Vira-casacas: Weintraub e mais 8 ministros que saíram criticando Bolsonaro
A lista de ministros do presidente Jair Bolsonaro (PL) que saíram do governo dando declarações bem críticas à gestão só aumenta. Em um áudio compartilhado nas redes sociais, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub falou das alianças que o ex-chefe fez durante seu governo e disse: "ou é com Lula, ou a gente continua piorando", em referência à tentativa de reeleição do presidente.
Depois da repercussão do áudio, Weintraub declarou que "jamais apoiaria" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas ele não é o primeiro a dar sinais de que "virou a casaca".
Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), Nelson Teich e Gustavo Bebianno, por exemplo, protagonizaram embates e deram declarações críticas antes de deixarem os seus postos no governo. Veja a lista:
Luiz Henrique Mandetta
O uso da cloroquina e o relaxamento do isolamento social foram duramente criticados pelo então ministro da Saúde ao deixar a pasta. Enquanto o presidente defendia publicamente o remédio para tratamento da covid-19, Mandetta se negou a assinar um decreto sobre a utilização da substância, que não tem comprovação científica.
Ele chegou a dizer que esperava "uma fala unificada e o fim da dubiedade" entre suas orientações e as de Bolsonaro a respeito da pandemia. "O brasileiro não sabe se ele escuta o ministro da Saúde ou se escuta o presidente da República", declarou, antes de deixar o cargo, em abril de 2020.
As críticas a Bolsonaro continuaram depois disso. À CPI da Covid, em maio do ano passado, ele disse que Bolsonaro teria contrariado orientações do Ministério da Saúde no combate à pandemia e apresentou uma carta em que alertava o presidente sobre o avanço do coronavírus durante sua gestão. No documento, o então ministro recomendava "expressamente" que o governo mudasse o posicionamento adotado naquele momento e acompanhasse as recomendações do ministério.
Nelson Teich
Sucessor de Mandetta no Ministério da Saúde, Nelson Teich também discordou publicamente do presidente em relação ao uso de cloroquina. Teich defendia que o distanciamento social deveria ser uma medida de combate à pandemia, enquanto Bolsonaro defendia que apenas pessoas do grupo de risco ficassem em isolamento. Ele saiu da pasta em menos de um mês.
Gustavo Bebianno
O ex-ministro Gustavo Bebianno, que morreu em 2020 após um infarto, protagonizou outro embate com o presidente antes de deixar a Secretaria Geral da Presidência de República, em 2019.
Após a Folha de S.Paulo denunciar o repasse de R$ 400 mil do fundo partidário do PSL para supostas candidaturas "laranjas" nas eleições e envolver o ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) no esquema, Bebianno chegou a ser apontado como o responsável pela liberação das verbas. Ele negou e disse ter informado a Bolsonaro sobre os casos já em 2018.
Depois, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) disse que a versão de Bebianno era "mentira absoluta". O filho do presidente afirmou divulgou áudios com a voz do pai, afirmando que não conversaria com ninguém.
Bebianno e Bolsonaro chegaram a se encontraram, mas não houve reconciliação. Um dia após a reunião, o então ministro fez uma postagem nas redes sociais: "O desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça".
Um dia depois da exoneração, em fevereiro de 2019, áudios e mensagens revelados pela revista "Veja" mostraram uma conversa entre o presidente e Bebianno. As mensagens ainda revelavam que, dias depois, o ex-ministro criticou o ataque que recebeu de Carlos Bolsonaro.
Santos Cruz
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz deixou o comando da Secretaria Geral da Presidência da República (Segov), um dos principais cargos no governo de Jair Bolsonaro, em 2019. A decisão veio do presidente, segundo nota divulgada por Santos Cruz.
Santos Cruz comandava áreas estratégicas do governo, como a comunicação do Planalto, mas era criticado pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro.
Num dos episódios de discordância, uma propaganda do BB que explorava o tema da diversidade saiu do ar por determinação do Planalto. Bolsonaro vetou a campanha dizendo que "a massa quer respeito à família", e Santos Cruz afirmou que a Secom não poderia interferir na publicidade de estatais.
