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Ida de Bolsonaro a área devastada na Bahia vira ato com apoiadores

Lucas Valença

Do UOL, em Brasília

12/12/2021 14h27

Após sobrevoar cidades do sul da Bahia devastadas pelas chuvas, o presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) acabou transformando a agenda em um ato com apoiadores com apelo eleitoral. Tanto Bolsonaro quanto os ministros que o acompanhavam não usavam máscara de proteção contra a covid-19.

A visita à cidade de Itamaraju, que provocou aglomerações, contou com um passeio de Bolsonaro pela cidade acenando em carro aberto, muitas selfies com apoiadores e diversas transmissões ao vivo por canais oficiais de comunicação do presidente nas redes sociais. Depois disso, o presidente deu uma entrevista à imprensa sobre o apoio à região —o governador da Bahia, Rui Costa (PT) não participou.

As chuvas na Bahia deixaram cinco mortos, 3.700 desabrigadas e afetaram diretamente a vida de quase 70 mil pessoas, segundo a Defesa Civil do Estado. Em Minas Gerais, que também sofre com as enchentes, duas pessoas morreram na última semana.

12.dez.2021 - Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Itamaraju (BA) - Reprodução - Reprodução
12.dez.2021 - Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em Itamaraju (BA)
Imagem: Reprodução

Acompanhado de ministros, Bolsonaro desembarcou do helicóptero em um campo de futebol da cidade afetada pelo temporal e embarcou na caçamba de uma caminhonete. Apoiadores o aguardavam nas arquibancadas. Por vezes, ele foi saudado por gritos de "mito".

No veículo, Bolsonaro percorreu ruas da cidade por cerca de uma hora acompanhado por apoiadores que buzinavam em motocicletas —até mesmo parte do trajeto foi transmitido ao vivo pelos canais oficiais do governo federal.

Participaram do passeio em carro aberto o ministro da Cidadania, João Roma; da Saúde, Marcelo Queiroga, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho —eles também fizeram registros de imagens ao lado de Bolsonaro. Os ministros guardam pretensões eleitorais para 2022.

Em um dos momentos da transmissão pela equipe do presidente, Queiroga aparece acenando à população da cidade.

Além de a ida de Bolsonaro ao local provocar aglomeração, nem o presidente, nem os ministros utilizavam máscara de proteção individual, medida contra a covid-19 recomendada pelas autoridades sanitárias. A maioria dos apoiadores também não usava o item de proteção.

Em uma entrevista coletiva realizada depois da visita à Itamaraju, o presidente aproveitou uma pergunta para atacar o governador da Bahia, Rui Costa (PT), e as medidas de isolamento social e de fechamento do comércio, como medidas para conter a proliferação da covid-19, adotadas por gestores estaduais e municipais.

"Também tivemos uma catástrofe no ano passado, quando muitos governadores, inclusive o da Bahia, fecharam o comércio e obrigou o povo a ficar em casa. O povo, em grande parte, informais condenados a morrerem de fome dentro de casa", afirmou o presidente.

Para amenizar os impactos causados pela chuva, o governo federal anunciou ontem políticas emergenciais para a população local, como a liberação pela Caixa Econômica Federal do FGTS, a reconstrução de estradas e pontes e o fornecimento de água e alimento aos atingidos pelo temporal.

Mais cedo, em um vídeo gravado no Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro utilizou as redes sociais para atacar o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, recém-filiado ao Podemos, partido de seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que planeja disputar as eleições de 2022.

Na publicação, o presidente afirma que chegou a rejeitar uma audiência com o Deltan em 2019 por temer que o ex-procurador saísse do encontro "com uma história pronta" e o incriminasse com alguma mentira. A declaração indica estratégia para atacar a pré-candidatura de Moro.

Sobre a acusação feita por Bolsonaro, o ex-coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba Deltan Dallagnol afirmou que "jamais" pediu ou aceitou algum convite de reunião com Bolsonaro.

"Interlocutores do Palácio do Planalto me procuraram em 2019 para perguntar se eu aceitaria me reunir com ele (Bolsonaro), mas eu recusei do mesmo modo como recusei o convite para ir me encontrar com (Michel) Temer em 2016", afirmou.