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'Estamos do mesmo lado', diz cotado para Agricultura sobre Meio Ambiente

Do UOL, em Brasília

02/12/2022 04h00Atualizada em 02/12/2022 15h07

Cotado para ser ministro da Agricultura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) afirmou, em entrevista ao UOL Notícias, que a pasta estará do mesmo lado que o Meio Ambiente e que a resistência do agronegócio ao presidente eleito está cada vez menor. Sobre o que mais o senador falou:

  • a estratégia de reaproximação entre o agro e Lula
  • o espaço do PSD, comandado por Gilberto Kassab, na Esplanada
  • a negociação com ambientalistas para tentar aprovar o PL do Veneno no Congresso

UOL - Como foi a reunião que o PSD teve com Lula?

Carlos Fávaro - Ele convidou a bancada para apoiar, em um primeiro momento, a aprovação da PEC de transição, o que é fundamental. Firmamos o compromisso [de apoiar a PEC], que é importante para a governabilidade. Fomos convidados para fazer a base aliada do governo — algo que já está bem avançado. É uma tendência natural o PSD fazer parte da base aliada.

O PSD vai votar a favor da PEC da transição? Há uma previsão de data para a votação no Senado?

Deve votar na quarta (7) na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça]. O PSD chegou a um consenso de aprovação da PEC, que vai dar governabilidade. Temos políticas públicas dependendo disso. A PEC vai dar todas essas soluções. O PSD fechou questão na importância dela, e vamos debater o prazo de vigência da proposta, mas com o compromisso de que tudo que será necessário será aprovado pelo PSD.

Há esse mesmo compromisso com a bancada da Câmara?

Nossa reunião com o presidente Lula foi com lideranças do Senado e da Câmara. O líder da Câmara, Antônio Brito (BA), conduziu a reunião [pela Casa] — e o senador Otto Alencar (BA), pelo Senado [o líder do PSD, Nelsinho Trad, não estava em Brasília]. Foi uma conversa amistosa, mas um compromisso de ajudar o Brasil.

Petistas defendem a formação de bloco com o PSD e com outros partidos de centro independentes ao governo de Jair Bolsonaro. O partido pode fechar com o PT?

Não, o PSD não tem a tendência de formar blocos. Temos tendência de fortalecimento da bancada mas sem formação de bloco.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) vai tentar a reeleição. O senhor acredita que ele conseguirá vencer a disputa?

Sim. Ele foi importante para a manutenção da democracia brasileira. Isso o credenciou muito como um presidente que ouviu todas as bancadas, que pautou assuntos importantes para o Brasil. Criou a bancada feminina, além de ter uma grande bancada, grandes aliados. Considero favorito para vencer.

Quais são os principais desafios na Agricultura no governo eleito?

Temos alguns assuntos importantes, entregamos relatórios para a equipe de coordenação-geral [da transição]:

  • seguro agrícola,
  • biocombustíveis e
  • matriz energética -- tema correlato ao Ministério de Minas e Energia, mas que tem tudo a ver com agricultura.

Produção de etanol, o programa do biodiesel criado por Lula, é fundamental na formação dos preços tanto da soja como das gorduras animais e das rações.

Há um conjunto de assuntos transversais que serão colocados como prioridades, esses setores são alavanca para a estabilidade econômica e para baixar o preço dos alimentos.

Quais seriam as três propostas prioritárias para o primeiro ano de governo?

Diria mais ainda, quatro ou cinco. Seguro agrícola, política dos biocombustíveis, fortalecimento das relações internacionais — o presidente Lula é mestre em fazer isso, já tem dito que vai percorrer o mundo abrindo o mercado —, recurso para equalização de taxas de juros para pequenos e médio produtores e um plano de agricultura sustentável, que respeita o meio ambiente.

O PL do Veneno foi retirado de pauta do Sendo a pedido da transição. Foi o primeiro desafio do governo eleito de unir Meio Ambiente e Agricultura numa única pauta?

O presidente Lula teve um debate importante parecido com esse no início do [primeiro] governo dele [em 2003], porque discutia-se muito a produção de transgênicos, e os ambientalistas eram contrários. Mas já existia o plantio de transgênicos contrabandeado da Argentina, precisou de diálogo e decisão técnica.

Lula foi quem criou o CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança], com técnica e pesquisadores com a ciência estabelecendo aquilo que pode e que não pode. Aumentamos a produção, mas garantimos segurança alimentar, da saúde e do meio ambiente.

Chega de novo, no início deste governo, o debate do projeto dos pesticidas.

Não dá para dizer que ninguém quer usar produtos cancerígenos. Esse conjunto de ações tem que ser debatido nesse projeto de lei sempre respeitando o meio ambiente, Estamos todos do mesmo lado, vamos só ajustar a forma.

É possível que o texto seja alterado com as demandas do Meio Ambiente?

Claro. É na política que a gente resolve, ouvindo também as áreas técnicas.

O texto pode ser votado ainda neste ano?

Pode ser, se conseguirmos entendimento. Vamos dar prioridade para debater e votar esse assunto. Se não terminar neste ano, no início da próxima legislatura com certeza [terminará].

Como tem a negociação para tentar reduzir a resistência do agro em relação a Lula?

A eleição é o momento propício para a escolha e o engajamento por uma candidatura ou por outra. Mas a eleição acabou, e temos que voltar para o racional. Percebo [isso] muito forte em vários setores, principalmente nas entidades representativas da classe.

Seus executivos percebem que o presidente eleito é Lula, pela força do voto, e começam a aceitar: "independentemente da posição dos nossos associados, ele é o presidente, e temos interesse nas políticas públicas que fortaleçam o agro". E isso vem acontecendo. Abrimos as portas para que entidades setorizadas viessem falar na transição, [sobre] os seus problemas, as suas dificuldades e as sugestões. Tenho certeza de que o racional voltará a fazer parte do diálogo e de que o governo Lula vai dar muita atenção à agropecuária.

O senhor é um dos cotados para o Ministério da Agricultura. Como estão essas conversas?

O ministério, como o vice-presidente [eleito] Geraldo Alckmin [PSB] diz, é um mistério. A conversa existe, os partidos estão dando apoio ao governo — que nós ajudamos a ganhar e precisa da gente para ajudar a governar. Mas tudo na hora certa, com muito diálogo interno, e onde o presidente Lula precisar, vou cumprir meu papel. Se for no Senado, ele vai poder contar comigo. Se for em outra estratégia, vai poder contar comigo da mesma forma.

Tem um prazo para a indicação dos ministérios?

O prazo é 1º de janeiro. Eu acredito que, após a apresentação dos relatórios das equipes de transição, prevista para até 12 de dezembro, [Lula] terá um diagnóstico e deverá começar a fazer os convites e ter indicações formalmente. Até lá, o campo é de diálogo.