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PT cogita convidar PSDB e tucanos para novo governo Lula

Do UOL, em São Paulo

02/11/2022 04h00

O PT cogita convidar o PSDB para compor o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O partido —um dos mais antigos adversários dos petistas— manteve-se neutro durante o segundo turno. Mas parte da velha cúpula declarou voto em Lula.

O assunto ainda está sendo veiculado dentro do partido, com interlocutores a favor e contra. Um dos nomes cotados para esta articulação seria o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que declarou apoio a Lula durante o segundo turno. Ele, assim como o partido, dizem ainda não estar participando de nenhuma conversa.

Governo de coalizão. Na primeira semana após a eleição, enquanto o governo de transição ainda nem foi estabelecido direito, já começam os debates e fofocas sobre possíveis indicações e composição ministerial. Com outros nove partidos apoiando a aliança vitoriosa —além de apoios pontuais, mas importantes, de MDB e PSD e da chegada do PDT no segundo turno—, o principal desafio do PT é organizar esse quebra-cabeça de aliados.

É nesse contexto que alguns membros do entorno de Lula, de dentro e fora do PT, defendem a extensão dessa composição também a membros do Cidadania, que declarou apoio formal ao petista no segundo turno, e ao PSDB, que se manteve neutro, mas com muitas lideranças favoráveis ao petista. Os dois partidos formaram a aliança com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que embarcou de cabeça na chapa lulista.

Quem apoia e quem é contra

O argumento entre os favoráveis é que, apesar da ala bolsonarista do partido, um convite a alguns tucanos que fizeram discurso pró-democracia fortaleceria ainda mais a imagem de governo de coalizão que o PT quer formar nesse turbulento início de mandato.

Embora o partido, o principal adversário do PT desde os anos 1990, tenha diminuído de tamanho no Congresso, segue com três governadores eleitos e tem ainda apoio de uma parcela da população de centro-direita, considerada moderada pelo PT, de quem o apoio é bem-vindo.

Nem tão amplo assim. Os que são contra, por sua vez, argumentam que não é preciso formar uma frente tão grande. Com base nesse argumento, a união de todos os partidos e lideranças que se juntaram a Lula no segundo turno já formaria um grupo ministerial forte, com boa interlocução no Congresso.

Para esta ala, composta majoritariamente de petistas raiz, chamar um partido que votou junto a Jair Bolsonaro (PL) durante quase todo seu governo e com lideranças claramente pró-Bolsonaro, tal qual o governador eleito Eduardo Reidel (PSDB), poderia ser um tiro no pé.

Para estes, o fantasma do ex-presidente Michel Temer (MDB), então vice de Dilma Rousseff (PT), está sempre rondando.

Nada está certo ainda. Interlocutores garantem que tudo está ainda na fase de discussão. Na tarde de ontem (1º), Gleisi afirmou que nenhum nome de ministro foi discutindo ainda nem será nesta semana, quando o presidente eleito descansa na Bahia. Tudo terá ainda de passar em debate pelos partidos aliados.

Do lado dos tucanos, tanto o PSDB nacional quanto Tasso negam ter qualquer conhecimento sobre essa questão ou estarem participando de qualquer conversa.

FHC e Lula em encontro na casa do tucano durante o segundo turno, em São Paulo - Ricardo Stuckert/Divulgação - Ricardo Stuckert/Divulgação
FHC e Lula em encontro na casa do tucano durante o segundo turno, em São Paulo
Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Tucanos que abraçaram Lula. Esta eleição marcou o improvável apoio de antigos adversários. Quase todos os ex-presidentes e lideranças do PSDB, os chamados tucanos de cabeça branca, declararam apoio público a Lula —alguns chegaram a participar de atos do partido.

O ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) tomou a dianteira e já se juntou a Lula no primeiro semestre, quando o partido ainda estava com Tebet, e participou do grande ato de Lula e Fernando Haddad (PT), então candidato ao governo de São Paulo, no centro da capital em agosto. Os outros chegaram no segundo turno.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que derrotou Lula em duas eleições presidenciais, recebeu o petista em sua casa e gravou um vídeo às vésperas da votação reforçando o apoio. O ex-senador José Aníbal (PSDB) foi ao último ato de Lula no teatro da PUC-SP, na segunda pré-eleição (24), e o senador José Serra (PSDB-SP) declarou apoio em suas redes.

Tasso, ex-presidente nacional do PSDB, foi um dos grandes apoiadores dessa aliança e entusiasta de Tebet. Ele embarcou de vez quando a emedebista passou a integrar a campanha e se encontrou com Lula em um hotel em São Paulo.

Na semana pré-segundo turno, se juntou ao grupo do ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT-CE) para, com um adesivo de Lula, pedir votos para o petista em Fortaleza.

No entorno de Lula, por mais que o partido não chegue a ser formalmente convidado ou não aceite o convite, estes nomes são bem-vindos para ajudar na eleição.

Entre tucanos. Do lado petista, essa aproximação deve ser facilitado ainda mais pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Fundador do PSDB, partido em que ficou por 33 anos, o grupo do ex-governador tem entrada com muitas correntes do partido que deixou no começo do ano se sentindo traído.

O grupo com quem brigou, no entanto, perdeu força na sigla. O ex-governador João Doria (sem partido) deixou a legenda após o apoio do governador Rodrigo Garcia (PSDB) a Bolsonaro. Enfraquecido após não ir nem ao segundo turno, este deverá deixar a sigla da qual não está filiado nem há dois anos.

Com posturas de moderados e conciliadores, Alckmin e apoiadores como o ex-secretário Gabriel Chalita e o ex-deputado federal e ex-tucano Floriano Pesaro devem ajudar nesta ponte