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Liderado por MBL, ato em SP pede impeachment de Bolsonaro e divide oposição

Histórico de atos como os de 2018 contra Lula dificultou diálogo com a esquerda  - Nelson Antoine/Estadão Conteúdo
Histórico de atos como os de 2018 contra Lula dificultou diálogo com a esquerda Imagem: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo*

12/09/2021 04h00

Hoje, manifestantes irão à avenida Paulista, na zona oeste da capital, para pedir o impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em um ato liderado por movimentos como MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua.

Foram eles que mobilizaram boa parte das manifestações por pautas antagônicas à esquerda, como o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a condenação em segunda instância e pela Operação Lava Jato.

Mas, desta vez, a pauta deles é cara à esquerda: pelo impeachment de Jair Bolsonaro e em defesa da democracia. A ideia do MBL e dos organizadores é que a manifestação seja uma nova edição das "Diretas Já", com todos vestidos da cor branca. Só que isso não foi o suficiente para convencer grande parte dos movimentos de esquerda a se juntarem à manifestação.

O evento conta com a participação confirmada de políticos de diferentes ideologias, mas, principalmente, dos candidatos ao posto de "terceira via" nas eleições de 2022 — aquele que deve se posicionar entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro.

Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania), Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e João Amoêdo (Novo) confirmaram presença na Paulista.

Outros políticos também devem estar presentes, como a deputada federal Tabata Amaral (sem partido) e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB). Contrariando decisão de seu partido, o PSOL, a deputada estadual por São Paulo Isa Penna também confirmou que estará na Paulista.

Eles defendem a união por de todos que são contra Bolsonaro. "Nós temos que viver 2021 para chegar em 2022. Navegar é preciso, viver não é preciso. Cada um vê a importância de se expressar nesse momento nos espaços que achar que deve se expressar, mas dificilmente a tônica vai ser diferente de defender a democracia. O que está em jogo é a realização de eleições no Brasil. Quem tem capacidade de diálogo e convivência vai em qualquer lugar", defendeu o ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta.

"Eu sou da geração dos movimentos estudantis quando explodiu diretas já. Lula já era candidato. Estava Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Brizola, Tancredo, Roberto Freire, estava todo mundo. O que era comum a eles? Todos precisavam de democracia", complementou.

Tábata Amaral concorda. "É momento de união. Tem tanta coisa em risco, sofrimento agravado todos os dias. Qualquer discordância ideológica tem que ser deixada de lado nesse momento. Realmente acho que tem tudo para ser a manifestação mais ampla e maior que já tivemos até aqui", afirmou.

"É um direito deles [da esquerda] comparecer ou não. Eu estou mais preocupado com a defesa da democracia, não com questões partidárias ou eleitorais", critica o senador Alessandro Vieira.

Após o PT (Partido dos Trabalhadores) formalizar decisão de não participar dos atos, apoiadores de Lula levaram aos assuntos mais comentados do Twitter ontem uma campanha para tentar desmobilizar a adesão à manifestação.

No início das mobilizações para amanhã, o MBL tentava emplacar o mote "Nem Bolsonaro nem Lula".

Rejeição ao MBL e Vem Pra Rua

De fato, grande parte dos movimentos sociais de esquerda, absolutamente críticos ao MBL e Vem Pra Rua, não irão comparecer ao ato. Mas há quem esteja no meio desse debate tentando fazer uma ponte entre os dois lados, como o movimento político Acredito.

"O Acredito vem buscando fazer a ponte entre direita e esquerda desde as carreatas que convocamos em janeiro/21. Tivemos alguns avanços desde então, mas sempre houve muita resistência do MBL e do Vem Pra Rua em relação à presença de bandeiras e camisetas relacionadas aos sindicatos e à esquerda. Vem desde os atos pelo impeachment da presidente Dilma, passando pelas eleições de 2018 e recentemente o 'Nem Lula nem Bolsonaro'", afirma o líder estadual do Acredito, Marco Martins.

"É difícil superar essas diferenças em um tempo tão curto. O MBL e a VPR mesmo não foram a nenhum dos ditos atos de esquerda. De nossa parte, entendemos que o momento é de deixar as diferenças de lado ante a urgência do momento, mas nem todo mundo pensa assim", pondera Martins.

Grande parte dos movimentos de esquerda, apesar de não participarem deste ato, sinaliza um diálogo. Para eles, é possível uma organização de uma "manifestação unitária".

"[O MBL e Vem Pra Rua] São dois movimentos de direita que contribuíram para eleição do Bolsonaro e para também projetos de retirada de direitos dos trabalhadores. Que bom que a saída de Bolsonaro é quase um consenso nacional, mas isso não significa que estaremos no mesmo barco, isso não funciona. Se eles quiserem participar dos nossos atos, devem nos procurar, ouviremos o que eles têm a dizer", disse ao UOL Roni Barbosa, secretário nacional de comunicação da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Líder da frente Povo Sem Medo, que também organiza atos da esquerda contra Bolsonaro e que não estará presente hoje, Josué Rocha afirma que defende a unidade contra Bolsonaro, mas critica MBL e Vem Pra Rua.

"A gente defende a unidade nesse momento pelo fora Bolsonaro, defende estar na rua com todos que querem defender impeachment. Mas não reconhecemos MBL e Vem Pra Rua como capazes de capitalizar esse processo, até meses atrás estavam dentro do governo Bolsonaro", disse.

"Não condenamos quem quiser comparecer no dia 12, mas não podemos excluir do cenário político a construção das mobilizações de rua. Quem admite fortalecer atos do MBL, fortalece o processo deles em relação ao Bolsonaro", complementa Rocha.

Sempre presente nos atos da esquerda, o ex-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, também diz que não irá à manifestação.

"Não vamos aderir a uma manifestação convocada por setores que estiveram em vários momentos juntos a Bolsonaro para a desestruturação da democracia brasileira. Fico feliz que alguns desses setores estejam se posicionando contra Bolsonaro, inclusive passando a defender o impeachment dele, espero que se consolide, se concretize. Vamos trabalhar para convocar uma convocação unitária", afirmou à reportagem.

A Coalizão Negra Por Direitos foi outra a definir que não participará dos atos deste domingo e também alfinetou os organizadores: "Todas as mobilizações são importantes, inclusive aquelas promovidas pelos setores responsáveis pela chegada de Bolsonaro à Presidência", diz em comunicado.

Em nota conjunta, entidades estudantis afirmaram não ter relação com os protestos, mas alertaram para a importância de reunir "amplos setores pelo Fora Bolsonaro" e disseram respeitar quem queira participar dos atos.

"A ampliação da oposição ao governo Bolsonaro nas ruas inaugura uma nova fase da nossa luta, e cria mais condições de vitórias do que nunca", diz a nota assinada por UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e ANPG (Associação Nacional de Pós-graduandos).

A campanha Fora Bolsonaro, inclusive, lançou nessa semana uma nova data de manifestação contra Bolsonaro: dia 2 de outubro, um sábado.

* Colaborou Juliana Arreguy, do UOL em São Paulo