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Foragido nos EUA desde 2017, Rei Arthur ganha direito à prisão domiciliar

O empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur - Reprodução/Globonews
O empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur Imagem: Reprodução/Globonews

Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/11/2021 12h44

Foragido desde 2017, o empresário Arthur Soares —conhecido como Rei Arthur nos bastidores políticos do Rio de Janeiro— obteve no TRF2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) um habeas corpus que lhe dará direito à prisão domiciliar caso retorne ao Brasil.

Soares é um dos principais alvos da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro. Tido como maior fornecedor do governo do estado do Rio durante os governos de Sérgio Cabral, ele é apontado como um dos principais integrantes do esquema de corrupção comandado pelo ex-governador.

A decisão foi tomada pela Primeira Turma Especializada do TRF2. Relatora do caso, a desembargadora federal Simone Schreiber foi contrária à concessão do habeas corpus. Contudo, foi voto vencido, já que os desembargadores Antonio Ivan Athié e Marcello Ferreira de Souza Granado votaram pelo benefício ao empresário.

Com a decisão, Rei Arthur tem 15 dias para se apresentar às autoridades no Brasil após ser notificado. Neste caso, será obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica e poderá ficar em prisão domiciliar no país. Caso não cumpra esse prazo, o empresário volta a ser considerado foragido.

Durante o governo Cabral, Soares —dono do grupo Facility— obteve uma série de contratos milionários com o estado. O empresário foi um dos responsáveis pela implantação do serviço Poupa Tempo, em uma licitação que foi direcionada, segundo o ex-governador. Também recebeu milhões em serviços no Detran-RJ (Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro).

Rei Arthur sempre negou todas as acusações. No pedido de habeas corpus, seus advogados afirmam que "o paciente [Soares] é experiente empresário, atuando de forma lícita desde o início de sua vida profissional" e que "os aumentos patrimoniais vultosos (...) estão perfeitamente documentados e possuem origem lícita".

Preso por menos de 24 horas em 2019

Desde 2017, autoridades brasileiras tentam obter a extradição do Rei Arthur junto aos Estados Unidos. O nome do empresário foi incluído na lista de difusão vermelha da Interpol.

Em 2019, o paradeiro do Rei Arthur foi revelado por uma reportagem da TV Globo. Meses depois, em outubro daquele ano, o empresário foi preso por aproximadamente 24 horas por autoridades americanas.

Segundo o advogado Nythalmar Filho, o empresário foi detido por não portar a documentação necessária para renovação de visto de permanência nos Estados Unidos.

Contudo, horas depois Arthur Soares foi libertado pelas autoridades americanas e continuou vivendo normalmente no país, onde também mantém negócios e imóveis.

Compra de votos na Rio 2016

Entre as acusações, Rei Arthur responde pela compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse escolhido sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Em julho de 2019, Cabral confirmou durante depoimento ao juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e responsável pelas ações da Lava Jato fluminense, que articulou com Soares a compra de votos de membros do COI (Comitê Olímpico Internacional).

De acordo com o ex-governador, entre os votos comprados está o do nadador Alexander Popov, bicampeão olímpico nas provas de 50 m e 100 m livres em 1992 e 1996, e o do ucraniano Serguei Bubka, campeão olímpico em 1988 no salto com vara. Cabral disse que nove dos 95 membros votantes foram comprados ao todo por US$ 2 milhões.

O valor foi depositado pelo empresário Arthur Soares no exterior para o então presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, que distribuiu o dinheiro aos membros comprados, ainda segundo Cabral. Após ser avisado pelo ex-presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman, da possibilidade de comprar os votos através de Diack, Cabral relatou ter acionado Arthur Soares para obter o dinheiro —que saiu de sua conta de propina com o empresário.

"Chamei o Arthur Soares na minha casa, que era onde nós conversávamos, e expus para ele a necessidade do dinheiro para obter esses votos. Ele disse: "Nenhum problema, isso entra aqui na nossa configuração de compromissos"", contou o ex-governador em audiência.

Cabral afirmou que o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (hoje no DEM, na época no MDB) e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (MDB) foram informados após a compra dos votos. O ex-governador não apontou, contudo, envolvimento ativo dos políticos citados na negociata. Eles negam as acusações de Cabral.