Dal Piva: Podcast joga luz em lado desconhecido de biografia de Bolsonaro
A jornalista Juliana Dal Piva, colunista do UOL e autora do podcast "A Vida Secreta de Jair", conta que o objetivo da apuração para esse projeto não era entender o caso de Fabrício Queiroz ou do deputado Flávio Bolsonaro, mas falar "sobre o presidente Jair Bolsonaro [sem partido] e vários aspectos de sua biografia que são desconhecidos".
Dal Piva foi a convidada do programa "Jornalistas e Etc." de hoje e contou os bastidores do programa, que trata do envolvimento de Bolsonaro em esquema ilegal de cobrança de dinheiro de assessores quando era deputado federal. "Jornalistas e Etc." é apresentado às terças pela colunista do UOL Thaís Oyama. Você pode assistir a todos os programas do UOL no Canal UOL.
Em 2018, a jornalista conta que passou a notar muitas mulheres no gabinete do atual chefe do Executivo, na época deputado, que não tinham "perfil de assessora parlamentar, não eram lideranças comunitárias, não eram técnicas, eram pessoas simples".
Ela relembra que, após a divulgação de reportagens que revelaram que Bolsonaro empregava uma servidora fantasma que vendia açaí em Angra dos Reis (RJ) e o caso de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), fontes deram a entender que a situação "envolvia muito mais gente".
Essa pessoa me disse: vocês estão superfocados no Queiroz, mas isso envolve muito mais gente e envolve muita gente da família do presidente e muita gente dessa segunda mulher do presidente. [...] A partir disso, comecei a focar no todo, não só na história do Queiroz. Comecei a levantar muitos documentos e transformar tudo aquilo que era em off em on.
Juliana Dal Piva, jornalista
"Off" é um jargão jornalistíco para apontar quando uma informação é obtida com o entrevistado ficando sob anonimato.
Para conseguir chegar às nomeações e exonerações do gabinete, por exemplo, Dal Piva contou que passou dez dias lendo todas as edições do "Diário Oficial" de 2001 a 2018.
A colunista do UOL comenta sua reação ao receber as gravações de Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro, em que afirmava que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque se recusou a devolver a maior parte do salário como assessor.
"Vim nervosa pelas ruas, pensando: Meu Deus, preciso chegar em casa logo e descarregar. Fiquei realmente anos tentando, porque eles [áudios] são de fontes distintas, então era um processo de convencer várias pessoas", relembra.
Podcast deveria ser 'didático'
Dal Piva disse também que estava inspirada pelo trabalho da jornalista Branca Vianna, da Rádio Novelo, e pelo podcast "Praia dos Ossos", que relata o assassinato da socialite brasileira Ângela Diniz. "Achei muito interessante a experiência da Branca de reviver alguns aspectos dela própria, como ela viveu aquilo. Ouvindo muito a Branca, fiquei pensando: 'Eu vivi tanta coisa desse caso, acho que tenho uma história para contar'."
A partir daí, o trabalho dela, em parceria com o núcleo investigativo do UOL, foi trazer outros assuntos dessa grande história que envolve o chefe do Executivo. "Teve uma primeira etapa em janeiro, quando eu, Gabriela Sá Pessoa e Amanda Rossi começamos a organizar os conteúdos", explica.
Depois dessa primeira organização, Dal Piva conseguiu entender onde estavam os "buracos" da história e fez um segundo roteiro para tornar mais didático.
Mensagem intimidadora após publicação de material
A jornalista também falou sobre o silêncio do governo federal em relação às denúncias reveladas e da mensagem "intimidadora" e "grosseira", de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, na última sexta-feira (9). "Ele não fala nada sobre as reportagens, ele não faz uma referência às denúncias, nem diz que vai me processar", conta Dal Piva, explicando que as mensagens foram direcionadas à pessoa dela.
"Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo", diz um trecho da mensagem enviada por Wassef.
Sobre próximos passos, Dal Piva conta que pretende escrever um livro das denúncias. "Para além do que vai acontecer no Judiciário, isso já é parte do Brasil", aponta.
O jornalismo brasileiro, quando consegue atingir a produção de conhecimento e que ajuda a construir o registro histórico, está cumprindo sua missão. Me sinto honrada de conseguir trazer essa dimensão histórica.
Juliana Dal Piva, jornalista
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