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Bolsonaro diz que rachadinha é 'comum' e que prevê manter Guedes e auxílio

Jair Bolsonaro no "Cara a Tapa" comandado por Rica Perrone - Reprodução
Jair Bolsonaro no "Cara a Tapa" comandado por Rica Perrone Imagem: Reprodução

Gabryella Garcia e Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/08/2022 14h33Atualizada em 15/08/2022 10h43

Em entrevista ao podcast "Cara a Tapa", no YouTube, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu que estenderá o "Auxílio Brasil" caso seja reeleito; disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes "continua" se houver reeleição; e citou a nomeação do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) para o Ministério da Justiça como um erro de sua gestão. Também admitiu que se equivocou ao fazer um comentário machista sobre a primeira-dama da França, Brigitte Macron, mulher do presidente Emmanuel Macron.

A transmissão durou 2h50 e foi recheada de piadas homofóbicas e gordofóbicas —estas últimas, em relação ao próprio apresentador, Rica Perrone. Por volta das 12h50, quase 450 mil pessoas estavam conectadas. As respostas mais polêmicas apareceram a partir da segunda hora da entrevista. Perto do fim da transmissão, Bolsonaro falou que rachadinha é "comum" na política e sobre a relação com ministros.

Bolsonaro admite "possíveis falhas". Antes do encerramento, Perrone perguntou ao presidente quais foram os erros de sua gestão, nos quatro anos em que esteve à frente da Presidência da República. Bolsonaro começou dizendo que enfrentou "imprevistos" como a pandemia de coronavírus, crise hídrica e a guerra entre a Ucrânia e a Rússia.

"Tivemos o imprevisto da pandemia, da seca, da guerra lá fora. Logicamente tudo pode ser melhorado. Não vejo erro, talvez possíveis falhas", afirmou.

No entanto, Bolsonaro admitiu que a negociação com o Congresso Nacional poderia "ter sido melhor", sobretudo dada sua experiência no parlamento por ter sido deputado federal por 28 anos. Disse que nomeou Ciro Nogueira (PP-PI) para chefiar a Casa Civil a fim de facilitar o diálogo com os deputados e os senadores. Para o presidente, o ministro anterior, Luiz Eduardo Ramos, embora seja "uma excelente pessoa, não tinha esse traquejo" político.

Quando botei o Ciro para ser ministro da Casa Civil melhorou bastante a conversa com o Parlamento. Ele é uma pessoa que tem dado conta do recado. O ministro anterior era uma excelente pessoa, mas não tinha esse traquejo, não sabia como funcionava o Parlamento. O erro talvez tenha sido não dar uma pitada a mais de política em um ou outro ministério."

Ciro é próximo do centrão e já indicou pessoas de confiança para cargos estratégicos —o chefe do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) foi seu chefe de gabinete. O dinheiro do fundo foi prometido a prefeitos indicados por dois pastores que não tinham vínculos com o governo federal —após denúncias de favorecimento, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi exonerado e chegou a ser preso.

Erro do governo foi nomear Moro: Se em 2018 Jair Bolsonaro anunciou o ex-juiz Sergio Moro como o superministro de seu governo para conduzir a pasta da Justiça, agora o presidente diz se arrepender da escolha.

"Onde errei lá atrás foi quando botei o Moro, por exemplo, na Justiça. Ele não tinha essa liberdade e esse contato comigo. Cuidava da vida dele e mais nada, então apesar de ser técnico faltou esse contato e contar uma piada, ser mais chegado, alguma confidência, algum problema, não tive isso com o Moro", ponderou.

Por outro lado, Guedes "continua": Se Moro foi criticado, Guedes recebeu elogios —apesar de os dois terem vivenciado "momentos difíceis". Bolsonaro afirmou que Guedes "tomou gosto" pelo ofício" e faz um "excelente trabalho". Além disso, disse que o economista continua no cargo, caso haja reeleição.

Paulo Guedes continua sendo meu ministro ano que vem. Mais provas do que ele deu certo?"

