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Pazuello relativiza crise em Manaus, senadores reagem e CPI tem bate-boca

Rayanne Albuquerque, Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral*

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

19/05/2021 13h01Atualizada em 19/05/2021 16h01

Ao ser questionado na CPI da Covid sobre a crise de abastecimento de oxigênio em Manaus, no Amazonas, em janeiro deste ano, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello relativizou a situação e disse que o produto esteve em falta por somente três dias. Senadores reagiram, causando revolta especialmente no senador pelo Amazonas e líder do MDB no Senado, Eduardo Braga.

Momentos depois, quando o senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) buscou isentar o governo federal de qualquer culpa e dizer que a responsabilidade pela crise era do governo estadual, ao tentar defender Pazuello, houve bate-boca entre o parlamentar e o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

Ao STF (Supremo Tribunal Federal), o governo federal disse que o Ministério da Saúde foi avisado em 8 de janeiro sobre a escassez crítica de oxigênio nos hospitais de Manaus.

No depoimento à CPI, Pazuello disse que só ficou sabendo da crise de oxigênio no Amazonas na noite de 10 de janeiro e alegou que a falta de abastecimento teria durado apenas três dias — 13, 14 e 15 de janeiro.

A declaração gerou indignação em Eduardo Braga. De forma exaltada, ele afirmou que o ministro estava mentindo e que a falta do produto durou muito mais tempo.

Não faltou oxigênio no Amazonas apenas três dias, pelo amor de Deus. Ministro Pazuello, pelo amor de Deus! Faltou oxigênio na cidade de Manaus mais de 20 dias. É só ver o número de mortos. É só ver o desespero das pessoas tentando chegar ao oxigênio"
Eduardo Braga (MDB-AM), senador

Antes, ao ser questionado pelo filho do presidente e senador, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), sobre de quem era a competência para o fornecimento de oxigênio, Pazuello disse ser do estado do Amazonas e afirmou não ter faltado apoio do governo federal.

Omar Aziz lembrou ter havido uma série de erros no processo, como a falta de atuação - e agradecimento - do Itamaraty pela doação de oxigênio da Venezuela e a demora do Executivo federal para responder sobre avião colocado à disposição pelos Estados Unidos. Disse ainda que a experiência negativa de Manaus aconteceu em outros estados e municípios depois.

Ao ser questionado por Eduardo Braga de forma mais firme sobre o que aconteceu para causar a falta de oxigênio no Amazonas, Pazuello buscou elencar esforços do governo federal.

"Quando a gente observa os mapas, a gente vê que a White Martins [empresa de fornecimento de oxigênio] começa a consumir seu estoque já no final de dezembro. Começa a ficar negativa. Então ela tem um consumo, uma demanda e começa a entrar no negativo. [...] Então, a White Martins foi consumindo o seu estoque até chegar em 13 [de janeiro] para 14 [de janeiro], quando teve uma queda de 20% mais ou menos - 20, vinte e poucos porcento, não atendidos. E isso aconteceu por dois a três dias, entre 13 e dia 15. No dia 15, já voltou a ser positivo o estoque de Manaus", afirmou Pazuello.

Eduardo Braga disse que a informação era "mentirosa" e afirmou que faltou oxigênio em Manaus por mais de 20 dias.

"O senhor estava lá. O senhor assistiu com os seus olhos os nossos brasileiros amazonenses morrerem por falta de oxigênio", disse.

Braga ainda questionou Pazuello se ele sabia quando foi o pico das mortes no mês de janeiro no Amazonas, ao que o ex-ministro respondeu: "As mortes, por oxigênio, foram de 14 para 15".

O senador então rebateu: "Não, ministro, desculpe. Nós tivemos pico de morte de oxigênio no Amazonas, inclusive no dia 30 de janeiro - no dia 30 de janeiro!". Ele ainda questionou a celeridade do governo federal em fornecer cargas de oxigênio ao estado e disse que, "antes, nós ficávamos dependendo da ajuda do Gusttavo Lima, do Paulo Gustavo".

Minutos depois, quando os ânimos estavam um pouco mais calmos, Luis Carlos Heinze afirmou que foram liberados no ano passado R$2,606 bilhões pelo governo federal para o combate à pandemia. Omar Aziz logo respondeu que Heinze estava mentindo.

"Você está mentindo, Heinze! Você é mentiroso! Não é verdade isso que você está falando. Isso é uma mentira multiplicada...", afirmou Omar, enquanto Heinze retrucava e dizia que iria mostrar os números.

"Vou puxar a tabela e vou ver quanto foi para lá. Foi o dinheiro lá. Não é irresponsabilidade do governo federal, é do governo lá do Amazonas...", disse Heinze.

A sessão acabou sendo suspensa por alguns minutos. O bate-boca ainda durou mais um pouco.

"Larga de ser mentiroso. Mentiroso! Não enche o meu saco", disse Omar.

Pazuello disse que "sempre aceitou" ofertas de oxigênio

No depoimento, Pazuello afirmou que "sempre aceitou" todas as ofertas de oxigênio feitas ao Brasil. Durante a oitiva, o general do Exército também afirmou que nunca recebeu ordens do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que era a favor do distanciamento social.

Todas as ofertas de oxigênio eu aceitei todas. Se elas não foram concretizadas, eu não posso dizer por que não chegou"
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde

Em janeiro, o UOL revelou que os Estados Unidos ofereceram um avião para agilizar o transporte de oxigênio até o Amazonas, mas não recebeu resposta do governo federal em tempo hábil para o uso da aeronave. À CPI, Pazuello disse que nunca foi perguntado sobre as especificações para o uso do avião.

A Venezuela doou oxigênio ao Brasil, sem a atuação do Itamaraty. Ontem, também aos senadores, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo confirmou que intermediou nem não agradeceu o ato.

* Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.