'Exército não vai deixar se politizar', diz general Santos Cruz
Para o ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (sem partido) e general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, há tentativas "fortes" e "nítidas" de se "arrastar" as Forças Armadas e o Exército para a política. Na avaliação dele, no entanto, essas iniciativas não devem prosperar.
"Eu acredito que o Exército não vai deixar se politizar", disse Santos Cruz ao UOL Entrevista, conduzido pelo jornalista Diego Sarza e pelos colunistas Josias de Souza e Carla Araújo.
No último fim de semana, o ex-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello compareceu a uma manifestação favorável a Bolsonaro no Rio de Janeiro. Questionado pelo Exército sobre o que motivou sua participação, Pazuello disse "não ter participado de um ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro" e afirmou ter sido convidado apenas para um passeio de moto.
O Exército abriu um procedimento disciplinar contra Pazuello, que pode ser punido por transgressão leve, média ou grave. Ao longo da entrevista, Santos Cruz declarou que nem o ex-ministro acredita na própria versão apresentada como defesa. "Saímos do limite do razoável e fomos para o limite do absurdo para ter que escutar coisa desse tipo", afirmou.
Questionado sobre uma possível interferência de Bolsonaro sobre a decisão do Exército com relação a Pazuello, o general defendeu a liberdade da instituição para agir conforme suas regras.
Tentar impedir que o Exército exerça as medidas de preservação da sua estrutura é subversão da ordem e da disciplina.
General Santos Cruz ao UOL Entrevista
O general destacou ainda que a Força possui uma estrutura hierárquica e que "não tem como furar esse bloqueio". Uma eventual queda do comandante Paulo Sergio Nogueira em meio a esse conflito, portanto, seria seguida da ascensão de outro militar preparado para ocupar o posto, na avaliação de Santos Cruz.
Raciocínio binário e "fanatismo"
Santos Cruz também fez críticas ao que classificou como um "estímulo ao fanatismo" no cenário político brasileiro. Para o general, falas de Bolsonaro que abrem margem para o entendimento de que ele não aceitará um resultado desfavorável nas urnas em 2022 fazem parte de um "contexto de projeto pessoal, de pequeno grupo".
"Na democracia existe o revezamento, a troca de poder com as eleições, a troca de pessoas nas funções eletivas. E democracia é reforçar as instituições", disse ele.
"Esse estímulo ao fanatismo, a nossa sociedade é completamente anestesiada, intoxicada de informação falsa, de shows, de coisas espetaculares o tempo todo", completou.
Para o general, o Brasil "não conseguiu se unir" e, com o agravamento provocado por um "raciocínio binário", o país acabou com um problema de "fanatismo".
"Fanatismo não tem saída, fanatismo termina em violência. O fim do filme do fanatismo é sempre violência —se não for generalizada, ao menos é localizada em algumas reações pessoais ou de pequenos grupos", declarou.
Para Santos Cruz, o Brasil já está polarizado entre duas alternativas que, na avaliação dele, não são interessantes para as eleições presidenciais do ano que vem. "O fanatismo está deixando todo mundo anestesiado", afirmou. "Não há propostas institucionais, nem de melhorias das instituições".
Pesquisas eleitorais realizadas recentemente apontam que os candidatos que se sairiam melhor caso a disputa fosse hoje são Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um levantamento do instituto Datafolha divulgado no dia 12 de maio mostra Lula com 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro.
'Estelionato eleitoral'
Ex-ministro de Bolsonaro, Santos Cruz afirmou não se arrepender de ter votado em 2018 no atual presidente e nem de ter entrado para o governo. "Fui eleitor absolutamente normal. Acho que, naquele momento, era a melhor opção pela proposta e também para encerrar o período de governo do PT", disse ele.
Para o general, no entanto, o presidente acabou não cumprindo com suas promessas feitas à época da campanha, o que Santos Cruz classificou como um "típico caso de estelionato eleitoral".
Como dois exemplos, ele citou o combate à corrupção e a prisão em segunda instância, que figuravam entre as principais bandeiras de Bolsonaro à época da eleição.
"Quando foi anunciado [o nome do ex-juiz federal] Sergio Moro, quando foi usado o conceito da Lava Jato na campanha, foi para se eleger", afirmou.
Perguntado, hoje, em quem votaria nas eleições de 2022 caso a disputa seja entre Lula e o atual presidente, o general disse que considera não votar. "Vai ser um dilema muito grande", pontuou.
"Estou engajado em alertar a população de que nenhuma das duas alternativas é boa para o país. Acho que temos que valorizar uma outra alternativa, que vai aparecer", disse.
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