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Aziz sobre denúncia da Covaxin: Se Bolsonaro foi comunicado, é muito grave

Do UOL, em São Paulo

23/06/2021 16h41Atualizada em 23/06/2021 19h08

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse é grave se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tinha conhecimento sobre as denúncias de irregularidades no processo de negociação e compra da vacina Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, fabricada no Brasil pela Precisa Medicamentos. As declarações foram feitas em entrevista hoje à GloboNews.

Agora a investigação vai para um outro rumo. Se o presidente foi comunicado, ele prevaricou, correto? E a prevaricação do presidente é uma coisa muito grave. Segundo: se o presidente disse para o deputado
Omar Aziz

Ao mesmo tempo, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito afirmou que é preciso ter cautela para que o equilíbrio seja mantido durante as investigações, sem politizar os fatos que têm sido apresentados ao longo das oitivas.

Quando falo para ter cautela, é para que a gente possa ter o equilíbrio necessário para não prejudicar as investigações e não politizar, que é o que todo mundo [não] quer. Trouxeram para gente um caso de corrupção, um caso de beneficiamento. E pior: se o presidente tomou conhecimento pelos dois irmãos e, assim mesmo, ligou para o PM para poder comprar a Covaxin, já sabendo antecipadamente que tinha problema na licitação
Omar Aziz

O senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI da Covid, também classificou como "graves" as denúncias de irregularidades no processo de negociação e compra da vacina Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, fabricada no Brasil pela Precisa Medicamentos.

"O caso é grave, e o fato de não ter sido pago se deve a atuação do servidor, que não aceitou fazer a antecipação dos recursos para uma empresa que não tinha envolvimento na negociação. É bom lembrar que as vacinas não foram entregues, o pagamento não foi feito, mas o contrato foi assinado, e isso é sim uma prova contundente que o governo aceitou o jogo que está colocado", disse, em entrevista à CNN.

Pedido direcionado à Nunes Marques

Aziz disse para a GloboNews que os advogados da Precisa Medicamentos pediram para que não houvesse quebra de sigilo, com um direcionamento do processo especial ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Cassio Nunes Marques.

Me estranhou muito, os advogados deles, pedir para não quebrar sigilo fiscal e pediu para encaminhar para o ministro Nunes Marques. Geralmente isso é feito um sorteio dentro do Supremo. Essas evidencias que tem aparecido com compra de camisinha, os problemas que essa emrpesa tem em Brasília e agora isso das vacinas

O presidente da CPI da Covid relembrou ainda que essa foi a primeira vez que o Brasil utilizou uma empresa para atravessar as negociações por vacinas e que, em nome de todos os brasileiros, o colegiado no Senado tem a "missão e invesgigar a fundo" o que aconteceu para a tramitação desses contratos.

Investigações sobre a Covaxin

Uma reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo revelou que documentos do Ministério das Relações Exteriores mostram que a gestão Bolsonaro pagou um valor 1.000% mais alto que o anunciado seis meses antes pelo fabricante.

Hoje, o deputado Luís Miranda (DEM-DF), afirmou que seu irmão, Luís Ricardo, servidor do Ministério da saúde, sofreu pressões pela importação do imunizante e se recusou a autorizá-lo, apontando para possíveis fraudes no processo. O parlamentar revelou ter alertado tanto o então Ministro Pazuello, quanto o presidente Bolsonaro sobre suas suspeitas.

"Acredito que teremos que fazer uma investigação mais aprofundada no que diz respeito a essas denúncias, não tenha dúvida que vamos seguir em frente. Com a cautela necessária. Uma das primeiras coisas é confirmar se de fato o presidente pediu ou não a abertura de inquérito para apurar denúncias feitas pelo deputado e seu irmão. Ele apresentou provas de que teria repassado essas informações. Resta saber o que o presidente fez. Se ele realmente não tomou nenhuma medida, acho que o foco começa a se dirigir para ele", avaliou Costa, sobre o foco da CPI diante das novas informações.

Mais cedo, também à emissora, o senador Alessandro Vieira, suplente da CPI, compartilhou da mesma opinião, afirmando que a falta de pagamento não diminui a gravidade das denúncias.

"A contratação foi feita, a Covaxin foi contratada em tempo recorde, ultrapassando uma série de restrições legais e administrativas, e o pagamento, segundo o contrato, só poderia ser feito apos a entrega. Quando chega essa nota fiscal, com o nome de uma quarta empresa, que não teria ligação aparente, com o valor da dose absurdamente mais alto, o servidor de carreira se recusa a assinar o documento com o pagamento antecipado. Lembrando que a Precisa responde a um processo justamente por pagamentos feitos pelo Ministério da Saúde que não tiveram a entrega efetiva, se eu não estou enganado, eram medicamentos para doenças graves", disse.

"É realmente muito diferente da tratativa que vemos com a Janssen e com a Pfizer, que você tem o governo retardando, criando dificuldades, se recusando a resolver as dificuldades, e com a Covaxin é ao contrário. O fato de você não ter a concretização do pagamento não altera a gravidade dos fatos. Não adianta tapar o sol com a peneira. Isso tudo é muito grave, merece apuração e no que depender da CPI terá apuração", finalizou.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.