De acordo com dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) Trimestral, divulgada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 9,3% da população desempregada. A comparação é com o trimestre anterior (11,1%). Ainda segundo a Pnad Contínua, cerca de 2,985 milhões de brasileiros em situação de desemprego estão em busca de um trabalho há pelo menos dois anos.

Manutenção do auxílio: Também falando de Guedes, Bolsonaro voltou a prometer que vai estender o pagamento do Auxílio Brasil no valor de R$ 600, sem explicar como. "Eu não falo nada sem conversar com ele ou com o respectivo ministro. 'Guedes, dá para manter esses R$ 200 a mais no ano que vem?'. Ele falou que dá se fizer isso, isso e isso. Então vai ser mantido os R$ 600 reais de Auxílio Brasil o ano que vem", afirmou.

Na entrevista, o presidente não mencionou o fato de que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2023, aprovada por ele nesta semana, não inclui a previsão da manutenção do pagamento do auxílio de R$ 600.

Com 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil, o pagamento de auxílio financeiro está no centro dos discursos dos presidenciáveis. Também em uma live nas redes sociais hoje ao lado do deputado federal André Janones (Avante-MG) —anunciada às pressas, ao mesmo tempo do podcast com Bolsonaro—, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pontuou que o pagamento do Auxílio Brasil termina em dezembro, mas prometeu manter o benefício, se for eleito.

Rachadinha é 'comum'. Quando questionado sobre a prática da "rachadinha" —também no fim da transmissão—, Bolsonaro não quis responder se ela já foi adotada em seu gabinete. Mas disse que é "comum". O filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi acusado de adotar essa prática em seu gabinete, quando era deputado estadual —mas o caso foi arquivado pela Justiça.

É uma prática meio comum, concordo contigo [com o apresentador], é meio comum isso aí. Não é só no Legislativo não."

"Não vou falar de mim, né [se também faz uso desse recurso]. Sou suspeito para falar de mim. Não tem servidor meu falando, denunciando...", afirmou. "Rachadinha" é quando um assessor é contratado por políticos e devolve parte do salário, mensalmente, a eles.

"Muitas vezes o cara faz isso para pode pagar mais gente", disse Bolsonaro. "Como resolver esse assunto? Eu não sei."

Mais um erro, agora com Brigitte Macron. Quando questionado sobre uma piada machista publicada em suas redes sociais em 2019 sobre Brigitte Macron, mulher do presidente francês, Emanuel Macron, Bolsonaro reconheceu que errou.

No podcast, ele disse que seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), é o responsável por administrar suas redes sociais, mas não respondeu se Carlos foi o responsável pelo comentário.

A gente escorrega, por mais que a gente tente se policiar [risos]. Erramos, lamento, procura não fazer mais."

Michelle na foto. Logo no começo da conversa, Perrone falou sobre a mulher do presidente —que vem chamando a atenção ao participar mais da pré-campanha eleitoral. Nesta semana, Michelle Bolsonaro apareceu em uma foto com Juliana Lacerda, esposa do ex-ator Guilherme de Pádua, em um culto em Minas Gerais.

Bolsonaro diz que conversou com a esposa e perguntou sobre a imagem. Segundo ele, Michelle alegou que tirou cerca de cem fotos naquele dia e que não sabia quem era Juliana. O presidente ainda negou que ele e a primeira-dama tenham almoçado com o casal.

Não almocei lá e a Michelle ficou. [Quando a foto saiu] eu conversei com ela, porque apareceu uma foto dessas com a tal esposa do Guilherme de Pádua. Então, ela falou: 'eu tirei umas cem fotografias, então não sei quem tirou comigo'. Ela [Juliana] não falou quem ela era, e no almoço tem uma mesa reservada com os familiares do pastor Valadão."

Guilherme de Pádua foi preso e condenado pelo assassinato da atriz Daniella Perez em 1992. O crime voltou a ganhar notoriedade após a estreia da série documental "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", produzido pela HBO Max. Ontem, tanto Guilherme quanto Juliana negaram que tenham almoçado com Jair e Michelle.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado na primeira versão deste texto, o nome do programa de distribuição de renda do governo federal é Auxílio Brasil, e não auxílio emergencial. A informação foi corrigida.