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Professor: Termo usado por Barroso associa pessoas negras a algo negativo

Do UOL, em São Paulo

05/10/2021 13h23Atualizada em 05/10/2021 15h27

Para o professor Wallace Corbo, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), é preciso que a sociedade reflita sobre o uso de expressões que, no fundo, escondem ideias racistas e associam pessoas negras a questões negativas.

"Inveja branca é dizer que existe uma inveja negra, que é a ruim, e a inveja branca, que é uma inveja boa", disse o professor de Direito na FGV Rio em entrevista ao UOL News, programa do Canal UOL.

O termo inveja branca foi utilizado ontem por Luis Roberto Barroso, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em entrevista a duas jornalistas negras — Aline Midlej e Flávia Oliveira — no canal GloboNews.

Na ocasião, Barroso disse estar sentindo uma "inveja branca" das jornalistas por elas estarem, ao contrário dele, no Rio de Janeiro. Em seguida, o ministro do Supremo, entendendo prontamente que havia utilizado um termo racista, se corrigiu e pediu desculpas.

"Perdão, perdão, imediatamente. A gente, na vida, deve saber pedir desculpas. Então, vou começar de novo. Boa noite, Aline, boa noite, Flávia, que bom que vocês estão aí no Rio. Estamos ralando aqui em Brasília", disse em seguida.

No mês passado, a apresentadora Ana Maria Braga usou a mesma expressão durante o "Mais Você", da TV Globo. No programa do dia seguinte, ela se desculpou e disse que aquilo não se repetiria.

Para Corbo, é preciso refletir sobre termos utilizados no cotidiano. "O que isso diz sobre pessoas negras?", afirmou ele, citando, como outro exemplo, a palavra denegrir — "é associar pessoas negras a algo como sujar a imagem de alguém", esclareceu.

"Essas falas, piadas e comentários são violentos para pessoas negras", explicou. "Construímos de maneira não intencional, de maneira inconsciente, esse simbolismo que associa pessoas negras a um lugar negativo", prosseguiu.

Todas as pessoas, inclusive as que se posicionam como antirracistas, estão sujeitas a acabar utilizando essas expressões, pontuou Corbo. A questão central, segundo ele, é que deve ocorrer uma constante reflexão para que esses termos sejam, gradualmente, abandonados.

"É como, de fato, parece ter acontecido com o Barroso, na medida em que ele errou e, no momento do equívoco, percebeu a gravidade do erro, pediu desculpas e tentou se corrigir", frisou.