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Maranhão: Vereador retira microfone de vereadora para impedi-la de falar

Rafael Souza

Colaboração para o UOL, de São Luís

08/10/2021 10h12

A sessão da Câmara Municipal de Pedreiras (MA) da última quarta-feira (6) ficou marcada por uma discussão que terminou com o vereador Emanuel Nascimento (PL) retirando o microfone da vereadora Katyene Leite (PTB), impedindo com que ela falasse em duas oportunidades.

A interrupção acontece no momento em que Katyene Leite pede respeito ao vereador após o parlamentar afirmar que ela votou contra um projeto da casa.

Nascimento chega a acusar a vereadora de 'constranger' parlamentares como represália a um projeto que ela apoiou, mas que foi negado pela casa. Katyene tenta argumentar, mas é impedida após o vereador se levantar e retirar o microfone.

"Ele não poderia fazer aquilo. De modo sorrateiro e machista, violou todas as prerrogativas funcionais garantidas a uma parlamentar, quebrando o decoro e censurando com violência o que há de mais sagrado dentro de um parlamento, que é a liberdade de se expressar e defender seus ideais. A atitude do vereador incentiva a cultura machista que deve ser a aniquilada", disse a vereadora em um post nas redes sociais.

Ao UOL, Katyene explicou as reclamações por parte de Nascimento e afirmou que registrou um Boletim de Ocorrência por violência política. Ela também disse esperar por um pedido de desculpas do vereador e apoio de outros parlamentares.

"Ele diz que eu não aprovei o projeto de um parque em Pedreiras, mas eu aprovei. Tenho a cópia com todas as assinaturas de todos os vereadores. Sobre o projeto negado, foi um projeto de lei de políticas públicas aos autistas. Um projeto lindo que foi negado simplesmente porque eu não fui autora. Alegaram também inconstitucionalidade. Enfim, ele não me pediu desculpas e apenas alguns vereadores homens se solidarizaram comigo. Não tive apoio das mulheres da casa", disse Katyene.

Emanuel Nascimento (PL) negou que tivesse agido com violência. Segundo o vereador, Katyene teve seu momento de fala e queria uma tréplica indevida pelas as regras da Câmara. Ele também justificou a ação porque estaria nervoso, devido a diabetes, e pediu desculpas a parlamentar.

"Em virtude de minha doença eu acabei agindo extremamente. Quero me desculpar com ela, com as vereadoras, com as mulheres. Eu não sou violento. Estou aberto a ter uma conversa com ela. Eu espero o bom convívio. Deus conhece o meu coração. Eu espero, na primeira oportunidade, pedir desculpas a ela. As pessoas ficam pensando que eu a agredi, mas eu jamais toquei em um fio de cabelo dela. Eu simplesmente tirei o microfone dela naquele momento, porque ela não tinha mais direito à palavra", declarou o vereador.

Após o caso, diversas instituições e políticos se posicionaram. A União dos Vereadores e Câmaras do Maranhão emitiu nota de repúdio afirmando que Katyane teve seu direito de fala interrompido.

A Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão, por meio da Comissão da Mulher e Advogada, afirmou que a atitude de Emanuel foi 'covarde'.

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) classificou o caso como violência política de gênero, e afirmou que "a agressão sofrida pela vereadora não expressa somente uma discordância da sua opinião política, mas sobretudo a misoginia e o desprezo contra as mulheres que ocupam espaços de poder e lutam pela igualdade".

Em um vídeo gravado com a deputada estadual do Maranhão, Mical Damasceno (PTB), a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, também afirmou que houve um caso de violência política e prestou solidariedade à vereadora Katyane.