Após ironizar falta de feijão, Bolsonaro culpa isolamento por inflação
Após ironizar as críticas por conta da alta de preços de produtos da cesta básica como o feijão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou um evento com lideranças evangélicas em Goiás para tentar transferir a responsabilidade pela inflação crescente a prefeitos e governadores que adotaram medidas de isolamento social contra a covid-19.
Em discurso para pastores na manhã de hoje (28) durante a 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos da Conemad-GO (Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira) em Goiânia, Bolsonaro voltou a atribuir a crise econômica —com alta da inflação, desemprego recorde e aumento da fome no país— às medidas de controle da pandemia, que sempre foram atacadas por ele.
"Sabemos do sofrimento que o povo está passando. Porque como consequência daquela política do 'fica em casa, a economia a gente vê depois' chegou a conta para pagar. Enfrentamos uma das maiores crises hidrológicas da história do Brasil, tivemos uma geada. Problemas nós temos, mas o Brasil é um dos cinco países que menos sofreram no tocante à economia graças ao trabalho do nosso governo."
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Economia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto Brasileiro) caiu 4,1% em 2020, a maior queda em 24 anos.
Bolsonaro voltou a defender medidas criticadas por especialistas e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), como o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19 e a livre circulação de pessoas —a CPI da Covid no Senado acusa o governo de deliberadamente tentar propagar a doença entre a população para gerar a chamada "imunidade de rebanho", o que aumentou o número de mortes no país.
"Desde o começo eu falei. Devemos tratar a questão do vírus e o desemprego com a mesma responsabilidade e de forma simultânea. Não podemos apavorar o povo. Ficar dentro de casa não resolve absolutamente nada. Temos que enfrentar, buscar alternativas. Buscar tratamento", disse Bolsonaro.
O presidente foi alvo de uma onda de críticas de opositores e especialistas por ironizar a dificuldade da população mais pobre em comprar itens básicos da cesta básica, como o feijão. No caso do feijão fradinho, a alta chega a 48,19%. O arroz subiu 46,21%, enquanto o óleo de soja disparou 83,79% em junho, segundo o IBGE. Cortes de carne bovina de segunda tiveram altas superiores a 40%.
Ontem, Bolsonaro chamou de "idiota" quem critica a campanha pela compra de armas enquanto o preço desses itens básicos dispara.
"Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. O povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Daí tem um idiota que diz 'ah, tem que comprar feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar", afirmou Bolsonaro.
Ataques ao Judiciário
Bolsonaro também voltou a atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante o discurso aos líderes evangélicos. O presidente voltou a ameaçar com uma ruptura institucional.
"Temos um presidente que não deseja e nem provoca rupturas. Mas tudo tem um limite em nossa vida. Não podemos continuar convivendo com isso", ameaçou.
Ele disse aos apoiadores que seu futuro tem três alternativas: morte, prisão ou vitória na eleição de 2022. Contudo, garantiu que não existe possibilidade de que seja preso por conta de seus atos à frente da Presidência da República.
"Digo uma coisa aos senhores. Tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Pode ter certeza: a primeira alternativa, preso, não existe. Nem um homem aqui na Terra vai me amedrontar. Tenho a consciência de que estou fazendo a coisa certa. Não devo nada a ninguém. E ninguém deve nada a mim também", disse Bolsonaro, sendo aplaudido pelo público.
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