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'Se precisar, iremos à guerra', diz Bolsonaro em pregação sobre 'liberdade'

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

03/06/2022 12h22Atualizada em 03/06/2022 16h25

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez hoje um discurso com tom apocalítico durante agenda oficial em Umuarama, no Paraná, e afirmou que, "se precisar, iremos à guerra" para defender o que ele considera ser um ideal de "liberdade".

O governante, que é pré-candidato à reeleição, tem repetido essa estratégia discursiva na esteira dos atritos com o STF (Supremo Tribunal Federal), sobretudo por decisões do ministro Alexandre de Moraes — como a sentença de prisão aplicada ao deputado Daniel Silveira, do PTB-RJ, por ameaças à Corte.

Sem especificar o que significaria "ir à guerra", Bolsonaro declarou ainda que os apoiadores precisam "cada vez mais se interessar pelo assunto".

O chefe do Executivo federal pediu que os brasileiros "se informem" e "se preparem" para um hipotético evento futuro — na visão dele, o objetivo seria impedir que o Brasil "siga o caminho" de outros países sul-americanos.

"Onde hoje, não mais os ladrões de dinheiro do passado, surgiu uma nova classe de ladrão, são aqueles que querem roubar a nossa liberdade. Peço para que vocês cada vez mais se interessem por esse assunto. Se precisar, iremos à guerra, mas eu quero um povo ao meu lado consciente do que está fazendo e por quem está lutando", disse.

"Também tenho uma filha de 11 anos de idade. Nós todos, aqui, não podemos lá na frente, 23, 24, 25, ver a situação que se encontra o Brasil e falar: 'O que nós não fizemos em 22 para que a nossa pátria chegasse a situação que se encontra?'. Todos nós temos um compromisso com o nosso Brasil, não apenas os militares que fizeram um juramento de defender a pátria com o sacrifício da própria vida. Todos nós temos que nos informar e se preparar, porque não podemos deixar que o Brasil siga o caminho de alguns outros países aqui na América do Sul."

Bolsonaro também disse aos apoiadores que não vai "decepcioná-los", mas que precisa de todos "ao seu lado". Segundo ele, existiria uma suposta ameaça internacional, com países possivelmente cobiçando riquezas que "só o Brasil tem". O presidente não deu detalhes a respeito do tema e usou narrativa em tom profético: "Se nós não nos preparamos para defender a nossa riqueza, alguém vai tomá-la um dia. Ninguém tem o que nós temos".

"Terras agricultáveis, recursos minerais, biodiversidade, água potável, extensão territorial propícia à agricultura e pecuária. A Rússia tem duas vezes a extensão territorial do nosso Brasil, mas nós aqui temos muito mais condições do que eles, não só em riqueza, bem como em terra agricultáveis. Nós somos grandes e somos úteis. Somos uma terra que realmente sirva para a nossa sobrevivência. Países outros estão de olho no Brasil. Vocês bem sabem do que eu estou falando. Não venhamos ceder pensando que querem o nosso bem comprando de nós."

Não vou decepcioná-los, mas preciso de vocês ao meu lado. Tenho certeza, o mundo todo tem olhado para o Brasil. Nós sabemos o que eles querem. Não existe amizade entre nações, existem interesses. E nós somos a garantia, a segurança alimentar para muitos outros países ali fora
Jair Bolsonaro

O presidente voltou a dizer que, em Brasília, "poucos podem muito, mas ninguém pode tudo" — em referência a ministros do Supremo Tribunal Federal com os quais tem divergências.

"E termino dizendo que poucos naquela praça dos três poderes pode muito, mas nenhum dele pode tudo. A nossa liberdade não tem preço, e parece que alguns não querem entender. A liberdade é mais importante do que a própria vida, porque um homem ou uma mulher sem liberdade não tem vida."

Ataques ao STF

Desde o início da pandemia, entre fevereiro e março de 2020, Bolsonaro tem acumulado episódios de brigas com o Supremo e já insinuou abertamente a possibilidade de uma ruptura institucional, o que colocaria em situação de fragilidade a democracia no país. Posteriormente, o presidente da República recuou, estabelece uma trégua com ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB), mas em 2022 voltou a fazer ataques recorrentes à Corte e seus ministros.

Um dos principais desafetos do mandatário do Palácio do Planalto é Alexandre de Moraes, que será o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na eleição deste ano.

De forma sistemática, Bolsonaro tem levantado desconfianças quanto à confiabilidade do sistema eleitoral no país e dito que "não confia na urna eletrônica". Ele também contesta as decisões de Moraes tomadas no âmbito do que ficou conhecido como "inquérito do fim do mundo" (investigação do Supremo sobre produção e disseminação de fake news).