Topo

Maia diz que votaria em Lula em eventual segundo turno contra Bolsonaro

Colaboração para o UOL

07/06/2021 12h22Atualizada em 07/06/2021 12h47

Ex-presidente da Câmara, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou hoje no UOL Entrevista que, em um eventual segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), votaria no petista.

"Se esse fosse o segundo turno, com certeza [votaria em Lula]", disse Maia, que classificou Bolsonaro como um "não democrata".

Eu não tendo a votar nulo ou branco, tenho sempre posições. No segundo turno, entre o candidato que eu considero democrático --que tem avanços importantes no Brasil, mas cometeu erros também-- e outro que eu acho que não respeita as instituições democráticas, é óbvio que vou votar pela democracia.
Rodrigo Maia no UOL Entrevista

Na entrevista, conduzida pela jornalista Fabíola Cidral e pelos colunistas Tales Faria e Thaís Oyama, Maia declarou não ter "dúvida nenhuma" de que "não há um respeito do presidente da República em relação ao Supremo [Tribunal Federal] e em relação ao Congresso Nacional, que são as bases da democracia brasileira".

Em 2018, Maia votou em Bolsonaro no segundo turno contra o então candidato do PT, Fernando Haddad. "Achava que o ministro Paulo Guedes [Economia] poderia apresentar as mudanças que o Brasil precisa, e não achava que o presidente tinha essa rede toda autoritária", afirmou o deputado.

Ao mesmo tempo, Maia não se declarou arrependido da escolha que fez àquela época. "Eu tinha as informações de 2018. Eu não sabia que ele tinha toda essa estrutura na mão", afirmou.

Terceira via

O deputado ainda afirmou que, em outros cenários de segundo turno, votaria em nomes como João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) para evitar a reeleição do atual presidente.

Apesar disso, Maia defendeu a necessidade de uma "união de esforços" para a construção de uma candidatura única do campo da centro-direita para "retirar o presidente Bolsonaro do segundo turno".

"O governador Doria, o governador Eduardo Leite, o senador Tasso [Jereissati], [o ex-ministro Luiz Henrique] Mandetta, entre outros que queiram disputar eleição, deveriam construir um projeto verdadeiro, concreto, onde todos caminhassem idealmente para o mesmo partido", disse.

Para o deputado, não é possível ter mais de um candidato do mesmo campo de ideias. "Se não compreendermos que não há espaço para três ou quatro candidatos, estaremos colocando nossos projetos individuais à frente do projeto coletivo", afirmou.

"Não há espaço para Ciro, Doria, Eduardo Leite e mais Mandetta. Quem quer construir quatro candidaturas vai destruir o centro e favorecer a polarização. Sei que é difícil, mas está na hora de todo mundo sentar na mesa, construir uma regra, um programa, e [com isso] basear depois a escolha de um nome. Ninguém pode imaginar que Bolsonaro terá menos de 20% [das intenções de voto] no 1º turno, e Lula menos de 30%", pontuou.

Polarização e eleições de 2022

Para Maia, a polarização entre Lula e Bolsonaro pode gerar "conflitos de rua muito violentos". O deputado citou a repressão policial a um ato contrário ao atual presidente, no Recife, como exemplo do que pode vir a acontecer nas eleições de 2022, segundo a avaliação dele.

"Aquilo não aconteceu sem motivação. Quem está na política acompanha o que o presidente faz de forma permanente na relação dele com as polícias militares", disse Maia, que ponderou: "Temos o risco grande de caminhar para uma eleição muito violenta em 2022".

Voto impresso

Maia também criticou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que torna obrigatório o voto impresso. A pauta é defendida por Bolsonaro e seus apoiadores, que têm levantado dúvidas sobre a confiabilidade da urna eletrônica, apesar de não haver provas de fraudes nesse sistema nas eleições no Brasil.

"Todos os partidos que querem uma eleição transparente e democrática precisam interditar rapidamente o debate da PEC do voto impresso na Câmara", disse Maia. "Não apenas os que fazem oposição declarada, mas aqueles que não estarão no palanque do presidente, têm responsabilidade sobre esse e outros debates", afirmou.

Governo do Rio

O ex-presidente da Câmara ainda afirmou que, neste momento, sua prioridade é a política nacional —e que, por isso, não considera disputar o governo do estado do Rio de Janeiro nas eleições do ano que vem.

"Quero ajudar a construir um movimento novo, de centro, centro-direita. Tenho muito a colaborar com essas agendas", declarou. Mesmo assim, Maia afirmou que, caso seja chamado pelo partido, não desconsidera este caminho -o deputado está em vias de sair do Democratas para se filiar ao PSD.

"Não posso negar que, se em algum momento eu for chamado —e com isso não quero dizer que têm que me chamar, não acho que eu seja a primeira opção—, mas se me chamarem não nego que eu possa, lá na frente, tomar uma decisão nesse caminho", disse.

Impeachment de Bolsonaro

Maia ainda avaliou que o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), e o atual presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), limitam a chance de prosperar um processo de impeachment contra Bolsonaro.

Segundo ele, Mourão não tem confiança política do plenário da Câmara como havia com o então vice-presidente Michel Temer (MDB) durante o governo de Dilma Rousseff (PT). "Você tinha Temer vinculado à política e [Eduardo] Cunha, que operou o impeachment. Um impeachment desse, pelo que compreendi como deputado da planície, aquela operação foi toda construída pelo presidente da Câmara", disse ele.

Forças Armadas precisam 'recuperar seus valores'

O ex-presidente da Câmara afirmou ainda que as Forças Armadas "precisam recuperar rapidamente seus valores". Na semana passada, o Comandante do Exército, general Paulo Sérgio, decidiu não aplicar punição ao general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ter participado de um ato político ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro.

"A questão do Exército é gravíssima. [As Forças Armadas] precisam recuperar rapidamente seus valores, seus princípios. O presidente Jair Bolsonaro talvez esteja indo à forra contra as Forças Armadas —lá atrás quase foi expulso, talvez esteja dando o troco pelo que ele passou", disse Maia.