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Bolsonaro admite que recebeu oferta da Pfizer de vacinas mais baratas

Presidente Jair Bolsonaro (PL) - Alan Santos/PR
Presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Alan Santos/PR

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/08/2022 13h37Atualizada em 18/08/2022 15h35

O presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu hoje que o governo federal recebeu oferta da farmacêutica Pfizer para adquirir vacinas contra o coronavírus com preços mais baratos em comparação a propostas feitas pela mesma empresa a outros países, a exemplo dos Estados Unidos e do Reino Unido. Ele não deixou claro, entretanto, quando houve a comunicação.

Durante participação no podcast "Cara a Tapa", no YouTube, o apresentador Rica Perrone perguntou se é verdade que a Pfizer teria oferecido o imunizante pela metade do preço e por qual motivo a empresa teria feito isso. O presidente disse que recebeu documentos, encaminhou para a CGU (Controladoria Geral da União) e que foi comprovada a "veracidade" da oferta.

Não quero aprofundar mais, mas chegou um documento para a gente oferecido por um preço bem abaixo do tratado lá atrás. Eu disse joga tudo para a Controladoria Geral da União."

Segundo Bolsonaro, a Pfizer ofertou a vacina pela metade do preço ao Brasil devido à concorrência de outras farmacêuticas que começaram a produzir e vender vacinas para combater a doença. "Ofereceram pela metade do preço porque começou a aparecer mais farmacêuticas, empresas que produzem [imunizantes] aí tem a concorrência e o preço cai", afirmou.

Na entrevista, o presidente também disse que há vacinas sobrando no Brasil porque "a população não quer tomar mais vacinas". Segundo o consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte, 78,9% dos brasileiros completaram a imunização contra a covid.

O Brasil é referência mundial na organização de campanhas de vacinação, mas o índice de imunização contra diversas doenças vem caindo. Especialistas atribuem o problema ao negacionismo. Além disso, reportagem do UOL mostrou, em julho, que o governo reduziu a verba para publicidade da campanha de vacina contra gripe.

Desde 2020, o próprio presidente e aliados criticam a vacina contra o coronavírus —como ele fez novamente no podcast. O relatório final da CPI da Covid apontou que a aquisição de imunizantes nunca foi prioridade do governo.

Na entrevista deste sábado, Bolsonaro buscou contestar a eficácia da vacina da Pfizer, citando um suposto estudo israelense que indicaria que a eficácia desse imunizante seria apenas de quatro semanas. Porém, em agosto do ano passado, o governo de Israel afirmou, por meio de um estudo publicado na Lancet, que o imunizante da Pfizer funciona e que duas doses da vacina "são altamente eficazes em todas as faixas etárias na prevenção de infecções sintomáticas e assintomáticas para Sars-CoV-2 e hospitalizações relacionadas à covid-19, doença grave e morte".

Ainda de acordo com o estudo, "essas descobertas sugerem que a vacinação pode ajudar a controlar a pandemia".

Em nota ao UOL, a Pfizer disse estar "comprometida mundialmente com o acesso igualitário às vacinas contra a covid-19", e reforçou que sua abordagem de preço "reflete a busca por equidade e a sustentabilidade de longo prazo para os diferentes países".

"Durante a pandemia, fixamos o preço para nossa vacina em consonância com a emergência global de saúde, praticando um valor significativamente menor em relação aos padrões normais, com o intuito de contribuir com a disseminação da imunização a todas as nações", acrescentou a farmacêutica, ressaltando que a negociação com cada governo levou em consideração "o perfil socioeconômico dos países compradores".

Vacinas com preços mais baratos

O governo do presidente Jair Bolsonaro recusou vacinas da Pfizer em 2020, durante o primeiro ano da pandemia, que foram oferecidas pela metade do preço pago por países como Estados Unidos, Reino Unido e integrantes da União Europeia.

Documentos obtidos pela CPI da Covid indicam que emails da Pfizer com ofertas foram ignorados pelo governo.

Durante a comissão, integrantes da gestão Bolsonaro foram questionados sobre a demora na compra e a recusa das ofertas. Apontado como homem de confiança do ex-ministro Eduardo Pazuello, o empresário, produtor rural e ex-deputado Airton Soligo, conhecido como "Airton Cascavel", disse aos parlamentares que, "se pudesse", teria levado adiante as negociações com as farmacêuticas Pfizer e Janssen, em 2020, para compra de vacinas.

Pazuello, por sua vez, disse que não seria a pessoa correta para negociar com as empresas, pois isso deveria ser feito por alguém do "nível administrativo".

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, até 70 milhões de doses fabricadas pela farmacêutica poderiam ter sido entregues a partir de dezembro daquele ano por US$ 10 cada. A compra teria acelerado o processo de vacinação do Brasil, que sofreu com atrasos e críticas do governo, sobretudo de Jair Bolsonaro.

Devido aos atrasos da gestão, as primeiras doses da Pfizer chegaram ao Brasil só em abril, oito meses depois da primeira oferta feita pela empresa.