Ciro diz que Bolsonaro subornou cúpula militar: 'Partido miliciano'
Ciro Gomes (PDT) afirmou ter se enganado por imaginar que os militares poderiam moderar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à época de sua eleição em 2018.
"Mordi feio a língua. Ao invés dos militares moderarem Bolsonaro, o Bolsonaro subornou essa cúpula militar que está perigosamente sendo transformada num partido político miliciano. É o que nós temos pra enfrentar. Bolsonaro apropriou uma parte da cúpula das forças armadas. Esse General Braga Neto é um fascista mor, esse General Heleno é um fascista mor. É com isso que ele vai enfrentar a democracia, é um delírio", declarou Ciro durante o "Conversa com Bial" de hoje.
O presidente do PDT seguiu com suas críticas ao presidente.
Eu conheço o Bolsonaro e sei que o Bolsonaro é um grande canalha desde sempre. Eu fui contemporâneo dele deputado. O Bolsonaro roubava dinheiro da gasolina do gabinete, roubava dinheiro de funcionários fantasmas, roubava dinheiro do auxílio moradia. E o Bolsonaro sempre foi um cara ligado a tortura, às milícias. Eu em 93, governador do Ceará, pedi a cassação e a prisão do deputado Bolsonaro porque ele tinha feito uma dessas maluquices".
"Porém, quando ele ganhou a eleição, eu sou democrata. Eu cumprimentei e desejei boa sorte. Quando eu vi o desenho do governo, eu pensei cá comigo, tem uma turma aí que é o tecnocratismo absolutamente estúpido e inconsequente, mas eu chamei de núcleo racional do governo, que era, vamos dizer, simbolizado pelo Paulo Guedes. Eu discordo de tudo do Paulo Guedes, mas sei conversar com ele na linguagem do econômes. É um desastre completo, não conhece o Brasil, mas eu achava que esse núcleo tinha alguma racionalidade com quem a gente podia dialogar. Eu mordi a língua. A racionalidade do Paulo Guedes virou um patrimonialismo sem precedentes", concluiu.
Bolsonarismo x Lulopetismo
Ciro Gomes traçou ainda um paralelo entre os chamados "bolsonarismo" e "lulopetismo".
O que tá acontecendo com o governo Bolsonaro? É o mesmo modelo econômico do Lula. Claro que qualquer brasileiro sereno sabe que Lula e Bolsonaro são pessoas absolutamente distintas uma da outra. Bolsonaro tá no campo da tortura, da ditadura, do enfrentamento a ciência, da confrontação da cultura, do preconceito, xenofobia, enfim, no campo do perverso. Mas é a mesma governança política e o mesmo modelo econômico. Se a gente não entender isso, o debate vai ser picanha e cerveja vs os filhos ladrões do Bolsonaro, o Brasil não aguenta isso"
"É preciso que a gente traga esses assuntos centrais pro debate e não deixe essa redução odienta e simplória de paixões infantis e febris", afirmou Ciro, ressaltando ser necessário que se volte a discutir questões como modelo econômico e modelo de governança política.
Chances de evitar uma crise institucional
Questionado por Bial a respeito das chances que o país ainda tem de evitar uma grave crise institucional, Ciro criticou os tribunais do país por deixarem que o presidente Jair Bolsonaro tenha desviado o foco de questões importantes.
"40 milhões de pessoas com trabalho precarizado. O salário mínimo com menor poder de compra dos últimos 16 anos. A inflação do atacado com 35% ao ano. E o o Bolsonaro tem conseguido desviar o assunto pra voto impresso e esse conflito retórico em um tribunal que acaba engolindo e aperfeiçoando essa prática e derivando toda a discussão das graves discussões do país e nisso que eu não perdoo o Lula e o PT. Nós tínhamos que tá forçando o debate para aqueles assuntos que de fato interessando ao povo desqualificam Bolsonaro no seu mérito e não deixar ele incitar os fanáticos que o seguem cegamente", declarou.
Os tribunais precisam parar de fazer política e fazer a lei cumprir. Estou fazendo uma súplica ao poder político, nós precisamos carregar na pressão e dizer ao seu Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e aos senhores senadores, colégio de líderes, e ao seu Arthur Lira e ao seu colégio de líderes, à mesa, ao conjunto do parlamento, que eles estão prevaricando. Que eles têm uma responsabilidade indeclinável e insubstituível de botar ordem nesse caos institucional que o Bolsonaro está buscando como caldo de cultura para o delírio golpista que ele tem."
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