Após desgaste com Mandetta e Pazuello, governo escala líder para compor CPI
Após desgastes provocados ontem com o depoimento de Luiz Henrique Mandetta e o contexto do adiamento da fala de Eduardo Pazuello na CPI da Covid, o governo de Jair Bolsonaro articulou a escalação de seu líder no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), como integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito.
Na posição de suplente, Bezerra ficará no lugar do senador Zequinha Marinho (PSC-PA). A ideia é que o líder tenha mais espaço de fala para sair em defesa do governo na CPI — na qual os governistas são a minoria.
O anúncio da troca foi feito hoje na sessão da CPI, que recebeu o segundo ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Nelson Teich, por um dos principais defensores do presidente na comissão, Marcos Rogério (DEM-RO).
"Encaminhei, agora há pouco, à Secretaria-Geral da Mesa, e já deve estar no sistema, a substituição de um dos membros da comissão, que está na vaga de suplente do Democratas, substituindo o senador Zequinha Marinho, em absoluta concordância com ele. Em seu lugar, o senador Fernando Bezerra. Apenas comunicando a vossa excelência que já está como membro suplente nesta comissão", afirmou.
A avaliação do governo é de que precisa melhorar a tropa de choque em sua defesa na CPI. Ontem, na fala de Mandetta, repleta de exposições de alertas sobre a gravidade da pandemia da covid-19 embasados na ciência que foram ignorados por Bolsonaro, os governistas não conseguiram desequilibrar o ex-ministro.
Ao longo da sessão ontem, parte dos senadores governistas não rebateu críticas de Mandetta e teve uma retórica considerada ruim, passando uma imagem de despreparo, na avaliação da oposição.
Questionado por um dos principais líderes do centrão no Senado, Ciro Nogueira (PP-PI), sobre recomendação dada no início da pandemia, Mandetta afirmou que a "mesma pergunta" chegou a ser enviada a ele pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. E que este apagou a mensagem antes que pudesse respondê-lo.
O ataque de Mandetta contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, sem uma resposta considerada à altura, também causou incômodo no governo. O ex-ministro o classificou como uma pessoa "desonesta intelectualmente" e que não "ajudou em nada" durante a pandemia.
"Esse ministro, ele não soube nem olhar para o calendário [de vacinação] para falar 'puxa, não tem vacina sendo comercializada no mundo...'. Eu só posso lamentar. O ministro da Economia não ajudou em nada, pelo contrário. Só ligava e falava 'já mandei o dinheiro, se virem, agora vamos tocar a economia", disparou.
Uma eventual convocação de Paulo Guedes à CPI preocupa o governo não por uma possível responsabilização do ministro, mas pelo seu histórico de conflito com o Congresso e falas polêmicas.
Fernando Bezerra Coelho foi um dos articuladores da reunião entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente José Sarney, em Brasília, em 27 de abril, mesmo dia em que a CPI estava sendo instalada no Senado. O objetivo era tentar pedir o apoio do MDB no embate do governo com o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
Ao UOL, o líder do governo disse que "as melhores armas do governo na CPI serão o diálogo com todos os membros incluindo a oposição e a qualidade das informações e dos depoimentos que serão prestados".
O governo também busca tornar mais claro o papel de cada ministro perante articulações para a CPI, após divergências entre Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral da Presidência) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).
A ideia é que Onyx fique mais responsável pela articulação política relativa à CPI enquanto Ramos fique na coordenação de levantamento de dados e relatórios, inclusive junto a outras pastas.
A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, deve seguir focada na articulação política da agenda do Planalto no Congresso Nacional em temas que não sejam a CPI, além de tentar resolver problemas ligadas ao andamento das reformas tributária e administrativa.
Em meio a essa articulação para tentar melhorar a tropa de choque, hoje de manhã, o presidente Bolsonaro ameaçou editar um decreto contra medidas de restrição impostas por governadores e prefeitos para o controle do novo coronavírus e disse que "ele não será contestado por nenhum tribunal".
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