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Diretora da Precisa volta a se calar, e CPI remarca depoimento para amanhã

Anaís Motta, Luciana Amaral e Sara Baptista

Do UOL, em São Paulo e Brasília

13/07/2021 20h13Atualizada em 13/07/2021 21h29

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu encerrar a sessão de hoje da comissão e reconvocou a diretora-executiva da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, para depor amanhã, a partir das 9h. A oitiva, que começou de manhã, foi interrompida por mais de sete horas depois que Emanuela se negou a responder às perguntas dos senadores.

A executiva vai depor junto a Francisco Maximiano, sócio-administrador da Precisa. Originalmente, estava previsto para amanhã o depoimento do reverendo Amilton de Paula, mas ele apresentou um atestado alegando um problema renal — posteriormente confirmado por uma perícia feita pelo Senado. Agora, de Paula deve ser ouvido apenas em agosto, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A interrupção na sessão de hoje se deu em função de uma discussão sobre a validade do habeas corpus obtido por Emanuela Medrades. A diretora da Precisa se negou a responder toda e qualquer pergunta da comissão, mas os senadores argumentaram que ela só podia ficar em silêncio sobre questões que poderiam incriminá-la, o que foi ratificado pelo ministro Luiz Fux, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ao retornar para a sessão, Emanuela afirmou diversas vezes que estava física e mentalmente exausta e pediu que o depoimento fosse adiado. Diante da negativa dos senadores, ela voltou a se recusar a responder as perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL).

É humanamente impossível você passar o dia inteiro nessa tortura e depois ter que vir aqui e depor por mais 8 horas, sendo que eu estou totalmente disposta a esclarecer e eu só pedi 12 horas de adiamento.
Emanuela Medrades, à CPI da Covid

Depois, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) chegou a pedir que o presidente da CPI considerasse a possibilidade de dar ordem de prisão à depoente caso ela continuasse a se negar a responder. Omar Aziz, então, rebateu as declarações de Emanuela, dizendo que "exaustos estamos todos nós".

"Exaustos estão 534 mil brasileiros que perderam a vida e seus familiares. Exausto é a brincadeira que se fez no Brasil para comprar vacina, e a Precisa brincou de perder vacina, a senhora está aqui por causa disso. A sua exaustão não é um centímetro de um filho ou de uma mãe que chora a perda do pai ou dos seus filhos", declarou.

Questionada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), Emanuela afirmou que pretendia colaborar com a CPI, mas que não tinha condições de responder naquele momento. Aziz, então, perguntou se ela responderia às questões no dia seguinte, ao que ela afirmou que sim.

Senadores criticam PF

Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Emanuela depõe na CPI na condição de testemunha, o que lhe impede de ficar calada e lhe obriga a falar a verdade. Ela só conseguiu no STF o direito de permanecer em silêncio sobre fatos que poderiam incriminá-la porque é um dos alvos do inquérito da Polícia Federal que apura supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde, intermediada pela Precisa.

A executiva falou ontem à PF, o que foi usado por sua defesa como argumento para embasar seu silêncio na CPI. A situação levou senadores a criticarem a Polícia Federal por "atrapalhar" os trabalhos da comissão. Simone Tebet (MDB-MS, foto acima), por exemplo, disse que a instituição não pode servir de instrumento para "embaralhar" as investigações.

"Ela [Emanuela] não tinha por que se negar a uma resposta que, ao contrario de prejudicá-la, poderia só vir a protegê-la", afirmou a senadora à GloboNews. "A Polícia Federal é um órgão de fiscalização e controle do Estado, não de governo. Ela não pode servir de instrumento para embaralhar a CPI. (...) [A PF] Tem que ser parceira e colaborativa com a CPI."

Já o senador Humberto Costa (PT-PE) sugeriu que o depoimento de Emanuela à PF foi planejado justamente para atrapalhar a CPI.

"É uma tentativa de sincronizar os movimentos da CPI com algumas decisões que a PF está tomando em ouvir as pessoas. A mim não convence o argumento do advogado de que [a oitiva à PF] estava marcada desde a semana passada, assim como não nos convenceu a abertura do inquérito às vésperas de [Francisco] Maximiano [sócio-administrador da Precisa] vir aqui", disse ele à CNN Brasil.

Partes acionam STF

Logo após a suspensão da primeira parte da sessão, a CPI recorreu ao STF para perguntar se a postura de Emanuela Medrades poderia configurar crime de falso testemunho ou desobediência, uma vez que o habeas corpus concedido pela Corte só lhe permitiu ficar em silêncio sobre fatos que poderiam incriminá-la, mas não a livrou da obrigação de esclarecer outras questões.

A decisão em forma de liminar é cristalina como água. Ele [Fux] deixa muito claro que dividiu o papel de Emanuela em dois momentos: naquilo que pode incriminá-la, ela pode permanecer calada. Por outro lado, naquilo que apenas a envolve, e nesse aspecto na função de testemunha, ela é obrigada a dizer a verdade, e não ficar silenciosa.
Simone Tebet (MDB-MS), à GloboNews

Em seguida, os advogados da diretora da Precisa também foram ao Supremo para pedir que a CPI fosse proibida de prendê-la em flagrante.

Após analisar as duas ações, o ministro Luiz Fux determinou que cabe à CPI avaliar medidas contra a depoente caso considere que ela está abusando do direito ao silêncio concedido pelo tribunal. Na prática, isso significa que a comissão pode dar ordem de prisão a Emanuela se julgar que ela cometeu crime ao se negar a responder perguntas.

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A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.


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