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Delegacia abre inquérito sobre fala racista de vereador Cristófaro

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

04/05/2022 17h40

A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) instaurou hoje (4) um inquérito para investigar a fala racista do vereador Camilo Cristófaro (sem partido) durante sessão de ontem (3) na Câmara Municipal de São Paulo. Procurado pelo UOL, o vereador não se posicionou sobre o inquérito até a publicação desta reportagem. Mais cedo, em nota, Cristófaro pediu desculpas a toda população negra e admitiu que cometeu um erro.

O pedido, protocolado nesta tarde por políticos do PSOL, já se converteu em inquérito, segundo confirmou o Decradi ao UOL.

As vereadoras Luana Alves e Erika Hilton, o vereador Toninho Vespoli, a deputada estadual Mônica Seixas, a covereadora Paula Nunes e o vereador Celso Giannazi anexaram as imagens da sessão hibrida em que a frase racista foi dita. Sem saber que o áudio de seu computador estava aberto, o parlamentar afirmou: "Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?".

Covereadora Paula Nunes exibe pedido de inquérito, aberto hoje pelo Decradi  - Divulgação - Divulgação
Covereadora Paula Nunes exibe pedido de inquérito, aberto hoje pelo Decradi
Imagem: Divulgação

"Para nós, 'coisa de preto' é lutar contra o racismo e lutar contra injustiça", afirmou Luana Alves. "Qualquer cidadão, qualquer pessoa que comete crime de racismo tem de responder na área criminal", disse a vereadora.

Os parlamentares indicaram à delegacia testemunhas para serem ouvidas e pediram que o vereador também seja interrogado "para ratificação dos fatos narrados e demais esclarecimentos".

O pedido cita a Constituição Federal e a Lei do Crime Racial (na Lei 7.716/1.989), que prevê pena de reclusão de 1 a 3 anos e pagamento de multa se o suspeito for condenado pelos "crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional" ou "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".

"O termo 'coisa de preto' apresenta ofensa extensiva a toda a população negra, vez que é usado para atribuir a pessoas dessa origem étnico-racial práticas de cunho duvidoso, incompetente e desonesto", argumentam os parlamentares.

O racismo é uma construção social, crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico, moral, intelecto e cultural."
Pedido de inquérito protocolado na Delegacias de Crimes Raciais

"A conversa com a delegada foi muito boa", afirmou ao UOL a covereadora Paula Nunes (PSOL).

A gente espera que haja investigação e responsabilização criminal do vereador e que, no âmbito da Câmara Municipal, a Corregedoria aceite a representação que foi protocolada e ele seja punido com a pena máxima do Regimento da Casa, que é a cassação do mandato."
Paula Nunes, covereadora do mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL

Vereador pede desculpas

Após a repercussão, Cristófaro hoje pediu desculpas ao afirmar que cometeu um erro durante reunião da CPI dos Aplicativos na Câmara Municipal de São Paulo.

Eu peço desculpas a toda população negra por esse episódio que destrói toda minha construção política na busca de garantia à cidadania dos paulistanos, principalmente aos que têm suas portas de acesso ao direito diminuída pelo racismo estrutural."
Vereador Camilo Cristófaro

"Eu como humano tenho que me reconstruir para ser um vereador que combate qualquer forma de discriminação, principalmente quando mantenho valores de uma sociedade que está se transformando para melhor, onde todos devem ser respeitados. Venho de uma geração onde as piadinhas eram normais e preciso passar por uma desconstrução desses preconceitos", disse.