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Suplente de Gabriel Monteiro admite ter acumulado cargos secretos no RJ

Matheus Floriano com o pai, o ex-deputado Francisco Floriano, em culto em uma igreja evangélica - Reprodução/ Instagram
Matheus Floriano com o pai, o ex-deputado Francisco Floriano, em culto em uma igreja evangélica Imagem: Reprodução/ Instagram

Do UOL, no Rio

20/08/2022 04h00

Suplente que irá assumir uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro após a cassação de Gabriel Monteiro (PL), o ex-vereador Matheus Floriano (PSD) admitiu ao UOL que acumulou dois cargos secretos ao mesmo tempo em projetos realizados pela Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatística, Pesquisa e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro).

Ao todo, ele recebeu R$ 51,5 mil na folha de pagamento secreta revelada pelo UOL em junho. Floriano esteve lotado em cargos secretos —sem qualquer transparência— entre fevereiro e julho deste ano, de acordo com planilha de pagamentos enviada pelo banco Bradesco ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

A informação de que ele constava na lista dos cargos secretos da Ceperj foi publicada pelo jornal O Globo. O UOL apurou que, nos meses de maio e junho, ele recebeu dois pagamentos —um salário de R$ 7.399,79 e outro de R$ 7.250.

Por e-mail enviado ontem (19), Floriano —que esteve nomeado na Setrab (Secretaria Estadual de Trabalho e Renda) entre setembro de 2021 e janeiro de 2022— confirmou que foi indicado pelo titular da pasta, Patrique Welber, para um cargo secreto no programa Casa do Trabalhador, embora afirme ter passado por processo seletivo.

"Meu primeiro contato com a Setrab foi em agosto de 2021, quando fui convidado para ser superintendente de Administração e Finanças, considerando minha alta capacitação técnica. Neste cargo, permaneci por cinco meses, onde pedi para o secretário me transferir para um cargo no qual eu tivesse contato maior com a população, notadamente com os projetos da secretaria recém-implementados, em especial, a Casa do Trabalhador. Fui indicado pelo então secretário de Trabalho e Renda a me apresentar na Ceperj para participar de uma entrevista, pois minha remuneração seria proveniente deste órgão ante as minhas novas funções", disse Floriano.

O UOL já mostrou que o Casa do Trabalhador foi loteado politicamente por candidatos apoiados por Patrique Welber, que acumula o posto de secretário com a presidência estadual do Podemos no Rio de Janeiro.

Floriano admitiu ainda que, a partir de maio, acumulou sua atuação na Casa do Trabalhador com a participação no Observatório do Pacto RJ, outro projeto da Fundação Ceperj com cargos secretos.

O programa é realizado em parceria com a Segov (Secretaria Estadual de Governo), que naquela altura era comandada pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), braço direito do governador Cláudio Castro (PL) e apontado como principal articulador dos cargos secretos.

"Primeiro tive que passar por uma entrevista e, em seguida, fiz um curso fornecido pela Ceperj", afirmou Floriano sobre o segundo cargo secreto.

A Setrab afirma que "as contratações dos funcionários das Casas do Trabalhador são feitas mediante processo de seleção simplificado e não têm qualquer finalidade político-partidária".

A Ceperj diz que, juntamente com o governo do Rio, desconhece indicações eleitorais em seus programas. O deputado estadual Rodrigo Bacellar também nega irregularidade nas contratações.

Cláudio Castro determinou a criação de comissão de auditoria para apurar as denúncias.

Herdeiro de líder evangélico

Matheus é filho do ex-deputado federal Francisco Floriano (União Brasil), que tenta voltar à Câmara dos Deputados nesta eleição. Francisco Floriano participou da fundação da Igreja Universal do Reino de Deus, com o bispo Edir Macedo. Posteriormente rompeu com a denominação e acompanhou Valdemiro Santiago na criação da Igreja Mundial do Poder de Deus —onde hoje é pastor.

A família Floriano transita bem pelo poder. Como Matheus não conseguiu se eleger vereador em 2016 —ficou como primeiro suplente do DEM na ocasião— conseguiu uma nomeação como assessor pessoal do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Ele deixou o cargo para assumir o mandato de vereador entre 2019 e 2020.

Na eleição de 2020, Matheus abandonou Crivella e concorreu à Câmara do Rio pelo PSD de Eduardo Paes, principal concorrente do bispo da Igreja Universal, que viria a vencer a eleição. Matheus acabou como suplente na Câmara.