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Após fake news, grupo golpista ocupa Câmara em MT e ataca vereadora petista

Do UOL, em São Paulo

29/11/2022 04h00Atualizada em 29/11/2022 14h21

Um grupo de manifestantes golpistas ocupou a Câmara Municipal de Sinop, cidade a 503 quilômetros de Cuiabá, na manhã de ontem (28) e atacou a vereadora Graciele Marques dos Santos (PT) durante a sessão. A motivação dos bolsonaristas teria sido uma fake news que circulou nos grupos bolsonaristas de que a vereadora iria protocolar um projeto de lei para retirar na cidade os acampamentos pró-golpe de Estado.

Graciele é a única mulher entre os 15 vereadores eleitos para a Casa na cidade — em que Jair Bolsonaro (PL) ganhou com 76,59% dos votos na corrida presidencial contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O grupo protesta na região desde a vitória do petista sobre o presidente, em 30 de outubro.

Em vídeos obtidos pelo UOL Notícias é possível ouvir os manifestantes hostilizando e xingando a parlamentar de "vagabunda", "ratazana" e "filha da p*".

As gravações também mostram que, durante a fala de Graciele no púlpito, os manifestantes ficam de costas para a parlamentar, mas continuam com as ofensas. Os demais vereadores, incluindo o presidente da Câmara, Elbio Volkweis (Patriotas), foram registrados em vídeo rindo da situação.

Elbio já foi filmado em bloqueios nas estradas ao lado de um dos suspeitos de colocar fogo em caminhões durante os protestos golpistas — preso pela Polícia Federal — e da ex-prefeita Rosana Martinelli (PL), suplente do senador Wellington Fagundes (PL). O presidente da Câmara foi procurado pela reportagem, via email, assim como a Câmara, e não se manifestou.

Em entrevista ao UOL Notícias, a vereadora Graciele disse que a cidade hoje tem um clima de "instabilidade" desde a eleição de Lula.

As manifestações começaram com violência, com fogo em carretas, agressões, pessoas armadas. Eles não tinham ido na Câmara ainda, só ameaçaram, mas agora foram e proferiram todo tipo de xingamento e ofensas. Eles tumultuaram a sessão, foi bem ruim"
Graciele Marques dos Santos (PT-MT), vereadora de Sinop

A vereadora se queixa de não ter obtido apoio das forças de segurança da cidade nem do Legislativo municipal. "Nós pedimos que a polícia fizesse a segurança e que a Câmara colocasse detector de metais [na Casa] e não fomos atendidos."

Sobre o ataque de bolsonaristas contra ela na Câmara, afirmou que os policiais chamados ao local não tomaram providências contra os manifestantes. "A polícia ficou pouquíssimo tempo lá, ao contrário do que faz em manifestações mais progressistas. Eles ficaram do lado de fora, entraram por dez minutinhos depois de muita insistência", disse.

Em nota, a Polícia Civil do Mato Grosso disse que Graciele registrou boletim de ocorrência informando que, no domingo (27), teve fotos sua e de seu filho expostas em rede social de um morador da cidade que afirmava na publicação que a parlamentar havia proposto, segundo ele, que os manifestantes fossem retirados do estádio municipal.

A polícia também afirmou que a vereadora disse, na delegacia, que a informação era "falsa e irresponsável" e "que poderia facilmente ter sido averiguada na pauta da casa legislativa". A nota ainda afirmou que "a publicação levou os manifestantes para a sessão e, em decorrência da calunia, a vereadora foi hostilizada".

Graciele (de vermelho) foi a única mulher eleita em 2020 em Sinop (MT) - Reprodução/Câmara Muncipal de Sinop - Reprodução/Câmara Muncipal de Sinop
Graciele (de vermelho) foi a única mulher eleita em 2020 em Sinop (MT)
Imagem: Reprodução/Câmara Muncipal de Sinop

Graciele também reclama de isolamento político na Câmara (composta além da petista, de 3 vereadores do Republicanos, 3 do PL, 2 do PSDB, 1 do União, 1 do Patriotas, 1 do PSB, 1 do MDB, 1 do Pros, e 1 do Podemos). O prefeito de Sinop é Roberto Dorner, do Republicanos).

Segundo ela, toda pauta que tenta emplacar causa "polêmica" na Casa e ela não recebe apoio dos colegas de trabalho. "Não há uma solidariedade e apoio efetivo. Há um discurso, mas na prática nem a minha fala é garantida. Os projetos são sistematicamente reprovados. Ofensas são permitidas para mim, mas não para outros parlamentares", aponta.

A vereadora também afirmou que todo seu mandato vem sendo exercido com tensão, mas que piorou desde as eleições presidenciais. "É muito difícil. Pelo perfil das pessoas que estão nas manifestações, sabemos que são pessoas capazes de agredir, que eles andam armados", lamenta.

Ir para a Câmara, para mim, é um risco. Na verdade tudo. Todo meu direito de ir e vir foi prejudicado. Eu não almoço fora, tudo que eu tenho que fazer fora de casa ou fora da Câmara é sempre muito rápido, com cuidado. É uma insegurança muito grande"
Graciele Marques dos Santos, vereadora