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PE: 2º ferido no olho 'levantou a mão e avisou que não participava do ato'

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL, do Recife

30/05/2021 14h24Atualizada em 31/05/2021 07h27

Além de Daniel Campelo, de 51 anos, um outro homem ficou gravemente ferido durante a manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ontem no Recife (PE). O risco de o arrumador Jonas Correia, 29 anos, ficar cego do olho direito é de 99%, de acordo com os médicos. Segundo a família dele, o rapaz pediu passagem à PM, durante manifestação anti-Bolsonaro, por estar no caminho de casa, e foi alvejado duas vezes, na sobrancelha e no olho.

"Meu marido pediu para passar porque estava vindo para casa. Ele levantou as mãos e avisou que não estava participando do protesto. Que só queria passar. E eles miraram na cabeça dele de propósito", contou a Daniela Barreto, esposa da vítima, ao UOL.

Jonas, de acordo com a esposa, havia largado do trabalho, mas esperou a multidão passar para poder seguir para sua residência.

Ele só estava por lá porque pedi para ele comprar carne. Na ponte, nem tinha mais manifestantes, mas a polícia estava mandando o povo voltar. Ele disse: 'Pessoal, preciso passar por aqui porque estou indo para minha casa, aí em Santo Amaro'. Não deram nem ouvido e atiraram para matar.

O arrumador passou a noite no HR (Hospital da Restauração). Foi transferido para o Hospital Altino Ventura, mas, como o inchaço na região impediu procedimentos, teve que retornar ao HR.

Jonas afirmou que ergueu os braços e avisou que não fazia parte do protesto antes de ser alvejado - JUNIOR BOO/ESTADÃO CONTEÚDO - JUNIOR BOO/ESTADÃO CONTEÚDO
Jonas afirmou que ergueu os braços e avisou que não fazia parte do protesto antes de ser alvejado
Imagem: JUNIOR BOO/ESTADÃO CONTEÚDO

Na unidade, os médicos disseram à esposa dele que Jonas tem 99% de risco de perder a visão do olho direito, devido à dimensão da lesão.

"Aí, ontem à noite o policial foi lá pedir desculpas a ele. Meu marido disse: 'O que vocês fizeram comigo foi uma covardia e não tem desculpa'. Meu marido não quer dinheiro, ele só quer a visão dele", disse.

A esposa do arrumador denuncia que, além de ferirem a vítima, os policiais teriam tentando impedir o socorro.

"O irmão veio de carro socorrer ele. Os PMs não queriam deixar o carro passar. Foi maior confusão. Mas Deus não dorme. Vou ver todos eles na justiça", disparou.

"Agora que meu marido está nessa situação, não sei como vamos fazer porque ele é quem traz o sustento para mim e nossos dois filhos. O governo mandou nos chamar para uma conversa. Vamos ver o que sai disso", concluiu Daniela.

Jonas Correia e Daniel Campelo, outro homem que também perdeu a visão devido a ferimentos provocados por balas de borracha, serão reavaliados amanhã no Altino Ventura, onde devem passar por cirurgias.

Procurado, o hospital disse que só soltará nota sobre o estado clínico dos dois amanhã, após essa reavaliação.

O que dizem as autoridades

Sobre a ação truculenta que acabou ferindo Jonas e Daniel, a Polícia Militar de Pernambuco informou que não vai se pronunciar.

A corporação se limitou a dizer que o governador Paulo Câmara (PSB) já se posicionou, fazendo menção ao vídeo divulgado ontem, que não aborda a questão dos feridos.

O UOL procurou o governo do estado, que garantiu que presta assistência aos dois feridos pela PM. O governador Paulo Câmara determinou que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos acompanhe a assistência médica e inicie processo de indenização às vítimas.

"Assim como estamos acompanhando a investigação que está sendo realizada pela Corregedoria, também vamos seguir de perto a assistência às pessoas feridas", garantiu o governador.