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Monark defende existência de partido nazista dentro da lei; Tabata rebate

Monark, do podcast "Flow": Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei" - Reprodução
Monark, do podcast "Flow": Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei" Imagem: Reprodução

Do UOL*, em São Paulo

08/02/2022 10h30Atualizada em 08/02/2022 20h24

O apresentador do podcast "Flow", Bruno Aiub, conhecido como Monark, defendeu a existência de um partido nazista no Brasil que fosse reconhecido por lei. O comentário do podcaster ocorreu ontem durante entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri (DEM) e Tabata Amaral (PSB).

"A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião [...] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei", disse Monark.

Com a repercussão do caso, o podcast Flow demitiu hoje o apresentador Monark.

Na tarde de hoje, ele publicou um vídeo pedindo desculpas pela fala. Depois, o vídeo foi retirado do ar. Durante a tarde, ao tentar acessar o episódio, aparecia a seguinte mensagem: "Este vídeo é privado". O UOL procurou o Flow para saber o motivo da suspensão do conteúdo, e aguarda um retorno.

No Brasil, é considerado crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação do nazismo, conforme o artigo 1º da Lei 7.716/89. Caso seja caracterizado o ato de divulgar ou comercializar materiais com ideologia nazista, a pena pode variar entre um a três anos de prisão e multa.

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O podcaster foi rebatido por Tabata, que afirmou que o nazismo coloca a população judaica em risco. "Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco coloca a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco", disse a parlamentar.

"As pessoas não têm o direito de ser idiotas?", questionou o apresentador.

Na sequência, Monark pergunta à deputada como o nazismo coloca os judeus em risco. "De que forma [isso acontece]? Quando [o nazismo] é uma minoria, não põe. Mas era [um risco] quando era uma maioria", emendou, sem considerar o Holocausto na 2ª Guerra Mundial, que matou milhões de judeus pelo nazismo.

"A comunidade judaica até hoje tem que se preocupar com sua segurança porque recebe ameaça. O antissemitismo é uma coisa que tem ser combatida todos os dias", respondeu Tabata.

O deputado Kim Kataguiri também entrou na discussão. Ele usa uma suposta fala de um membro partidário do PCO para argumentar, de maneira superficial, que os partidos com bandeiras ideológicas comunistas também não poderiam existir devido a declarações que poderiam violar os direitos humanos. O parlamentar não detalhou sobre as circunstâncias envolvendo a suposta declaração do membro partidário.

"Quando o Rui Costa, do PCO, fala em fuzilar burguês, por exemplo, aquilo está contemplado pela liberdade de expressão. Pelo menos no entendimento de hoje", disse. "E isso entra em contradição com violação de Direitos Humanos. Então, por essa definição, o partido comunista não deveria existir", completou.

Entidades israelitas condenam afirmação

A Conib (Confederação Israelita do Brasil) divulgou uma nota condenando a fala do youtuber.

"O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera "inferiores". Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias", disseram. "O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica".

Já a Federação Israelita de São Paulo se manifestou afirmando que o apresentador sugere "a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial [que é o da liberdade de expressão], muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias".

"Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos", acrescentou.

Pedido de desculpas

Monark publicou na tarde de hoje um vídeo em que pede desculpas pela declaração. "Eu errei, a verdade é essa. Eu tava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares do mundo, nos Estados Unidos, por exemplo, mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro, eu estava bêbado, eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Peço perdão pela minha insensibilidade", disse ele.

"Mas eu peço também um pouco de compreensão, são quatro horas de conversa, a gente já tava bêbado. Fui insensível sim, errei na forma com que eu me expressei, dá a entender que estou defendendo coisas abomináveis, é uma m...errei pra c...eu peço compreensão aí de vocês mesmo e peço desculpas a toda comunidade judaica", continuou.

Crimes no nazismo

O Holocausto, como ficou conhecido o genocídio de judeus por alemães, está entre os maiores crimes cometidos contra a humanidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha obrigou que os judeus trabalhassem de maneira forçada em campos de concentração. No entanto, eram enquadrados nessa situação os homens mais fortes. Aqueles considerados "improdutivos" eram enviados para as câmaras de gás.

O episódio trouxe várias consequências no mundo. Em 1946, a ONU reconheceu por unanimidade os crimes de agressão, de guerra e contra a humanidade como crimes de direito internacional. Dois anos depois, a organização também adotou a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio.

Desde o fim da Guerra Fria, tribunais especiais também julgaram crimes internacionais cometidos em países específicos, como o genocídio cometido em Ruanda em 1994. Já em 2002, um novo Tribunal Penal Internacional permanente começou a funcionar e o mesmo modelo também foi adotado em alguns países para processar autores de crimes internacionais.

Partido nazista no Brasil

O Brasil já teve um partido nazista. Cinco anos antes de Adolf Hitler se tornar chanceler da Alemanha, em 1933, a primeira seção brasileira do Partido Nazista foi criada em Benedito Timbó (SC). A data: 1º de julho de 1928. O mesmo aconteceu em seguida em outros países da América Latina, como Chile e Argentina, mas o Landesgruppe Brasilien (grupo do Brasil) foi o primeiro a ser reconhecido pelas lideranças do partido em Munique.

Em 1938, com a proibição de todas as agremiações políticas, o Partido Nazista permaneceu clandestino no país e foi sujeito a batidas policiais. Em 1940, houve o indiciamento dos editores do jornal "Aurora Alemã" pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS-SP), a prisão de Otto Braun em 1942 pelo mesmo órgão repressivo que o fez entregar o nome das lideranças do partido e, consequentemente, a dissolução do partido em 1945, com a derrota do Eixo.

Após a redemocratização, o neonazismo tentou se estruturar no Brasil através do Partido Nacional Socialista Brasileiro (PNSB), fundado por Armando Zanine Júnior em 1988.

Apesar do nome, nunca foi oficializado na Justiça Eleitoral e teve curta atuação. O país vivia uma efervescência política pós-ditadura militar. Influenciados pelo nacionalismo de extrema-direita histórico do Brasil e o movimento National Frontal no Reino Unido, o grupo possuía membros skinheads neonazistas e defendia a reabilitação da figura de Hitler perante à sociedade.

*Com informações de Marie Declercq, do UOL TAB, em São Paulo.

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