Carlos Bolsonaro então foi às redes sociais dizer que havia "uma comunicação falha há meses da equipe do presidente".
Já fora do cargo, Santos Cruz (Podemos) chamou o presidente de 'sem-vergonha' e 'traidor'. "Não tem ingenuidade, tem 'sem-vergonhice'. Prometer uma coisa, e depois não fazer. Você não pode considerar um parlamentar que tinha 28 anos de Câmara como ingênuo", disse.
Ele foi questionado sobre a promessa de negociação política sem "toma lá, dá cá".
"O grande traidor desse país se chama Jair Messias Bolsonaro. Ele destruiu quase todas as instituições por onde teve alguma atuação mais intensa. Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde...Toda instituição onde ele colocou a mão", afirmou o General Santos Cruz.
Ernesto Araújo
Ernesto Araújo pediu demissão em março do ano passado em um contexto de ataques feitos ao Senado, pedido de demissão feito por diplomatas, entre outras polêmicas. Cerca de um mês após a saída do cargo, iniciou as críticas públicas à gestão do presidente.
"Um governo popular, audaz e visionário foi-se transformando numa administração tecnocrática sem alma nem ideal. Penhoraram o coração do povo ao sistema. O projeto de construir uma grande nação minguou no projeto de construir uma base parlamentar", escreveu o ex-ministro em seu perfil Twitter.
Depois, em outra declaração, criticou a aproximação do governo do presidente com o centrão.
"Surgiu aquela coisa: 'Precisamos fazer do Centrão a base do governo'. O que a gente viu é que o governo virou a base do Centrão", afirmou Araújo em um painel de um congresso conservador em Santa Catarina.
Ricardo Veléz
O ex-ministro da Educação Ricardo Veléz saiu da pasta em 2019 e foi antecessor de Weintraub. Ficou só três meses no cargo.
Em janeiro, escreveu em seu blog que Bolsonaro "perdeu o rumo".
"Bolsonaro, que apresentou uma proposta desvinculada das antigas negociatas, iniciou um governo de inspiração liberal-conservadora, que daria continuidade à moralização da política, apoiando a Lava-Jato e respeitando o teto de gastos", disse Vélez.
"Mas, infelizmente, pelo fato de não ter fixado de forma clara, na sua rota de navegação, os objetivos nacionais que não poderiam ser abandonados, terminou perdendo o rumo no meio à saraivada de críticas infames de uma oposição radical e de uma imprensa que abandonou a sua missão de informar e não inflamar", completou.
Sergio Moro
O ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro deixou o cargo em abril de 2020 após o presidente exonerar o então diretor-geral da PF (Polícia Federal) Maurício Leite Valeixo.
O ex-juiz disse que Bolsonaro teria trocado o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido por lei.
"O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação", declarou.
Em outra declaração, em novembro de 2021, afirmou que Bolsonaro "comemorou" o fim da prisão em segunda instância em 2020 e que o governo teria sabotado o seu projeto de combate à corrupção.
"Se houvesse um Planalto comprometido com o tema [de combate à corrupção], ele seria um contraponto, teria influência tanto no Congresso como junto ao Supremo Tribunal Federal. E ao contrário, como eu coloco no próprio livro, o Planalto de certa maneira comemorou o fim da prisão em segunda instância. O presidente inclusive proibiu o filho dele de se manifestar a respeito", declarou Moro ao Estadão.
Rêgo Barros
O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Santana do Rêgo Barros, foi exonerado em outubro de 2020, após a criação do Ministério das Comunicações. Na ocasião, passou a ficar subordinado à Secretaria de Governo e acabou sem função.
Após sair da pasta, sem citar o nome do presidente, disse em um artigo publicado no Correio Braziliense, que o poder "inebria, corrompe e destrói".
Ele também afirmou que uma eventual extrapolação dos limites legais por "um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade".
Rêgo Barros também afirmou, em março deste ano, que não vai votar mais em Bolsonaro. "Me lembro bem em quem votei nas últimas eleições. Neles, não voto mais", declarou em artigo publicado ao jornal Correio Braziliense.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.