Sergio Moro critica o STF: 'Ajudou a enfraquecer o combate à corrupção'

O ex-ministro Sergio Moro (Podemos), pré-candidato às eleições de 2022, fez críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal), durante entrevista ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo. Na opinião do ex-juiz, que foi responsável por julgar os processos da operação Lava Jato em Curitiba, o Supremo enfraqueceu o combate à corrupção.

"Houve mudanças no STF. Eu tenho grande respeito por Luiz Fux [presidente do Supremo], acho um grande homem público, mas infelizmente nos últimos anos o STF ajudou a enfraquecer o combate à corrupção. E tudo isso acaba confrontando o sentimento de justiça, com criminosos sendo soltos. E o povo brasileiro pensa 'mas espera aí, não existe Justiça? Não existe verdade?'. A verdade é uma só, não acredito em fatos alternativos", disse Moro ao jornalista Pedro Bial.

O ex-juiz também comentou sobre os embates com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode ser seu adversário nas urnas em 2022.

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"Eu nunca tive uma questão pessoal com o ex-presidente Lula. Eu fiz meu papel de juiz. O que nós vimos durante o governo dele foram os maiores escândalos da história. O mensalão não foi julgado por mim. Foi descoberto um esquema de compra de votos para apoiar o governo federal, e quem era o presidente da época? A Petrobras foi dia e noite saqueada como nunca antes na história desse país. Isso não é mito, não é ficção, Temos provas e reconhecemos o maior esquema de corrupção da nossa história."

Moro foi o responsável por condenar, em primeira instância, o ex-presidente Lula, que teve de abandonar a candidatura à Presidência em 2018. À época, Moro foi acusado de usar a magistratura para interferir na eleição em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em abril deste ano, o STF anulou as condenações do petista.

Moro disse que se sente preparado para assumir a liderança do projeto de governo do partido Podemos, ao qual se filiou na semana passada já com um discurso de presidenciável.

Eu estou preparado para assumir a liderança de um projeto de governo e certamente não estou sozinho. Me sinto pronto para liderar, nós estamos construindo um projeto consistente. Se o povo brasileiro tiver essa confiança, seguiremos adiante.

Sem apoio de Bolsonaro

O ex-ministro também comentou sobre sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, em abril de 2020, e disse que deveria ter deixado o cargo antes.

"Estendi minha permanência no governo porque eu tinha um projeto de lei anticrime que apresentei no começo de 2019, que teve uma tramitação lenta porque eu não tinha apoio do governo. Então foi votado apenas em dezembro de 2019. O projeto não foi aprovado nos termos que apresentei e algumas medidas que foram inseridas interferiam no combate à corrupção. Pedi para o presidente vetar, mas ele não vetou. Confesso que fiquei surpreso, porque ele tinha o discurso voltado para o combate à corrupção", afirmou.

"Eu tinha expectativa de o presidente ser mais estadista. Fiz o máximo que eu pude, até o momento em que me foi retirada a possibilidade de continuar no governo e foi aberto aquele inquérito. O que foi gravado naquela reunião ministerial, aquilo é bastante revelador, todo mundo que assistiu àquilo viu o que estava acontecendo", completou.

O inquérito citado por Moro apura se Bolsonaro interferiu indevidamente na Polícia Federal. Em depoimento à PF no início deste mês, o presidente negou qualquer ingerência no órgão, mas confirmou que em meados de 2019 solicitou ao ex-ministro Sergio Moro a troca do então diretor Geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, "em razão da falta de interlocução que havia entre o presidente da República e o diretor da Polícia Federal".