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Doria anuncia saída do PSDB: 'Missão cumprida'

Do UOL, em São Paulo

19/10/2022 09h38Atualizada em 19/10/2022 12h53

O ex-governador de São Paulo, João Doria, anunciou, hoje, que formalizou sua desfiliação do PSDB após 22 anos no partido. Em nota e publicação nas redes sociais, ele disse ter "cumprido sua missão" na política.

"Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida", declarou. " Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro."

Em maio deste ano, Doria desistiu de se candidatar à Presidência, atendendo a pressões internas do partido. Apesar de o paulista ter vencido as prévias tucanas contra o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, a cúpula da legenda decidiu que apoiaria Simone Tebet (MDB) no primeiro turno das eleições, com a senadora Mara Gabrilli (SP) como candidata a vice.

A percepção do partido era de que o ex-governador estava estagnado nas pesquisas, pontuando entre 2% e 5%. Tebet terminou o primeiro turno em terceiro lugar, com 4,16% dos votos.

Voto nulo no segundo turno. Logo após o primeiro turno das eleições, Doria afirmou em entrevista ao UOL que não irá apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL). '[Não vou] nem de Lula, nem de Bolsonaro", disse. "O meu voto será o da neutralidade. Meu voto será nulo. Não faço ataques nem a um lado, nem ao outro."

No mesmo dia, Rodrigo Garcia (PSDB), vice de Doria e candidato derrotado à reeleição pelo governo de SP, anunciou apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos), na esfera estadual, e a Bolsonaro, na federal. Ao jornal Folha de S. Paulo, Doria disse que discorda, mas respeita a posição de Rodrigo.

Doria chegou a fazer campanha para Bolsonaro em 2018. Os dois se desentenderam após o surgimento da pandemia de covid-19. Enquanto o presidente criticava as medidas para conter a doença, o então governador de SP capitaneava a iniciativa para trazer a vacina CoronaVac para os paulistas.

Em 2021, ele disse que estava "amargamente arrependido" de ter apoiado Bolsonaro. "Não tenho compromisso com o erro. Foi um enorme erro, meu e de milhares de brasileiros. Nós temos um governo que de liberal só tem o discurso. É uma tristeza para o Brasil", afirmou.

Doria e Bolsonaro em foto de 2019 - 16.setembro.2019 - Felipe Rau/Estadão Conteúdo - 16.setembro.2019 - Felipe Rau/Estadão Conteúdo
Doria e Bolsonaro em foto de 2019
Imagem: 16.setembro.2019 - Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Presidente do PSDB deseja boa sorte

Em nota, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, desejou boa sorte a Doria: "O ex-prefeito e ex-governador João Doria tem uma extensa folha de serviços prestados a São Paulo e ao Brasil. Trouxe a vacina que salvou milhares de vidas, fortaleceu o Estado com obras e boas ideias colocadas em prática. Boa sorte em seus novos projetos".

Araújo saiu da campanha de Doria em abril deste ano e expôs publicamente a desavença com Doria, com publicação nas redes sociais dizendo estar aliviado ao deixar o cargo.

Os dois racharam após o ex-governador ameaçar não renunciar ao governo paulista, ao contrário do que havia sido combinado. O movimento foi lido pelos membros do partido como um "truco" de Doria para ter apoio irrestrito do PSDB.

Leia a carta de Doria na íntegra:

Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual.

A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com determinação, foco e resiliência.

Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros. Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.

Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora, pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral, promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil, geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo Garcia e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.

Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.

Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Vencí todas as eleições das quais participei. Por três vezes fui eleito em prévias partidárias pelo voto soberano da maioria dos filiados do PSDB. Fui eleito no primeiro turno para Prefeito da capital paulista, em 2016. E em 2018 vencí a eleição para o governo de São Paulo. Sou e sempre serei um homem que se pauta pelo equilíbrio, diálogo, consenso e gratidão.

Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida. Orgulhoso pela contribuição que pude dar a São Paulo e ao Brasil, graças à generosidade e à confiança de todos aqueles que optaram pelo meu nome em três prévias e duas eleições. Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em defesa da democracia, da liberdade do progresso social.

João Doria

Em entrevista ao UOL News, em 4 de outubro, Doria falou do desempenho do PSDB nas eleições 2022. Assista à entrevista