Bolsonaro posta manifesto curto a favor da democracia após ironizar carta
Após fazer críticas ao manifesto de empresários, artistas, intelectuais e religiosos em defesa do Estado democrático de Direito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou no final da noite de ontem, em publicação nas redes sociais, que é "a favor da democracia".
Em um breve texto, o mandatário escreveu o que seria uma carta assinada por ele com o título "Carta de manifesto em favor da democracia". O comunicado tem uma frase: "Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia".
A publicação do presidente ocorre após ele mesmo fazer críticas à manifestação dos diversos setores da sociedade civil.
Em sua tradicional transmissão ao vivo semanal, realizada ontem, Bolsonaro criticou o documento em defesa da democracia e disse não entender qual era o "medo" dos signatários.
"Não consigo entender, estão com medo do quê? Se eu estou três anos e meio no governo e nunca teve uma palavra minha, ação ou gesto... Nunca falei contra alarmismo, em controlar mídias sociais, em democratizar imprensa, nada. É uma nota política, eleitoral", afirmou.
Em seu discurso, o presidente fez referência também a seu principal rival nas eleições de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): "Olha, é melhor democracia com o ladrão do que o outro regime com o honesto?", ironizou.
O manifesto que motivou a declaração do presidente vem sendo gestado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, circula nas redes sociais desde a semana passada e ganhou assinaturas de peso no mundo empresarial e financeiro — em menos de 24 horas, obteve adesão de 100 mil pessoas após ser aberto ao público.
Horas mais cedo, Bolsonaro já havia minimizado a quantidade de assinaturas e entidades reunidas contra as ameaças democráticas perto do período eleitoral deste ano, como ataques às urnas eletrônicas e aos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), cometidas tanto pelo chefe do Executivo quanto por seus apoiadores radicais. "Qual ameaça eu ofereço?", questionou.
Críticas indiretas a Lula
Em outra publicação nas redes sociais, já durante a madrugada de hoje, o presidente fez críticas indiretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu adversário na corrida ao Palácio do Planalto, mas sem citar o petista nominalmente.
"Se eu defender menos transparência nas eleições, financiar ditaduras comunistas na América Latina, manter diálogos cabulosos com o narcotráfico e tentar controlar a mídia, serei chamado de democrata? Ou na verdade isso não depende do que se diz, mas de que lado você está?", publicou Bolsonaro.
Os questionamentos do presidente são críticas frequentes que opositores fazem a Lula, e um dos pontos centrais é a defesa que o ex-presidente faz do que chama de "regularização da mídia". Adversários do petista o acusam de querer controlar veículos de comunicação com essa medida.
Lula, porém, não tem ligação com o crime organizado, como sugere Bolsonaro. Essa acusação também é recorrente entre os opositores do petista, citando o caso da morte do ex-prefeito Celso Daniel e apontando suposta conexão entre o PCC (Primeiro Comando da Capital), o PT e o ex-presidente.
Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes concedeu liminar para que bolsonaristas e sites que publicaram notícias falsas que ligam Lula à organização criminosa apagassem as publicações. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), que tomou a decisão como presidente em exercício do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmou que as acusações feitas nas publicações se tratavam de "caso encerrado perante o Poder Judiciário".
Bolsonaro chamou manifesto de 'cartinha'
Na quarta-feira (27), durante convenção nacional do PP que oficializou o apoio do partido à sua candidatura à Presidência, Bolsonaro também falou sobre o documento em defesa do Estado democrático de Direito. Na ocasião, ele afirmou que não precisa de uma "cartinha" para defender a democracia.
"Vivemos em um país democrático, defendemos a democracia. Não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos a democracia, e que queremos, cada vez mais, nós, cumprir e respeitar a Constituição. Não precisamos, então, de apoio ou sinalização de quem quer que seja para mostrar que o nosso caminho é a democracia, é a liberdade, é o respeito à Constituição", disse o presidente.
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