] tinha um assessoramento paralelo nesse dia"
Luiz Henrique Mandetta
Sem citar nomes, um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), reagiu nas redes sociais logo depois da fala do ex-ministro da Saúde na comissão dizendo que havia um "festival de mentiras" e um "circo boçal de narrativas".
"Festival de mentiras. Circo boçal de narrativas. Se a lei valesse de verdade, um sujeito que se preza mentir descaradamente onde a lei diz que não deveria, sair preso desse local era o esperado em um país sério! Mas vivemos no Brasil onde tudo acontece ao contrário!", escreveu ele.
Mandetta diz que não deixaria cargo na pandemia
Mandetta ocupou o cargo de ministro da Saúde entre janeiro de 2019 e abril de 2020. Na CPI da Covid, o ex-ministro disse que "jamais" pediria para sair da gestão durante a pandemia e disse que um médico não pode "abandonar seus pacientes".
Eu não pediria jamais demissão do cargo, fui nomeado para ser Ministro da Saúde do Brasil pelo presidente. O cargo de ministro de saúde, ele é, em situação de pandemia, eu tinha um paciente doente, eu tinha que ficar com meu paciente a revelia de tudo e de todos baseado no que eu tivesse de melhor
Luiz Henrique Mandetta
Quando ele foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, a média móvel de mortes por covid-19 no país era de 142 óbitos por dia. Hoje, a mesma média é de 2.375 mortes. Mais de 407 mil pessoas morreram no país em decorrência da doença.
Mandetta chegou a dizer que a sensação que tinha era de ser o "mensageiro da má notícia" ao orientar o presidente Jair Bolsonaro sobre o que deveria ser feito para evitar o colapso da saúde.
Em diversos momentos da oitiva, Mandetta afirmou que pautou suas decisões enquanto ministro com base "no estudo e na ciência" e que sua relação com o presidente Jair Bolsonaro foi se distanciando por conta de divergências sobre como lidar com a contenção da pandemia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.