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Presa, Flordelis usou celular para falar com namorado; Seap apura o caso

Pastor Anderson do Carmo de Souza e deputada federal Flordelis (PSD-RJ) - Reprodução/Facebook
Pastor Anderson do Carmo de Souza e deputada federal Flordelis (PSD-RJ) Imagem: Reprodução/Facebook

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

13/10/2022 18h00

A deputada federal cassada Flordelis admitiu que usou um aparelho de telefone móvel na cela em que está presa, acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, para conversar com o atual namorado, Allan Soares, com quem se relaciona há pouco mais de um ano.

"Em maio deste ano foi introduzido tal aparelho na cela da pastora e lá ficou por 18 dias sem ser por esta usado apesar da insistência de outras presas que o usavam com a conivência de algumas guardas. No dia em que Flordelis o usou, por uma única vez, imediatamente ocorreu uma vistoria na cela e ela foi conduzida à presença da diretora da unidade da época, que à noite, sem a presença de advogados, tomou seu depoimento onde Flordelis assumiu que o usou por apenas esta vez", afirmou a defesa de Flordelis.

A Seap (Secretaria Estadual de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro) abriu um processo para investigar o teor da troca de mensagens e como a origem do celular.

Segundo a pasta, Flordelis recebeu recomendação médica para não cumprir prisão solitária como punição por conta da posse de celular na prisão. A defesa afirma que ela tem histórico de convulsões.

Na semana passada, a Seap negou um pedido da defesa de Flordelis, que havia solicitado a transferência da ex-parlamentar para Bangu 1. "A transferência dela é de imensa urgência, uma vez que ela já tem históricos de coação a testemunhas no curso do processo quando ela estava solta", disse a defesa.

No início deste mês, a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, no Rio de Janeiro, decidiu antecipar para 7 de novembro o julgamento da ex-deputada.

A análise do caso estava marcada para começar em 12 de dezembro, mas teve a data alterada devido à realização das semifinais da Copa do Mundo em 13 e 14 de dezembro.

Além de Flordelis, serão julgados também em novembro os filhos Marzy Teixeira da Silva, André Luiz de Oliveira e Simone dos Santos Rodrigues, e a neta Rayane dos Santos Oliveira.

A antecipação do julgamento foi concedida a pedido da assistente de acusação.

"Verifica-se que nos dias 13 e 14 de dezembro serão realizadas as duas semifinais da Copa do Mundo, da qual poderá participar a seleção brasileira de futebol, gerando a possibilidade a restar a sessão de julgamento inviabilizada, diante da sua provável extensão por mais de um dia, inclusive, além da provável decretação de ponto facultativo, como se deu em oportunidades anteriores", justificou a magistrada.

Essa foi a terceira vez que a data do julgamento é alterada. Inicialmente, o caso seria julgado no dia 9 de maio, mas passou para o dia 6 de junho.

Depois foi adiada para dezembro atendendo a um pedido da defesa de Flordelis que argumentava que laudos, como a avaliação psicológica e psiquiátrica da ex-deputada, ainda não estavam prontos e eram imprescindíveis.

Flordelis foi presa em agosto de 2021, dias após ter seu mandato cassado pela Câmara. A ex-parlamentar é acusada de ser a mandante da morte do marido.

Três dias após o crime, dois filhos da então deputada foram presos suspeitos de envolvimento no assassinato: Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas dos Santos de Souza.

Em 2020, também foram detidos pelo caso mais dois filhos, Adriano dos Santos Rodrigues e André Luiz de Oliveira, outros três considerados filhos de criação (sem adoção formal), Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Marzy Teixeira da Silva e Simone dos Santos Rodrigues, e a neta Rayane dos Santos Oliveira.

Quatro deles foram julgados e condenados.

O que diz a defesa de Flordelis

Ao UOL, o advogado Rodrigo Faucz emitiu a seguinte nota:

"Em maio deste ano foi introduzido tal aparelho na cela da pastora e lá ficou por 18 dias sem ser por esta usado apesar da insistência de outras presas que o usavam com a conivência de algumas guardas. No dia em que Flordelis o usou, por uma única vez, imediatamente ocorreu uma vistoria na cela e esta foi conduzida à presença da diretora da unidade da época, que à noite, sem a presença de advogados, tomou seu depoimento onde Flordelis assumiu que o usou por apenas esta vez.

A partir daí, esse procedimento passou a ser usado como objeto de chantagens e ameaças, onde a vida e a incolumidade física da pastora e das filhas foram pautadas.

Em 04/06, durante um encontro em sala especial com Flordelis para preparação do Júri que ocorreria naquela semana, essas ameaças foram descobertas.

Nossa orientação foi de que não deveria aceitar as chantagens, não fazer nenhum pagamento e sim denunciar as/os agentes públicos e as internas envolvidas nas ameaças e assédios. A pastora, com muito medo, se recusou a dar os nomes e permitir uma denúncia formal.

A despeito disso, a defesa procurou a diretora da unidade e, em função de sua ausência no dia, falou com a subdiretora, que nos comunicou que a Corregedoria da SEAP já teria sido acionada e que o problema seria sanado. Cobramos a abertura formal do PAD (Processo Administrativo Disciplinar) que até aquele dia se encontrava irregular, não constando no sistema como era o correto, o que dias depois aconteceu sendo esta defesa notificada a acompanhar.

Tentamos ainda denunciar e acionar vários meios de imprensa.

Mas o que a defesa teve conhecimento apenas neste último mês é que essas ameaças acabaram levando a pastora a ceder ao medo e pedir a família que pagasse aos criminosos, no entanto estes, mesmo recebendo, aumentaram as ameaças de forma a impor que a pastora não voltasse da visita com a filha, na última semana, sem dinheiro ou iria "apanhar", o que a levou a tentar entrar irregularmente com R$ 75 para fugir das represálias. Esse novo episódio é usado mais uma vez para a continuidade das chantagens.

De pleno conhecimento desses fatos e agora também com os nomes dos criminosos e outras provas do que aqui relata, a defesa tomou a iniciativa de acionar as autoridades competentes: Juiz Corregedor responsável pela Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro, a Coordenadoria Responsável pelos Presídios Femininos, bem como a Polícia Civil do Estado, a fim de que tudo seja apurado.

A defesa tem em posse os nomes dos envolvidos, o Pix com o CPF de quem recebeu a propina, os comprovantes de depósito, prints com jornalistas trocados à época buscando que a imprensa noticiasse.

Ao contrário do que está exposto no dia de hoje e servindo como base para a acusação pedir duras medidas contra ela, a pastora Flordelis é vítima dessa trama e provará através dos canais competentes que mais uma vez é criminalizada e exposta por coisas que efetivamente não fez."