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"Bolsonaro deixou governadores à mercê da desgraça", diz Witzel à CPI

Thaís Augusto, Gabriel Toueg e Hanrrikson de Andrade

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo e em Brasília

16/06/2021 11h08Atualizada em 16/06/2021 17h38

Durante depoimento na sessão de hoje da CPI da Covid, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou os governadores "à mercê da desgraça", em referência à pandemia do coronavírus.

"O governo federal, para poder se livrar das consequências do que viria com a pandemia, criou uma narrativa estrategicamente pensada. Os governos estaduais ficariam em situação de fragilidade, porque não teriam condições de comprar os insumos, respiradores e, inclusive, atender os seus pacientes no SUS", disse Witzel. "A minha situação como governador do Rio de Janeiro era crítica, e nós não conseguíamos diálogo com o presidente [Jair Bolsonaro], o presidente não dialoga comigo".

Em seguida, questionou: "Como é que você tem um país em que o presidente da República não dialoga com um governador de estado? O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria".

Witzel, cujo mandato foi cassado devido a acusações de corrupção na área da saúde durante a pandemia, fez ainda outras críticas a Bolsonaro, a quem ele se opõe no cenário político. Na versão do depoente, o chefe do Executivo federal "politizou" a pandemia e criou "narrativas" por divergências com governos locais em relação a temas como o isolamento social.

O único responsável pelos 450 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado, aqui, no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou.
Wilson Witzel, ex-governador do RJ

Desamparo

Mais cedo, Witzel havia dito na CPI que os prefeitos e governadores ficaram "desamparados" e sem canal de diálogo com o governo federal durante a pandemia do coronavírus —período iniciado entre fevereiro e março de 2020.

O ex-governador fluminense compareceu hoje à comissão na condição de testemunha convocada. Inicialmente, ele optou por não fazer uso do direito ao habeas corpus deferido ontem (15) pelo ministro Kassio Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal Federal), mas Witzel evocou o documento quando acabou deixando a sessão, depois de ouvir acusações e trocar farpas com senadores.

A decisão da Corte autorizava o depoente a se ausentar, sob argumento de que ele teria o direito de "não produzir provas contra si mesmo", pois já é investigado pelo MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio).

"Os governadores, prefeitos de grandes capitais e de pequenas cidades ficaram totalmente desamparados do apoio do governo federal. É uma realidade inequívoca que está documentada em várias cartas que nós encaminhamos ao presidente", disse Witzel.

"Fizemos várias reuniões suplicando ao presidente da República que nos atendesse, que pudéssemos conversar para encontrar soluções em conjunto, soluções que outros países encontraram."
Wilson WItzel, ex-governador do RJ

Segundo Witzel, nas poucas reuniões que teriam ocorrido com Bolsonaro, houve percepção coletiva de que a chefia do governo federal se empenhava em politizar o assunto e transformar governadores em rivais. "[O governador de São Paulo João] Doria foi frontalmente atacado de forma descortês".

Witzel disse ainda ter feito pedidos de ação conjunta entre o Executivo e os governos estaduais, o que, segundo ele, não foi acatado.

O depoente também defendeu a ação de governadores. "Desde o início do controle da pandemia, buscamos tomar as medidas de acordo com as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde)".

O ex-governador também usou o espaço de fala na abertura da audiência da CPI da Covid para se defender das acusações pelas quais teve o mandato cassado.

Na versão dele, o impeachment foi resultante de uma suposta tentativa de perseguição política relacionada às investigações do caso Marielle.

"Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores da Marielle, o meu calvário e a perseguição conta mim (foram) inexoráveis."

A argumentação de Witzel, que faz parte de uma estratégia de defesa, não é baseada em fatos apurados pelas instituições competentes.

Impeachment

A cassação do mandato de Witzel foi confirmada por um tribunal especial misto (formado por deputado estaduais do Rio e desembargadores) em 30 de abril deste ano. Ele foi condenado, por unanimidade, pelo crime de responsabilidade após denúncias de corrupção durante a pandemia. Witzel nega ter cometido irregularidades.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.