Tive de me arrastar para ligar para meu marido, diz Joice após ferimentos
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que precisou se arrastar para alcançar o celular e ligar para o marido, o neurocirurgião Daniel França, após acordar cheia de ferimentos em seu apartamento funcional, em Brasília. Em entrevista ao UOL News na noite de hoje, conduzida por Diego Sarza, Maria Carolina Trevisan e Lucas Valença, ela diz se viu em uma poça de sangue, com um galo na cabeça, dois dentes quebrados e cheia de fraturas e hematomas.
Segundo a parlamentar, por volta da 1h da madrugada do domingo, ela desligou a televisão após assistir à série "O Grande Guerreiro Otomano". Tomou um remédio para dormir, dizendo não ter exagerado na dosagem e ser o mesmo há 20 anos: "É igual água com açúcar".
Às 7h do dia seguinte, ela acordou de bruços, no chão. Imediatamente imaginou ter sido um mal súbito, princípio de infarto ou pequeno AVC. Ela explicou que dorme em quarto diferente do marido porque ele ronca muito.
"Me arrastei, peguei meu telefone e liguei para o meu marido. A primeira ligação deu na caixa [postal]. Fiquei desesperada porque não conseguia ficar em pé nem de joelho para abrir a porta. Tentei de novo. Dois minutos depois, o telefone tocou, ele veio me socorrer", contou.
Ela conta que, como só foi fazer os exames após alguns dias, não adiantaria fazer um teste toxicológico para identificar se ela pode ter sido dopada.
"Em busca de respostas"
Diante do incidente, a parlamentar disse hoje estar "em busca de respostas" e que não descartaria ter sido vítima de um atentado porque já que sofreu diversas ameaças durante sua carreira política. "Essas respostas precisam vir à tona", disse "Pedi imagens de segurança do apartamento funcional."
"Deixei claro, no depoimento à Polícia Legislativa [prestado hoje], que [o ataque] não é coisa de amador. Quem entrou no meu quarto sabe que eu durmo em um quarto e meu marido dorme distante do meu, sabe que eu tomo remédio para dormir, sabe os procedimentos da casa, sabe que eu dispenso a segurança enquanto estou de noite no meu apartamento", contou.
"Ou é alguém que tinha cópia da minha chave, ou é alguém que se escondeu aqui dentro. [O apartamento] tem três cômodos que nunca foram usados. Ou é alguém que se escondeu em algum apartamento [vizinho] de algum parlamentar, aí teve ajuda de alguém."
Suspeitas
Questionada sobre quem ela responsabilizaria pelo que acredita ter sido um atentado, Hasselmann disse ter levado suas suspeitas à Polícia Legislativa "Agora isso vai ser investigado."
Ela disse ter desafetos políticos, que ela poderia "dar uma lista [dos desafetos] por ordem alfabética", mas que seria "irresponsável citar algum" sem ter provas. "Todo mundo sabe quem são meus desafetos políticos", disse.
"A gente tem enfrentado os níveis mais sórdidos [de ameaças] na política brasileira, [por isso] meus desafetos cada vez aumentam mais", afirmou. "Mas não posso fazer como eles, como o próprio presidente da República [Jair Bolsonaro (sem partido)], culpando Fulano de Tal, dizendo que é de partido tal", defendeu.
Ela lembrou algumas disputas como ter denunciado "um balcão de negócios" na Executiva nacional do PSL e quadrilhas ligadas ao tráfico de mulheres e de crianças. "Eu tenho minhas suspeitas, é claro que eu tenho, e hoje eu disse quais são para a polícia", afirmou.
Como foi o caso
Ontem, em um post nas redes sociais, a deputada compartilhou um vídeo em que mostra os ferimentos. Na publicação, ela relata as fraturas e diz: "Não consigo entender o que aconteceu".
Em entrevistas, Joice disse ser possível ter sofrido um atentado porque não acha que as múltiplas fraturas tenham sido resultado de um desmaio seguido de queda. Ela não se lembra de nada.
Hoje, a parlamentar chamou de "canalhice" as suposições de que teria sido agredida pelo marido. Ela disse que Daniel foi o primeiro a prestar socorro e exigiu que fizesse tomografias.
"Não sou mulher de aguentar sequer alguém falando alto comigo, quem dirá um homem levantando a mão para mim. Quando falam isso, não estão ofendendo o meu marido, estão ofendendo a mim, a minha dignidade, a minha luta contra a violência contra as mulheres."
Na terça-feira (20), ela procurou dentistas e fez exames no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília.
Além de ter entrado em contato com as autoridades e pedido uma investigação da Polícia Legislativa, a parlamentar disse que chamou um segurança particular de São Paulo, trocou todas as fechaduras da casa e tem planos de andar armada.
A Bancada Feminina da Câmara dos Deputados divulgou nota manifestando apoio e solidariedade à deputada e pedindo ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) que o caso seja rapidamente apurado.
Golpe e eleições 2022
Antiga aliada de Bolsonaro, Hasselmann disse não descartar a possibilidade de um golpe por parte do presidente, que tem insistido em ataques contra a urna eletrônica. "Eu não [só] acredito na possibilidade de golpe, eu tenho certeza", afirmou. "Mas não acho que [um golpe] terá sucesso."
"Um dos assuntos que me colocava em rota de colisão entre quatro paredes com o presidente [Bolsonaro] era essa constante tentativa de golpe, a ponto de, dentro do Palácio [do Planalto], se falar nisso já no início do governo, com informações que eu levei ao presidente da Câmara e do STF na época", afirmou.
Não é um 'achismo'. Eu fiz parte desse primeiro ano do governo e saí quando estava com a máxima popularidade. Porque era impossível continuar compactuando com aquilo [falas sobre golpe].
Joice Hasselmann
Sobre as eleições do ano que vem, a parlamentar disse apostar na chamada terceira via, alternativa ao dualismo entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ela, todos seus esforços serão direcionados para construir essa terceira opção.
"O Brasil precisa disso [terceira via]. Não aguentamos mais extremos. A gente chegou aonde chegou pelos extremos. O fanatismo emburrece", disse. Ela afirmou ainda que apoiará "qualquer nome" que se apresentar como alternativa à disputa entre Lula e Bolsonaro, mas revelou que seus "candidatos do coração" são o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro e o atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
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