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OPINIÃO

Toledo: Bolsonaro se arrisca a perder o controle do monstro que criou

Colaboração para o UOL, em Salvador

01/12/2022 20h20Atualizada em 02/12/2022 10h39

Recluso desde o dia 30 de outubro, quando perdeu o segundo turno da eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) já indica, segundo o colunista do UOL José Roberto Toledo, que pode não assumir o papel de líder da oposição ao petista no próximo governo.

Questionado sobre "qual é o preço que Bolsonaro paga pelo seu silêncio?", durante a edição de hoje do programa Análise da Notícia, Toledo afirmou que o atual chefe do Executivo "se arrisca a perder o controle sobre o monstro que ele próprio criou".

"Estamos vendo sinais de que tem muita gente do entorno dele muito incomodada com esse silêncio. Não pelo silêncio em si, mas pelo vácuo que ele está criando.[...] Não existe vácuo em política. Se você não ocupa o espaço, alguém vai e ocupa por você. A gente está vendo algumas pessoas se 'arvorando' a ocupar o espaço que o Bolsonaro está deixando", avaliou o colunista.

Ainda durante o programa, Toledo citou o vídeo que circulou nas redes sociais no último final de semana, quando o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) pediu para que Bolsonaro falasse com o "seu povo", durante cerimônia do Aspirantado 2022, promovida pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Essa foi a primeira participação do mandatário em uma agenda oficial depois do resultado das urnas, em 30 de outubro.

"Mourão ficou praticamente empurrando o Bolsonaro para ele falar com as pessoas que estavam lá por causa dele, o público de modo geral, os manifestantes, golpistas, e ele não foi. Nessa semana teve o jantar do Bolsonaro com a bancada de deputados do PL na Câmara, no Dom Francisco, lá em Brasília, e de novo foi incitado ali a falar com as pessoas que estavam esperando por ele na porta do restaurante. Não falou. E também não falou nem para os deputados dentro do restaurante", acrescentou o jornalista.

Para Toledo, a maior "prova" de que Bolsonaro "abriu mão" de ser o chefe da oposição foi a ordem para suspender o pagamento do orçamento secreto após o PT (Partido dos Trabalhadores) fechar apoio à reeleição do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

A movimentação, segundo o jornalista, vai atrapalhar os planos do seu próprio partido, o PL, na articulação com Arthur Lira para comandar a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, além de ter o apoio do petista a um eventual candidato liberal à disputa da presidência do Senado.

"O que sobrou para o Bolsonaro? Sobraria para o Bolsonaro chefiar a oposição ao Lula, mas, para isso, ele precisaria ser outra pessoa. Não o Bolsonaro. Ele nunca chefiou ninguém no Congresso. Ele nunca conseguiu fazer uma articulação. Ele nunca foi capaz de montar uma base. Ele sempre terceirizou esse trabalho. O que a gente viu agora? A maior prova de que ele abriu mão de ser o chefe da oposição, foi esse ato de pirraça que o Estadão noticiou, de que ele suspendeu o repasse do dinheiro do orçamento secreto agora no final do governo. Oito bilhões de reais em represália ao fato de o Arthur Lira ter fechado um acordo com o Lula", completou.

Toledo reforçou, ainda, que Bolsonaro vai manter seus eleitores mais radicais, no entanto, perderá os "antilulistas" e "antipetistas" que não compactuam com um eventual golpe militar. "Quem vai pegar isso? São os bolsonaristas que têm caneta. Potencialmente seria o Tarcísio de Freitas, que não vejo muito jogo político, mas tem lá o Kassab, que pode transformar o Tarcísio numa marionete. Você tem o Zema, talvez. Você tem o Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Não sei, vai aparecer alguém. Eu acho que esse vácuo vai ser preenchido", concluiu Toledo.

O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa: